Hex – Thomas Olde Heuvelt

Alerta de Gatilhos: Violência Física. Violência Psicológica. Maus tratos aos animais. Luto.

Aviso: Essa Resenha possuí Spoilers. Continue por sua conta e risco.

Uma história tenebrosa por mostrar como o ser humano, muita das vezes, constrói a sua própria maldição. Uma leitura com passagens assombrosas e imensamente gráficas, que consegue chocar devido a forma assombrosa com que o autor apresenta as mais diversas e aterrorizantes situações.


“A magia existe na mente daqueles que acreditam nela, não em sua verdadeira influência sobre a realidade.”

Nome: Hex
Autor: Thomas Olde Heuvelt
Páginas: 365
Editora: Darkside


Sinopse: Black Spring é uma pequena cidade situada no interior dos Estados Unidos que esconde seus segredos. Um local assombrado por uma maldição, uma cidade que não deixa seus habitantes partirem. O motivo; Katherine, a bruxa de olhos e boca costurados que perambula pelas ruas da cidade, assombrando seus habitantes. Em troca de que? Absolutamente nada.
Eis então que Tyler, um jovem cansado de viver preso na bolha de Black Spring resolve montar um site para denunciar as atividades da bruxa, afinal aquela maldição era segredo absoluto até então. Porém, as coisas não saem como esperado e a cidade se vê em uma teia amaldiçoada que pode levar todos à loucura ou mesmo à morte.


Esse é aquele tipo de livro que não apenas mexe com a mente do leitor, como também o faz refletir ao longo de toda a leitura sobre um tema de grande importância e relevância; o fanatismo religioso e como este pode fazer uma “lavagem cerebral” na mente de pessoas que se entregam ao medo e pavor.

Essa discussão, se deve ao fato de que o autor, Thomas Olde Heuvelt, faz um trabalho exemplar ao criar toda uma atmosfera paranoica acerca da cidade de Black Spring, inserindo na ambientação toda uma questão relacionada a superstições locais, bem como maldições que assombram os habitantes da localidade.

“A humanidade da bruxa era um mistério que ninguém havia até agora decifrado, bem como sua decisão de aparecer onde quisesse. Era isso que a fazia tão assustadora.”

É assim, que o escritor determina o clima perfeito para tornar seus personagens inumanos, guiados pelo próprio medo, se deixando levar a fazer coisas inacreditáveis apenas por prezarem pelo seu próprio bem. Fato é, que todas as atitudes perpetradas pelos personagens não apenas deixam o leitor ansioso e temeroso, como também causa aquele nítido sentimento de repulsa.

Ambientação

Uma das coisas que mais chama a atenção no livro é toda a ambientação sombria que corrobora com o clima de tensão e paranoia que exala pelo ar da pequena cidade de Black Spring. Um lugar rodeado por uma densa floresta e riachos cristalinos.

Uma cidade aparentemente normal que sobrevive com o turismo local e parece ter o tipo de população hospitaleira e sorridente, aqueles bons anfitriões que fazem de tudo para que os visitantes se sintam em casa. Porém, são nas pequenas cidades de interior que lendas e superstições nascem com mais força.

“Era melhor não olhar tão de perto. Mas agora ele conseguia sentir seu cheiro: o fedor de outra era, de lama e gado nas ruas, de doença.”

Porque quanto menor uma cidade, mais lendas e mistérios ela possuí. Acontece que toda a superstição de Black Spring é real e a maldição que assombra a mitologia do lugar se chama Katherine. Uma bruxa de olhos e boca costurados que vive vagando pela floresta, vielas e casas da localidade.

O interessante é perceber o contraponto da ambientação amigável e comum de uma cidade pequena com uma bruxa aterradora de aparência tenebrosa que vive a espreita, vigiando e atormentando os habitantes locais que temem que um dia a mulher consiga abrir seus olhos e possa declarar o fim de Black Spring.

