Resenha do livro "Entre Irmãs"

[Resenha] Entre Irmãs – Frances de Pontes Peebles

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Uma leitura que expõe com profundidade como o laço fraternal é o tipo de conexão capaz de transpassar todas as barreiras da distância.

Nome: Entre Irmãs
Autor: Frances de Pontes Peebles
Páginas: 572
Editora: Arqueiro

Sinopse

Órfãs de pai e mãe, as irmãs Luzia e Emília cresceram em meio a seca do sertão nordestino. Criadas pela tia, elas aprendem desde cedo o ofício da costura e se tornam duas exímias costureiras. No entanto, tudo muda quando Luzia foge com cangaceiros e Emília opta por viver a sua vida em Recife. Mesmo distantes, a conexão e o elo entre elas se provará mais forte que qualquer outra coisa.

Resenha do livro "Entre Irmãs"

Detentor de uma história emocionante e bela, neste livro acompanhamos a trajetória de duas personagens diferentes unidas pela união fraternal. Em meio as dificuldades da vida, perdas, desilusões, medos e amores, essas irmãs se provam fortes através do contexto histórico conturbado em que vivem, sempre pensando e admirando uma a outra.

Porque o elo principal dessa trama é o amor incondicional proveniente da irmandade dessas moças.

É lindo ler e acompanhar a ligação que as une, perceber como, mesmo separadas, elas torcem uma pela outra, se preocupando e se comunicando, de forma indireta, através de notícias nos jornais ou mesmo por conhecidos em comum.

Mas, no sertão, a vingança era coisa sagrada. Era um dever, uma honra. Até aqueles que temiam os cangaceiros como ladrões os respeitavam como homens.

Sem dúvida, uma relação capaz de provar as dimensões e belezas existentes no amor entre irmãos. Aquele tipo de conexão ligada eternamente pelo fio do destino.

Repleto de traições e momentos frenéticos de ação descritos por meio dos embates de coronéis contra o cangaço, essa é uma narrativa detentora de um contexto histórico exemplar. É nítida a pesquisa feita pela autora, Frances de Pontes Peebles, para evidenciar um tempo onde o nordeste se encontrava a mercê destes justiceiros e o Brasil passava por uma das maiores transições políticas da história.

Ademais, essa é uma obra que fala sobre laços familiares e principalmente sobre a importância e as consequências de nossas escolhas.

Admiráveis Mulheres

Preciso começar essa resenha falando sobre como o relacionamento entre Luzia e Emília me cativou.

Aqui temos duas moças que crescem em meio as dificuldades provenientes no sertão. Órfãs de pai e mãe, as meninas aprendem o ofício de costureira com a tia e desde jovens trabalham para ajudar a sustentar a casa, mas sempre detendo sonhos e esperanças de uma vida melhor ou de uma mudança vindoura.

As más costureiras estão sempre criticando as máquinas. Ou as agulhas. As boas simplesmente costuram. Acho que é a mesma coisa com as armas. Essa história de dez ou doze é para quem não tem pontaria.

Através desse cenário, elas se tornam mulheres fortes capazes de lutar pelo que acreditam e por quem amam.

Nesse ínterim, ressalto o quanto a costura se mostra um elemento fundamental na construção das protagonistas, sendo não apenas o elo permanente entre uma e outra, como também a responsável por moldar as percepções de mundo e o caráter das moças. É inclusive o ofício de costureira que muda a vida dessas jovens para sempre, evidenciando como o destino escreve certo por linhas tortas.

Cada protagonista possuí uma personalidade diferente, mas ambas são parecidas em suas formas de pensar e agir. Essa diferença corrobora para compreendermos a forma de perceber o mundo de cada uma. Afinal, é a trajetória marcante as dificuldades vívidas por elas que as tornam fortes e guerreiras, cada uma a sua maneira.

Tanto Emília quanto Luzia são admiráveis por defenderem seus ideais e propósitos e, ao mesmo tempo, prezarem pelos laços fraternais que as une. E mesmo detendo trajetórias distintas, cada uma possui as suas próprias lutas. Luzia pelo povo e Emília pelas mulheres.

Eu mentiria se dissesse que não as amei.

Um passado não muito distante

Uma das coisas que mais chamou a minha atenção ao longo da leitura foi o contexto histórico apresentado pela autora para constituir o pano de fundo da narrativa.

Veja bem, aqui somos apresentados ao interior de Pernambuco dos anos de 1928, mais precisamente a uma cidadezinha chamada Taquaritinga do Norte, um local castigado pela seca e dominado por coronéis, é nesse cenário que conhecemos as protagonistas, Luzia e Emília, duas jovens costureiras. Para além, nesse ponto a trama também nos apresenta os temíveis cangaceiros.

Heróis ou vilões? Eis a questão.

Havia três tipos de cangaceiros: os que entravam por vingança; os que entravam para escapar a alguma vingança e os que eram simplesmente ladrões.

O enredo destrincha tão bem a essência destes salteadores que para nós essa questão é bem pertinente ao longo da leitura.

Homens que lutavam de forma violenta por uma mudança, pela liberdade, pelos seus direitos. Pessoas cansadas das crueldades e injustiças perpetradas pelos coronéis ao longo de tantos anos. No entanto, eram justiceiros conhecidos por revidar morte com morte.

É exatamente a essência do ditado “olho por olho, dente por dente”.
Mas, até que ponto eles estão errados ou certos?


Não quero defender um lado nem nada do tipo, apenas expor o quanto essa leitura consegue nos apresentar um contexto histórico quase esquecido, nos fazendo tentar compreender as motivações destes homens, evidenciando seus lados, mas sem defender um ponto de vista.

Este livro apenas expõe fatos e apresenta personagens cruéis em suas atitudes, porém detentores de um carisma que torna impossível não se afeiçoar a eles.

O início da Era Vargas

Mediante a isso, o contexto político responsável por mover a trama é tão exemplar quanto a forma como a autora nos apresenta o sertão e os cangaceiros.

O enredo se passa na época em que o Brasil sofria uma transição governamental, Getúlio Vargas estava se candidatando e prometendo mudanças capazes de provocar um futuro melhor para o país. Dito isto, a trajetória destas irmãs se choca com todas as mudanças orquestradas por este cenário diplomático.

As imagens podem mentir, elas capturam apenas um instante e nunca revelam toda a verdade.”

Enquanto Luzia, como uma cangaceira e não apoiante das ideias de Vargas, faz de tudo para iniciar uma revolução contra aquele que vem a se tornar presidente; Emília, por estar casada com um homem de certa influência no meio político, se vê integrada no meio da alta sociedade, lutando por direitos femininos e se tornando uma mulher de certa influência dentro desse novo governo.

Esse é o grande pano de fundo da obra responsável por expor os dois lados da moeda e nos fazendo compreender um pouco mais sobre a construção política do nosso país. Esse ponto em específico deve ser exaltado, pois todo essa conjuntura é muito bem trabalhada e demonstra de forma impressionante a pesquisa extensa feita pela autora.

Resumindo, esse é um livro amplo, com uma carga de informações valiosíssimas sobre a história do Brasil. Uma obra detentora de um drama familiar belíssimo, que nos mostra como a relação afetiva entre irmãos é um laço eterno, inquebrável e inseparável.

Avaliação: 5 de 5.

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