Nihil – Carolina Mancini

Alerta de Gatilhos: Morte. Apocalipse. Desmembramento. Insanidade. Canibalismo. Suicidio.


Obra vencedora do Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica – Narrativa Longa de Horror 2019.

Relatos de um mundo em colapso devido a um apocalipse. Em desespero, as pessoas se isolam dentro de suas casas e sofrem por isso. Afinal, se isolar de todo um mundo, sem qualquer meio de comunicação pode ser enlouquecedor… Ou melhor, é enlouquecedor.


Nome: Nihil
Autor: Carolina Mancini
Páginas: 137
Editora: Publicação Independente


Sinopse: Uma névoa espessa assola algumas cidades do mundo, fazendo com que as pessoas tenham que se isolar completamente dentro de suas casas, visto que a neblina é altamente mortal, podendo enlouquecer e explodir membros e corpos inteiros. Logo a comunicação é cortada e as pessoas têm de passar a conviver com a incerteza de que dias melhores poderão nunca vir. Sem saber se é dia ou noite, cada sobrevivente tenta lidar com a situação da melhor forma que sua mente degradada permitir.


5Nihil” é uma espécie de diário de contos e relatos dos vários habitantes e sobreviventes de uma pequena cidade assolada por uma sombria fumaça acinzentada que massacra aqueles que tem contato com ela. Através de uma variedade de pontos de vistas e narrativas distintas, o leitor descobre uma trama original regada de um bom horror psicológico e visual.

Uma coisa a se destacar nessa obra é a habilidade da autora, Carolina Mancini, em transmitir ao leitor desespero e claustrofobia. As histórias narradas são tenebrosas exatamente por não darem esperança a seus personagens ou ao leitor, evidenciando que situações angustiantes, por vezes, requerem medidas desesperadoras.

Isso que aquela nuvem que desceu até a terra faz: nos desumaniza.”

E aflição poética define muito bem essa obra. Visto que aqui temos uma trama tenebrosa descrita de forma lírica, através de trechos e frases poéticos e belos de ler. E é a poesia empregada na narrativa que faz essa história apocalíptica deter uma beleza singular em cenas chocantes e apreensivas.

Resumindo, a leitura perfeita para os fãs do melhor do horror. Uma obra capaz de intimidar aquele que tiver coragem de ousar desbravar os mistérios sombrios que se escondem dentro de uma sinistra e espessa névoa acinzentada.

A trama

Vale destacar que “Nihil” não é um livro que foca em explicar de forma minuciosa os detalhes do que ocorreu na trama principal. Alguns capítulos até evidenciam pistas e informações pertinentes de como tudo começou, mas esse não é o foco da obra.

Isso porque essa é uma história que enfatiza os sentimentos e emoções de uma população que, de uma hora para a outra, tem de parar suas vidas porque coisas estranhas começaram a acontecer no lugar em que vivem. Ou seja, esse é um livro que ressalta como o desespero atua dentro da mente humana, destruindo qualquer perspectiva de melhora futura.

Vem à mente como tudo que era palpável foi destruído. Assim com a História sempre conta, cai por terra impérios, eras, lendas, e toda a verdade vai se esvaziando e as poucos não existe mais nada. O problema é que esse vazio nunca foi tão latente. Estamos todos subjugados, nos refugiando de algo que nem bem sabemos existir.”

Aqui, o leitor é apresentado a diversos personagens que narram um pedaço de seu dia, semana ou o início de tudo, o foco está em como cada uma dessas pessoas enxerga a situação e lida com ela. Personagens comuns e diferentes entre si, mas que estão interligados pelo antro de confusão que se perpétua fora de suas casas.

Nesse ponto, uma coisa a ressaltar é o fato de que a autora faz uma mescla incrível de pontos de vistas escritos das mais variadas formas. Um ótimo exercício de escrita, eu diria, pois temos relatos narrados através de diálogos, de discussões, de textos corridos por meio de fluxo de pensamentos e até mesmo de poesias e poemas.

Certamente, esse é um livro de horror único.

Desespero Claustrofóbico

E esse é o ponto chave para que “Nihil” funcione muito bem dentro do tema proposto pela autora.