Black Spring

Black Spring é uma cidade fictícia, mas, ao mesmo tempo, absurdamente real. Aqui, é evidente o fato de que a própria cidade é um personagem, medonho, mas que detêm grande importância e relevância nos acontecimentos tenebrosos que ocorrem em suas dimensões.

Aqui, conhecemos alguns personagens que fazem total diferença no desenrolar do enredo. Pessoas que vão desde os mais importantes se tornando protagonistas, até aquelas que se mostram antagonistas e detêm para si o cargo de causar caos nas dimensões de uma cidade assolada pelo medo constante que a bruxa exerce sobre ela.

“O povo vivia de acordo com regras restritas, porque acreditavam nessas regras e as aceitava sem questionar. As crianças se encharcavam dos mandamentos do Decreto de Emergência junto com o leite materno: Não te associarás à bruxa. Não deverás dizer uma só palavra sobre ela para pessoas de fora. Deverás obedecer ao regulamento para visitantes. E o pecado mortal: Não deverás jamais, sob circunstância alguma, abrir os olhos da bruxa. Essas eram regras criadas pelo medo.”

Ademais, é a própria cidade a principal causadora de todos os dissabores nos habitantes. Afinal, como várias passagens demonstram, é ela e seus próprios habitantes que estão doentes, que sucumbem ao medo e se deixam levar pelos seus instintos animalescos e tenebrosos, fazendo qualquer coisa para sobreviver ao caos.

É assim, devido ao medo de superstições, lendas locais e maldições adormecidas que uma das maiores discussões da narrativa se faz presente; o fanatismo religioso.

Fanatismo Religioso

E se estamos falando em bruxas e maldições, é claro que temos um dedo de fanatismo religioso na obra e isso é bastante evidente e discutido ao longo da trama, que apresenta o debate de forma simples, através da bruxa que é o tempo todo acusada e temida, mesmo que não faça absolutamente nada.

Fato é, que a vida de Katherine remete aos horrores perpetuados durante a Inquisição, em que mulheres eram assassinadas por serem consideradas bruxas pela igreja católica. A criatura de Black Spring é nada mais nada menos que um reflexo vivo do horror cometido nesse tempo e que não deseja vingança, mas sim reencontrar aquilo que perdeu, somente assim ela poderá descansar em paz.

“Os profetas do apocalipse contribuíram para a insegurança e o medo que domina as pessoas quando calamidades estranhas acontecem. Crianças nascem cegas, estranhos rastros de animais na lama, luzes no céu noturno… Quando as pessoas começam a acreditarem presságios, há uma grande ruptura na maneira como elas pensam e vivem.”

Mas, se estamos falando de uma obra que possuí essa discussão tão evidente, é fato que as coisas para Katherine não terminam bem, mesmo que no fundo ela não seja má. Afinal, as pessoas a temem, seja por sua aparência assustadora, ou mesmo devido a lenda tenebrosa de que ela consegue ressuscitar os mortos.

Entretanto, o debate em relação ao fanatismo religioso vai além. Thomas faz algo incrível quando introduz em pleno século XXI, reações tenebrosas em razão a castigos impostos as pessoas que desrespeitarem as regras da cidade. Castigos físicos e psicológicos que vão desde as prisões em masmorras subterrâneas, até chicotadas em praça pública.

HexApp

E uma coisa que se faz necessária de ser dita é o quanto a tecnologia se faz presente ao longo da trama. Black Spring é uma cidade do interior que possuí computadores de última geração, Wi-Fi e um aplicativo que monitora todos os passos de Katherine, deixando os habitantes locais de sobreaviso de onde a bruxa está e onde ela vai aparecer.

Claro, que como uma cidade que detêm um segredo tenebroso, as autoridades mantêm um regime de censura, controlando absolutamente todos os passos de seus cidadãos dentro da internet, bem como restringindo acesso a redes sociais e outros tipos de sites. Exatamente, Black Spring vive em um regime de censura.

“A necessidade humana primitiva de canalizar o medo, transformá-lo em raiva… e encontrar um bode expiatório. Era uma devoção que beirava o fanatismo, e estava acontecendo por toda a cidade.”

