[Resenha] A Rainha do Ignoto – Emília Freitas

Considerada a primeira fantasia e ficção científica feminista nacional escrita por uma mulher, essa é uma leitura com fortes críticas sociais, sendo excelente para mostrar a força de uma escritora que através da arte, evidenciou seu desgosto quanto a posição feminina na sociedade.


Nome: A Rainha do Ignoto
Autor: Emília Freitas
Páginas: 413
Editora: Wish


Sinopse: Edmundo é um jovem formado em direito que após se mudar para um pequeno povoado do Ceará chamado Passagem das Pedras, se encanta com a lenda local de que existe uma espécie de bruxa ou fada assombrando os habitantes do lugar. É assim, que ele começa a investigar quem seria essa jovem encantada e descobre que na realidade, ela é uma espécie de regente de uma sociedade composta apenas por moças, as Paladinas, que vivem em uma ilha enevoada localizada na costa brasileira.


Resenha do livro "A Rainha do Ignoto"A Rainha do Ignoto” é aquele tipo de leitura que impressiona não pela trama apresentada, mas sim por todo o contexto, conteúdo e história que se esconde por trás da obra. Afinal, alguns fatos são mais interessantes que a ficção, e eu posso afirmar que esse é o caso.

E porque digo isso?

Apenas me responda, você já tinha ouvido falar de Emília Freitas?!

Talvez, e é por acreditar que essa escritora possa ser tão desconhecida para você quanto um dia foi para mim, que eu preciso dizer o quanto essa obra é de grande importância e valor para a história da nossa cultura literária, visto que a autora que deu vida a essa narrativa era visionária em um tempo em que mulheres sofriam por causa do seu sexo.

Um enredo feminista, abolicionista, espírita e que apresenta ao longo de suas páginas um clamor de luta e revolução.

“Os pobres precisam de pão e Deus não precisa de templo porque tem por altar o universo. São as forças da natureza que lhe oficiam eternamente num dilúvio de criações. São os milhões e milhões de sóis que iluminam o infinito de seu invisível culto!”

Aqui o elemento fantástico se pega exatamente na personagem principal, que apesar de ser uma pessoa comum aos nossos olhos, naquela sociedade era considerada uma jovem questionadora e provocadora, que com sua inteligência, perspicácia e bondade ajudava as vítimas de uma sociedade patriarcal e machista. Além disso, ela também auxiliava os pobres e os negros que viviam em condições insalubres devido a escravidão que persistia na época em que se passa o enredo.

Vale mencionar que esse foi um livro escrito em 1899 por uma escritora que além de revolucionária em pensamentos, também lutava pelos direitos femininos, dos pobres e dos negros, sendo uma revolucionária que refletia suas convicções em sua escrita.

Um pouco de contexto

Quando falamos de “A Rainha do Ignoto”, temos que falar sobre o contexto em que a narrativa foi concebida e também sobre a autora, Emília Freitas.

Escrito e publicado em 1899, o livro aborda críticas sociais de grande importância e relevância que foram um grande choque para a época em questão, principalmente devido a natureza das questões feministas apresentadas pela autora, visto que nesse período para as mulheres era delegado apenas a função de ser doméstica.

“O amor nem sempre é absoluto como erradamente pensa a mocidade; muitas vezes, não passa de um sentimento de orgulho, de dignidade da alma iludida com o seu próprio sentir.”

A própria autora é um exemplo dessa luta contra o machismo e o patriarcado do século XIX, visto que ela quebra regras e convenções ao se casar aos 45 anos de idade; ser letrada; trabalhar em periódicos; escrever poemas e poesias; e lançar um livro que crítica o tratamento e a posição social feminina naquele período.

E talvez, seja esse o grande motivo que talvez tenha feito você, leitor desse blog, nunca ter ouvido falar dessa escritora tão importante. Todo o patriarcado e machismo de uma época que decidiu apagá-la da história da literatura nacional.

Feminista?

E é um deleite perceber o quanto essa narrativa tem de força feminina e feminista em suas páginas. Seja pelos diálogos fortes que a protagonista tem com diversas moças para lhes mostrar que a vida é muito mais do que o amor; seja por ela salvar esposas indefesas das agressões de maridos possessivos.

O que a trama apresenta é muito mais do que apenas uma sociedade composta por mulheres, mas também uma utopia em que prevalece o sonho de liberdade individual e o desejo de ter voz em uma sociedade regida por homens que se achavam superiores aos direitos femininos.

“A mulher superior é a encarnação da indiferença e até do ódio da maior parte dos homens.”

Nesse ínterim, vale mencionar a conexão que a Ilha do Nevoeiro, local em que vivem as Paladinas¹, tem com o universo feminino e utópico da obra, visto que é um lugar mágico em que as coisas funcionam, a justiça prevalece e a bondade reina. Um mundo em que elas podem exercer uma função que não seja cuidar da casa, dos filhos ou marido.

Ou seja, uma visão utópica com nuances fantásticas de um mundo que poderia existir.

Uma mistura de fantasia com ficção científica

E embora não seja a percursora de nenhum dos dois gêneros citados no título (veja bem é o primeiro de ambos escrito por uma autora, mas não percursor), é inegável toda a sua importância para o que viria a ser conhecido posteriormente como Fantasia Moderna.

Claro que, leitores atuais devem ter em mente que o fantástico daquela época era bem diferente do que conhecemos hoje, no entanto, os principais elementos que compõem o gênero estão presentes ao longo da obra, assim como alguns componentes chaves que também tornam essa trama uma Ficção Científica.

“Porque amor não se aprende em livro algum; é instintivo, rubrica todas as páginas do livro da alma.”

Para destacar melhor, como elementos fantásticos temos a inserção de uma personagem que exerce uma certa influência divina no local em que se encontra, alguém que parece estar acima de todos. Além disso, a ilha em que elas vivem não tem sua localização desenhada em nenhum mapa e só aparece para aqueles que são dignos de encontrá-la.

Quanto a elementos do Sci-Fi, podemos citar a inserção do hipnotismo, termo presente ao longo da trama, mas que era um conceito reconhecido naquela época apenas por cientistas. Além disso, a própria utopia de uma sociedade unicamente feminina se trata de um universo ficcional que remete a obras famosas do gênero SCI-FI, principalmente quando percebemos as influências políticas na composição da ordem diplomática da ilha.

A Rainha do Ignoto” é aquele tipo de livro que se você não conhece ainda, precisa conhecer. Não pela narrativa contada em uma trama simples, mas por toda a importância que ele carrega para a literatura fantástica nacional.

¹ Paladinas é como as moças que compõem essa sociedade são conhecidas.

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