Sabe aquele tipo de livro que o autor começa devagar, plantando uma sementinha aqui e outra ali, para enfim fazer a explosão acontecer e a narrativa pegar o leitor de jeito?! Esse é o livro!
Nome: Politicamente Amor
Autor: Isamara Gomes
Páginas: 800
Editora: Publicação Independente
Sinopse: Maya é uma psicóloga que está fazendo mestrado e atuando na profissão na cidade de Brasília. Eis que um dia, ao finalizar o atendimento de um cliente inusitado, um acidente faz com que ela tenha de se tornar a “namorada” de Gaius, filho do ex-senador Otávio. É nesse meio político e conturbado, através de um relacionamento falso, que a psicóloga vai permitir se conhecer, como também se entregar a uma paixão intensa e avassaladora.
“Politicamente Amor” é aquele tipo de livro lento, um romance que demora a ser construído, mas que é desenvolvido de forma exemplar pela autora, Isamara Gomes. Aqui o leitor se depara com o famoso clichê de “Fake Dating” unido a um Slow Burn construído de forma primorosa.
Apesar de lenta, a narrativa evidencia como um relacionamento saudável é formado com base na confiança e no companheirismo mútuo entre o casal.
Através desse desenvolvimento sem pressa da personalidade e do romance dos protagonistas, a autora consegue criar coadjuvantes cativantes, que ganham seu espaço na narrativa agregando a trama. Aqui, todos possuem suas camadas e personalidades muito bem expostas e definidas ao longo da obra.
“Um amor amordaçado seria apenas um grito silencioso de angústia. Às vezes nem nos damos conta de que estamos presos em gaiolas.”
Personagens que detêm uma certa complexidade e devido a isso, provocam as mais diversas reações no leitor, que pode se irritar com suas atitudes ou questionar decisões. Afinal, aqui temos a retratação de pessoas comuns e humanas, que possuem suas falhas, desejos, medos.
Ao final da obra, é praticamente impossível não se identificar com algum dos personagens expostos ao longo da narrativa, ou com seus problemas. Afinal, são eles que movem toda a trama.
Construção excelente
Acho que um dos pontos fortes de “Politicamente Amor” é a construção lenta da trama, já que a autora, Isamara Gomes, não tem pressa em contar a história de Maya e Gaius. Ela semeia seu livro, regando-o lentamente e aguardando que tudo floresça no tempo certo.
“Não podemos perder algo que não temos de verdade.”
Em uma opinião pessoal, eu gosto de narrativas construídas com mais calma, lentas e que propõem aquele estado de apreciação durante a leitura. E embora eu tenha achado que aqui essa construção mais demorada atrapalha um pouco a fluidez da trama, pois torna a obra enfadonha, admito que esse desenvolvimento calma tem como fundamento propor uma conexão entre leitor e personagem.
Sim, é devido a construção lenta dotada de um desenvolvimento excelente, que o leitor se aproxima dos personagens e da trama exposta. Visto que ao longo da narrativa é possível se sentir parte da obra, como se fossemos um amigo íntimo de todas as pessoas apresentadas no enredo.
É dessa forma que o leitor não apenas se conecta com protagonistas e coadjuvantes, como também compreende as nuances e a complexidade da personalidade de cada um.
Personagens Complexos
Porque o que não falta em “Politicamente Amor” são personagens bem desenvolvidos e construídos ao longo da narrativa, sejam eles protagonistas ou coadjuvantes, todos tem a sua função muito bem delimitada na obra e funcionam dentro da trama proposta, servindo como apoio ao casal principal ou “pedras” no caminho.
“Se um amor, que se diz verdadeiro, tem de lutar tanto para ver pequenas migalhas, do que ele é construído senão de incertezas?”
Cada personagem é único e detêm suas próprias características, sejam elas físicas ou relacionadas a personalidade de cada um. E vale ressaltar que essa é uma obra repleta de representatividade, algo que me deixou satisfeita, visto que temos as mais diferentes pessoas sendo apresentadas e retratadas de forma respeitosa ao longo de toda a trama.
E é claro, que como em toda boa construção de personagens, aqui também temos aqueles que são detestáveis e que conseguem deixar o leitor irritado. Isso porque, esse desenvolvimento profundo e complexo de personalidade evidencia com força todos os defeitos dos protagonistas.
