Uma história que tem o poder de transportar o leitor para um mundo que ao mesmo tempo que se assemelha, se difere completamente do nosso. Através de um enredo cativante capaz de quebrar a barreira imposta pela quarta parede e se comunicar diretamente com o leitor, Yamesh é a pedida certa para aquele leitor que procura uma história diferente, repleta de referências Geeks e batalhas audaciosas.

Nome: Yamesh
Autor: Feu Franco
Editora: Publicação Independente
Páginas: 446
Nota: 4,0
Sinopse: Após seu computador pifar justamente na noite em que teria que terminar um trabalho, Austin, um jovem programador, resolve se cadastrar em um aplicativo de encontros e é dessa forma que ele acaba conhecendo Shay Ann. Uma mulher incrivelmente bela, independente e segura de si, que após um beijo atrevido em um beco e um quase assalto, o chama para conhecer seu apartamento. É aí que as coisas ficam estranhas, já que, em um momento nada oportuno, Austin acaba escorregando no tapete do quarto da moça e cai batendo a cabeça no chão e indo parar em um mundo paralelo chamado de Yamesh.
Yamesh é aquele tipo de livro que faz o leitor embarcar em uma viagem fantástica rumo a um mundo exótico repleto de aventuras e perigos. Através de uma narrativa em primeira pessoa repleta de referências e tiradas de bom humor, a leitura flui de forma agradável, tornando a experiência imersiva e instigante. É o tipo de enredo que faz com que o leitor se perca perante as palavras e que faz o tempo voar sem ser notado.
Essa naturalidade com que a leitura caminha é um mérito exclusivo de Feu Franco, que desenvolveu com maestria uma ficção científica nacional que possui elementos apropriados para tornar a trama eletrizante.
De início, e principalmente por se tratar de um livro de ficção científica, a trama se revela um tanto complexa, exigindo do leitor um pouco de paciência e atenção para que o mesmo consiga se habituar com os termos empregados durante a obra e que fazem a diferença para que todos os pontos soltos da narrativa se conectem ao final.
A criação de mundo
Uma das coisas que certamente chama a atenção em “Yamesh” é o sistema de mundo desenvolvido por Franco. Yamesh é um lugar que possui suas próprias regras, convenções, religiões, crenças, sociedades, seres nativos e até mesmo termos próprios. Um local que se difere e ao mesmo tempo se assemelha ao nosso próprio mundo.
Toda essa criação de mundo é muito bem apresentada pelo autor, que estrutura de forma atrativa e palpável elementos que fazem do seu universo criado condizente com a história apresentada e ao mesmo tempo um espelho de nosso próprio mundo.
“Se as pessoas começassem a me achar maluco em Yamesh, eu podia ser o primeiro a conseguir o título de ‘O pirado de dois mundos’.”
Existe uma conexão muito forte entre os mundos de Yamesh e Malek (como é chamado o nosso mundo). Essa conexão é como se fosse uma espécie de espelho que reflete uma contra parte de todos os seres humanos que vivem na terra, como se fosse uma espécie de “Multiverso”.
E apesar da teoria do “Multiverso” só ser revelada próxima ao final do livro, é perceptível desde o inicio que estamos lidando com uma realidade paralela em que as coisas são similares porém com sutis diferenças.
A barreira quebrada
Por ser um livro de ficção científica que tem como premissa a evolução da consciência humana e a capacidade cerebral o autor “brinca” de forma hábil com essas questões científicas durante a narrativa. E em vários momentos o leitor é pego de surpresa pela famosa “quebra da quarta parede” quando o protagonista, Austin, se dirigi diretamente a nós.
Essa quebra de barreira é de suma importância ao longo do livro, pois serve não apenas para criar um elo maior entre leitor X personagem, mas também para explicar determinadas situações ou mesmo apresentar fatos e evidências que não são tão claras.
“Os mundos não são em preto e branco… Sempre há outras alternativas, assim como uma infinidade de cores.”
Em vários momentos do livro, Austin, o protagonista, tenta persuadir o leitor de que tudo que ele narra é real. E acredite, até a última página iremos ser confrontados pelo personagem que afirma estar na nossa mente e que só estamos conhecendo sua história porque ele assim determina. Ele literalmente se comunica conosco.
Francamente, isso é genial. Um recurso que torna a experiência de leitura extremamente rica e detalhada. Tornando possível para o leitor suspender suas descrenças e adentrar nas páginas do livro para desbravar o maravilhoso universo criado por Franco.
Antropologia de Yamesh
Uma das coisas que mais chamou minha atenção durante a leitura, foi a forma com que o autor criou a questão antropológica em relação a como os diferentes povos de Yamesh convivem.
Se por um lado temos um povo que vive na base extrema da “comunidade“, nada é de ninguém e tudo é de todos, existindo de forma equilibrada através da partilha de bens. Por outro temos um povo que preza pela liberdade individual.
