Gostaria que você estivesse aqui – Fernando Scheller

Para aqueles leitores que adoram abraçar uma boa nostalgia, esse é o livro perfeito. Mais que isso. Esse é o tipo de obra que evoca sentimentos e sensações que não apenas os saudosos compreendem, mas todos aqueles que sentem a ‘ausência’ de algo, alguém.


Nome: Gostaria que você estivesse aqui
Autor: Fernando Scheller
Páginas: 318
Editora: Tag Inéditos do mês de Maio de 2021

Sinopse: O surgimento e a ascensão do Rock Nacional com clássicos que perduram até os dias atuais, o aparecimento de uma doença aparentemente sem cura e que decretava a morte certa. Os anos 80 foi palco de muitas conquistas e muitas perdas; de muitas lutas e vitórias; de muitas mudanças na sociedade e no pensamento popular. É em meio a efervescência causada pelo furacão perpetrado nos anos 80 que a narrativa de cinco pessoas distintas se convergem em uma história que evoca os ares do Rio de Janeiro no calor da sua grande ascensão cultural.


Resenha: Gostaria que você estivesse aquiGostaria que você estivesse aqui” é aquele tipo de livro que eu acredito que você, leitor, vai gostar de ler no escuro, sabendo pouco sobre o que se trata a trama ou sobre os cinco protagonistas da obra. Isso porque, desnudar as camadas dessa narrativa aos poucos, compreender as suas nuances e acompanhar com afinco a jornada desses personagens é um deleite a todo leitor que aprecia uma boa história repleta de reflexões, nostalgia e profundidade.

Um livro escrito em camadas que detalha através do ponto de vista de cinco personagens distintos, mas, ao mesmo tempo, iguais, a ascensão de um Rio de Janeiro em pleno fervor dos anos 80. Uma cidade maravilhosa no qual surge os primeiros indícios do aclamado Rock Nacional, um lugar que no mesmo período sofre com a decadência provocada pelo aparecimento de uma doença fatal que pouco se sabia naquela década e que aparentemente não possuía cura ou tratamento.

Nesta obra, a nostalgia impera soberana.

“É mais difícil ser capturado quando se está em movimento.”

Uma narrativa que descreve com devoção as mais diversas referências de uma década, ao mesmo tempo em que explora com profundidade e afinco as nuances, medos, anseios e desejos de seus personagens. Pessoas distintas em todos os aspectos possíveis; idade, gênero e classe social, mas que possuem dentro de si uma chama que queima e os consome noite e dia; a ausência de algo, alguém, alguma coisa. Aquela vontade de expor ao mundo quem são e o o que desejam.

Um livro nostálgico que evoca o melhor da efervescência causada no…

Rio de Janeiro dos Anos 80

Porque se tem uma coisa que “Gostaria que você estivesse aqui” faz com maestria é evocar no leitor aquela sensação de anos 80, mas não uma década de 80 qualquer, mas sim a década de 80 do Rio de Janeiro.

Aqui o leitor se depara com famoso Circo Voador, o surgimento e ascensão inesperada do Rock Nacional com seus músicos e bandas que se tornaram imortais em nossos dias atuais e o aparecimento de uma doença fatal que ceifou inúmeras vidas jovens e de grandes ídolos do cenário do rock daquela década. O autor, Fernando Scheller, evoca de forma primorosa, a sensação de nostalgia, tanto no leitor que viveu esse período efervescente do Rio de Janeiro, quanto naqueles, que apesar de terem nascido depois, olham com agrado e devoção a década de 80.

“Quem já perdeu tudo está sempre pronto para atacar.”

Nessa narrativa a cidade maravilhosa ganha vida e muito possivelmente ecoa em uma voz constante e distante na trama. Afinal, embora o livro seja descrito através do ponto de vista de cinco personagens distintos, a obra é contada por meio da visão de terceira pessoa, o que fez com que essa leitora que vos fala, concluísse que o narrador que impera ao longo de toda a obra pudesse ser o próprio Rio de Janeiro.

Uma cidade que optou por narrar a trajetória de cinco pessoas que caminharam sobre suas orlas e calçadões; que observaram o pôr do sol na praia; descobriram os prazeres da juventude e a solitude da vida madura. A cidade maravilhosa tem muitas boas histórias para contar. E essa é só uma delas. Apenas um recorte de uma época de ascensão e decadência.

O surgimento da Aids

Um dos pontos mais relevantes de toda a narrativa de “Gostaria que você estivesse aqui” é o surgimento da Aids, afinal os anos 80 mundiais foram marcados pelo aparecimento dessa doença, que naquela década não possuía tratamento e se tornava uma lenta e dolorosa sentença de morte. Acompanhar um dos personagens principais adquirir o vírus e apenas esperar pela morte certa é um dos pontos mais dolorosos da narrativa.