Afinal ninguém é perfeito, por mais que pareça ser.
Família tóxica
Porque se temos os amigos mais incríveis sendo retratados em “Politicamente Amor”, também temos a pior das piores das famílias que já conheci em um livro.
A família Mannarino é simplesmente detestável.
Uma família tóxica ao extremo, com um casal que além de dominador é totalmente inconveniente e dramático. Tanto Otávio, quanto Miranda ganharam meu ranço por serem aqueles tipos de pais controladores que querem se meter no relacionamento dos filhos, além de quererem impor a todo custo suas vontades.
“É engraçado pensar que coisas pequenas e indiferentes para alguns causam estranheza asquerosa a outros.”
Nesse ínterim, ressalto que o protagonista, Gaius, embora seja um homem excepcional no que se refere a companheiro, se mostra um rapaz fraco que não tem nenhuma voz autoritária para expressar seus sentimentos e vontades para seus progenitores. Cenas que envolviam qualquer interação entre Gaius e seus pais me deixava aflita por eu apenas querer que ele mostrasse a sua vontade e não que aceitasse tudo de cabeça baixa.
Gaius é um personagem incrível, mas que me irritou por ser submisso ao extremo a seus parentes abusivos e inconvenientes.
Um casal com química
E por falar em Gaius, o protagonista perfeitinho de “Politicamente Amor”, porque não falar do romance que rege a narrativa?!
Aqui temos aquele famoso namoro falso mesclado com um delicioso Slow Burn, um desenvolvimento mais lento do relacionamento do casal. O que funciona muito bem para a autora construir a personalidade de cada um dos protagonistas, evidenciando seus medos, defeitos e qualidades.
“Porque é melhor melhorar a cada dia e acompanhar seu crescimento do que ganhar tudo de bandeja e não se aceitar no futuro.”
Se por lado, temos uma personagem de personalidade forte e decisiva como a Maya, que impõe suas vontades e não deixa que ninguém a diminua; por outro temos o perfeitinho Gaius, um rapaz sincero que sempre coloca as pessoas que ama acima de si, fato que faz com que suas próprias vontades fiquem em segundo plano.
Essas contradições e diferenças entre os protagonistas funciona para que eles nutram uma relação construída em cima de uma mentira, mas que se desenvolve para uma amizade e cumplicidade do casal, algo que facilmente se torna amor.
Ou seja, além de fofo de acompanhar, o leitor torce a cada segundo para que aconteça alguma coisa entre os dois. E isso demora, viu?!
O amor não cura tudo
E talvez esse seja o ponto forte da obra, o fato da autora não ter atribuído ao amor uma cura milagrosa para os problemas enfrentados pelos personagens.
Maya é uma psicóloga que tem seus próprios dilemas e questões pessoais aos quais ela tenta solucionar buscando ajuda terapêutica. Ela sabe que tem um problema e que deve buscar o auxílio profissional de alguém que a ajude a lidar com todos os pesos que cercam sua mente.
“Só que o problema de você começar a se abrir para uma dor é que as outras, que estavam bem escondidas, começam a sair também.”
A realidade, é que tanto Gaius quanto Maya são personagens com problemas reais e mesmo que um possa ser a muleta do outro, eles sabem que precisam de ajuda para mudar e seguir em frente, porque não é apenas o amor que vai fazê-los se curar.
E é justamente devido a todos os empecilhos e travas que esses personagens encontram dentro de si próprios, que o final da obra é simplesmente maravilhoso. Afinal, eles aceitam que precisam de ajuda e saem do negacionismo que os cerca…
Resta esperar pelos desdobramentos do “Segundo Ato”, para saber como o relacionamento de Maya e Gaius vai se desenrolar a partir de suas próprias aceitações e das conclusões do “Primeiro Ato”.
“Politicamente Amor” é um romance lento, mas cativante devido à complexidade dos personagens apresentados ao longo da narrativa, pessoas reais e palpáveis. Através de uma trama que evidencia que o amor não cura tudo, a obra expõe que não estamos sozinhos e que sempre teremos alguém para nos estender a mão.