O interessante nessa construção tecnológica da cidade é percebermos que todos os horrores cometidos por humanos são feitos em pleno século XXI, mais precisamente no ano de 2012, fato que mostra que a sociedade não está nem um pouco evoluída como pensávamos estar e basta apenas um sopro de irrealidade, para que erros do passado voltem a ser cometidos.

Relação Pai e filho

Porém, mesmo sendo um horror, feito para assustar, a história detêm seus momentos de ternura, sendo os principais relacionados a relação paternal de Steve com seu filho mais velho Tyler.

Aqui, temos toda uma construção familiar que não se restringe apenas ao papel social de pai e filho, mas vai além, mostrando como essa relação pode ser construída em cima de uma amizade sólida entre ambos. É bonito ver como eles conseguem conversar sobre diversos assuntos, assim como é triste ler suas poucas desavenças.

“Não é loucura, pensou ele. É amor. Katherine havia lhe mostrado o que de fato era um sofrimento indizível. Apenas quando já sofremos podemos fazer escolhas por amor.”

Ademais, uma coisa que acho interessante mencionar, é que essa trama de pai e filho, lembra um pouco o relacionamento paternal entre Louis e Cage de “O Cemitério” de Stephen King. Inclusive, existe uma certa semelhança psicológica entre as resoluções finais de ambos. Mas veja bem, são apenas semelhanças no que se refere a psicologia empregada na construção do relacionamento entre pai e filho, as duas obras são infinitamente diferentes.

Aceitação da Morte

E como falei do final, vamos entrar em mais detalhes sobre o desfecho nesse tópico.

Aqui, somos brindados com um final que demonstra o desespero e a dor de um pai que acabou de perder o filho. Devastado, Steve recorre ao único meio que acha possível de poder trazer seu filho do reino dos mortos, é claro, que tudo acaba muito mal. Entretanto, não é uma escolha passível de condenação.

“Em vez disso, um pensamento muito mais mundano lhe ocorreu: que existiam momentos que ficavam com você para toda a sua vida, e quase sempre tinham a ver com vida e morte.”

Aqui, temos um exemplo significativo da não aceitação da morte, da barganha, daquele momento em que qualquer pessoa que perde um ente querido deseja uma forma de poder trazê-lo de volta. A dor é grande, mas a irrealidade das consequências dos atos não. Portanto, em nenhum momento condenei a atitude de Steve, mas o compreendi.

E uma coisa que é bastante interessante do desfecho, é o fato de que o autor faz o leitor se recordar de momentos específicos que foram apresentados no início, situações e diálogos que já premeditavam o final e as possíveis escolhas de Steve após a morte de seu adorado filho. Uma jogada de mestre.

O verdadeiro responsável

E por fim, temos um final arrebatador, daqueles que amedrontam devido à violência gráfica. Porque sim, a obra não tem um final feliz e nem poderia, não é mesmo?

Porém, é com a fúria humana ocorrendo e se desdobrando nos capítulos finais, que o leitor percebe e reflete que desde o início, Katherine nunca foi a vilã, mas sim toda a população de Black Spring que foi conivente durante anos com as atrocidades oriundas da inquisição.

“À medida que cada indivíduo cedia à histeria coletiva, Black Spring estava se deteriorando em um estado de insanidade. O que permanecia era um horror: a alma da cidade, que estava irreversivelmente enfeitiçada.”

Fato é, que o final terrivelmente massacrante é mais do que merecido. Afinal, todos sempre desprezaram a dor de Katherine pelo simples fato de que ela vivia por ali, vagando e amaldiçoando suas vidas. O triste, é que ninguém procurou entender suas motivações, apenas a julgaram e condenaram ao silêncio eterno.

Hex” é um ótimo livro de terror, daqueles com cenas gráficas que conseguem impressionar o leitor mais sensível. Além disso, é uma narrativa fluída que apresenta uma ambientação tenebrosa, recheada de loucura e superstições locais. Uma história que brinda o leitor com discussões pertinentes acerca da crueldade humana que aflora devido ao medo irracional.


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