Isso, porque a trama segue justamente a linha de evocar no personagem, e no leitor, o desespero de ter a consciência de que se está morrendo aos poucos, sem poder fazer absolutamente nada para impedir que a morte o alcance. É angustiante ler, mas, ao mesmo tempo, esse é o plot que mais apresenta reflexões pertinentes sobre vida, morte e, principalmente, sobre o preconceito que imperava nos anos 80.

“Os marcados para a morte tem, pelo menos, uma vantagem: podem dizer tudo o que querem e ser perdoados.”

Até porque, se hoje em dia ainda existe um grande preconceito contra portadores do vírus do HIV, mesmo que em nossa atualidade exista tratamentos eficazes que fazem com que a doença não progrida e se transforme na temida Aids, a forma mais grave e letal do vírus, imagina na década de 80.

É lamentável ler como a doença foi erroneamente associada a uma contaminação oriunda de relações homoafetivas e que apenas homens homossexuais podiam contraí-la, que o restante da população estava a salvo. É doloroso perceber o quanto a doença foi relacionada a uma punição divina pelos lideres religiosos da época, pessoas que diziam que amar era um pecado.

Infelizmente, uma triste realidade que ocorreu a pouco mais de 40 anos, mas que devido a ignorância de alguns, ainda existe nos nossos dias.

Relações pessoais e interpessoais

Porém, “Gostaria que você estivesse aqui” é um daqueles livros que aborda com profundidade e, até mesmo, crueza sobre as relações pessoais e interpessoais que as pessoas têm ao longo de suas vidas.

Aqui, acompanhamos o afeto e a amizade como grandes aliadas ao longo da narrativa, assim como conhecemos o companheirismo oriundo de um mesmo ponto em comum; a solidão entre pessoas que são semelhantes e ao mesmo tempo diferente. Cada um dos cinco personagens apresentados na obra tem suas próprias questões internas a serem resolvidas e devido a isso, se agarram uns aos outros como uma espécie de esperança que pode ajudá-las a solucionar esses dilemas.

“A atração física às vezes ignora barreiras de qualquer tipo, seja de classe social, seja de gênero, segue a natureza, apenas é o que é.”

O interessante nesse ponto, é perceber como as relações que temos com o outro e principalmente que temos com nós mesmos são importantes ao longo da nossa jornada como pessoa. Afinal, todas as nossas transições requer que tenhamos conhecimento de quem somos e de quem queremos ser.

Vale destacar, que embora sejam personagens distintos, todos tem aquela centelha de insegurança em comum possuindo suas próprias questões a serem desnudadas, tratadas e descobertas ao longo da trama. E é acompanhando a transição da juventude para a maturidade de César, Baby e Inácio ou mesmo da solidão da meia idade evocada em Selma e Rosalvo, que o leitor percebe que embora diferentes, todos os personagens são semelhantes em algum aspecto.

 

A ausência retratada na obra

Afinal, todos carregam a ausência dentro de si. Não aquele tipo de carência que se refere a perda de uma pessoa, mas aquela sensação evocada devido a falta de algo dentro de si; a vontade de ser aceito ou compreendido; o desejo de ter o que não consegue conquistar.

Cada um dos protagonistas convive diariamente com seu próprio dilema e tenta a todo custo maquinar as melhores formas para se tornar a melhor versão de si próprio e expor ao mundo seus sonhos, desejos e anseios.

“Cada alma tem sua própria narrativa.”

E embora, nem todos consigam, é fato que eles tentam ao longo de toda a trama encontrar seus verdadeiros caminhos, suas motivações, ou mesmo, seguir em frente apesar de todas as adversidades que encontram. Cada personagem aprende a aproveitar a vida, como se cada dia fosse seu último suspiro.

No fim, cabe ao leitor refletir sobre seus caminhos; sobre quem é e o que deseja ser;  seus sonhos, desejos e anseios. Seriamos alguém sobrevivendo a esse mundo caótico? Ou uma pessoa vivendo o que a vida pode nos oferecer de melhor?!

Após o desfecho amargo da obra, resta apenas ao leitor preparar uma bolsa e ir até a praia mais próxima para poder observar o pôr do sol. Afinal, nunca sabemos quando será o nosso último dia de vida.

Gostaria que você estivesse aqui” é uma obra que evoca a efervescência do Rio de Janeiro dos anos 80, trazendo a nostalgia do surgimento do Rock Nacional e evidenciando o desespero das pessoas que se viram infectadas pela Aids em uma década em que ser portador do vírus HIV era uma sentença de morte. Através do ponto de vista de cinco personagens, o leitor poderá observar o pôr do sol carioca em pleno verão, refletindo sobre a vida, a morte e suas próprias vivências.


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