Isso porque o leitor é absorvido por toda uma atmosfera bizarra e sombria, ficando a mercê de uma trama que, no mínimo, pode ser classificada como claustrofóbica e desesperadora. Assim como os personagens apresentados, o leitor se vê preso dentro de um quarto ou uma casa, compreendendo a situação da pessoa que relata seus dias, entendendo seu desespero e acompanhando as decisões impulsivas e angustiantes tomadas em momentos de aflição.

A escuridão amarela que ficou do lado de dentro. Parece mentira que isso tenha acontecido. Nunca mais liguei as luzes. Não existe sol lá fora que consiga chegar aqui dentro e, no entanto, enxergo, bem amarelinho, como se eu fosse um retrato velho, malcheiroso, esperando o tempo me devorar.”

Aqui, cada história é única e evidencia como o ser humano é diferente e possuí as mais diversas reações ao se deparar com situações complicadas, com o desconhecido. Ações e reações que vão desde as mais radicais como tirar a própria vida ou mesmo as mais macabras e tenebrosas como o canibalismo. Afinal, sem os suprimentos necessários dentro de casa, resta apenas os cadáveres de parentes que viviam sob o mesmo teto.

O interessante nesse ponto, é perceber que o leitor pode se sentir acuado e angustiado a ponto de não conseguir formular um julgamento frente as decisões dos personagens, restando apenas a opção de tentar compreender, se colocar no lugar da pessoa, pensar se faria diferente, e ao mesmo tempo, se sentir impotente por não poder ajudar.

Essa obra causa tanto uma sensação de impotência, quanto de desespero.

E eu adorei isso!

Escrita poética

Acredito que um dos pontos que mais funciona e contrapõe toda a narrativa de “Nihil” seja a escrita poética da autora.

Isso porque, aqui temos um mundo sem esperança de que dias melhores virão. Personagens que perderam a perspectiva de vida. Uma história regada de desespero e claustrofobia. No entanto, toda essa aflição é exposta através de uma narrativa poética que consegue tornar, até mesmo, as cenas mais perturbadoras em relatos belos de serem apreciados.

Tudo agora tem o inóspito gosto de pó. Pó de solidão e velhice precoce como o meu coração seco.”

A escrita lírica funciona muito bem nessa obra, pois serve como o contraponto perfeito com tudo que está acontecendo ao longo da trama. Descrições poéticas que evidenciam trechos bizarros por meio de uma cadência de palavras que os torna agradáveis de ler.

Sim, é tenebroso. Sabe porque?! Porque em diversas passagens macabras, o leitor se depara com aquela veia poética que torna a trama mais assustadora ainda. É assim que esse livro sufoca, evidenciando a beleza em momentos lúgubres e destacando com lirismo situações asquerosas.

Esse recurso, funciona muito bem para captar a atenção do leitor e mais ainda para deixá-lo horrorizado frente a alguns trechos que são no melhor dos termos; aterrorizantes.

O desfecho

E claro que uma trama tão bem intrincada como essa não poderia ter um final fácil de ser solucionado, algo que fosse palpável e aceitável pelo leitor.

Então, se você não gosta de finais parcialmente abertos, essa não é a leitura para você. Visto que aqui não vamos ter aquele final fechadinho dizendo “E deu tudo certo” ou “E deu tudo errado”. Porque a trama inteira é bastante clara ao evidenciar que naquele período em específico não existe uma solução possível.

Mas será mesmo?!

Fizeram uma fogueira com o que restava de humanidade, com qualquer esperança, cara. E tudo que está lá fora, impedindo qualquer um de sair, é essa fumaça.”

Fato é, que a autora não cria um final para satisfazer seus leitores; ela opta por idealizar um final coerente com sua obra, apresentando um desfecho amargo que não responde perguntas, mas também não abre novas dúvidas, o encerramento condizente da situação apresentada em todo o livro.

Eu diria que é um final digno e satisfatório para uma trama que desde o início evidencia o quanto o inexplicável é totalmente complexo para nós, seres humanos.

Nihil” é uma leitura desesperadora e claustrofóbica que evidencia que situações aflitivas requerem medidas desesperadas. Através de uma escrita altamente poética e bela, o leitor se depara com uma trama amarga e lúgubre, mas que detêm aquela centelha de esperança. Afinal, se ainda estamos vivos, é porque podemos ter fé.


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