É através dessa sútil diferença de vivência desses povos que o autor aborda a questão antropológica e social ao longo da narrativa, opondo uma visão à outra e criando sociedades que se diferem, o que faz com que o protagonista reflita sobre as diversas formas de vivência aplicadas pelos povos de Yamesh e como seria se essas políticas fossem aplicadas em Malek (Terra).
Toda essa abordagem antropológica me lembrou o livro “Leviatã”, escrito por Thomas Robbes e publicado em 1651. Um texto em que o autor discute as várias formas de viver em uma sociedade, destacando os prós e contras de cada uma e como elas afetam individualmente um indivíduo em sua totalidade.
Fab Five
É claro que temos que mencionar os personagens desenvolvidos na história e tornam esse um livro de desenvolvimento excelente.
O núcleo principal que compõe a narrativa e até os secundários são extremamente bem construídos e desenvolvidos pelo autor. São personagens profundos que conseguem cativar o leitor devido suas peculiaridades, excentricidades, dilemas e questões morais. Personagens humanos, reais e que evoluem gradativamente ao longo da trama.
“Você ganha forças, coragem e confiança a cada experiência em que enfrenta o medo. Por isso, tem que fazer aquilo que acha que não consegue.”
Um segundo ponto que chamou minha atenção foi o laço afetivo que une o núcleo principal. Os personagens funcionam muito bem separadamente e em conjunto, visto que, os dilemas e questões morais internos que são desenvolvidos ao longo da narrativa se mesclam com a personalidade um dos outros. Assim, quando os vemos interagir entre si, seja em uma conversa ou mesmo durante um combate, vislumbramos aquele fio de união e lealdade que os conduz.
Protagonista gente como a gente
E, devo dizer, que Austin é um dos melhores protagonistas que já li em um livro. No melhor dos termos podemos afirmar que ele é “gente como a gente”. Um rapaz sonhador, jovem, repleto de planos e que… bem… praticamente vive tomando rasteira da vida. Se identificou? Eu sim.
Logo de início percebemos que Austin é um homem inteligente que trabalha como programador (escravo) de uma empresa. E ainda nos primeiros capítulos ele é surpreendido com um computador dando “piti” e um encontro fracassado que termina com ele desmaiado após escorregar no quarto de uma garota. Resumindo, o cara é gente fina e gente boa como eu e você ou como algum amigo que possamos conhecer.
“Parecia aquele momento em que você está de frente com uma prova de múltipla escolha e vai ter que chutar uma questão. Então tende a marcar a letra A, mas o seu instinto lhe diz para escolher a letra C.”
Na minha opinião, esse sem dúvida é o ponto forte que faz com que o leitor se conecte perfeitamente com história e crie empatia pelo personagem. As desventuras que ocorrem logo de início na vida de Austin fazem com que seja possível sentir uma comoção por ele e torna as suas descobertas interessantes de acompanhar.
Um segundo ponto que torna o personagem cativante é o seu apurado senso de humor. Austin possui um espirito livre e desapegado, sua forma de ver o mundo e o jeito leve com que conduz as melhores e piores partes de sua vida dão um gosto a mais na leitura.
Tudo que é demais enjoa
“Yamesh” é um livro incrível. Isso é incontestável. No entanto, existe algo que particularmente me incomodou bastante durante a leitura por eu ter achado “excessivo” demais.
Fica claro desde o início da trama que Austin é aquele tipo de personagem que identificamos como “Geek”. E como a história é narrada através do ponto de vista dele, em vários momentos temos uma sacada mirabolante do rapaz que acaba comparando algum acontecimento com algo do universo “Nerd”.
“Pronto! Agora ele vai respirar como o Darth Vader, colocar os óculos do Agente Smith, apontar o anel de Sauron, tirar uma manopla do infinito do… bolso, estalar os dedos e dar aquela risada macabra do Coringa ao revelar seus planos.”
Apesar dessas referências terem proposto uma nostalgia imensa para mim, devo mencionar que esse pode ser um grande problema para leitores que não conhecem tanto do universo “Geek”. Afinal, muitas das vezes uma referência me passava batido e eu não entendia.
Apesar delas não interferirem diretamente na compreensão da trama, devo admitir que em alguns momentos me senti bastante incomodada quando o autor optou por suprimir algumas descrições para citar uma referência que lembrasse ou desse um norte ao leitor do que Austin estava visualizando…
Acredite, isso se torna um problema quando o leitor não sabe e nem faz ideia do que o autor esteja falando e pode se tornar um imenso empecilho para a finalização da obra. Sem contar que as referências excessivas acabam tornando o texto um pouco menos dinâmico e mais satirizado. Muito embora, devo admitir que Austin sabe exatamente quando e onde as piadinhas devem ser feitas.
“Yamesh” possuí uma história cativante que consegue conduzir com maestria o leitor ao universo apresentado. Universo esse, composto por aventuras extraordinárias, lutas épicas, romance e valores preciosos sobre amor, amizade, coragem e lealdade. Uma obra que é, sem dúvida, um prato cheio para leitores ávidos por uma boa história de ficção científica nacional.
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