[Resenha] Circe – Madeline Miller

Um épico narrado através dos olhos de uma personagem milenar; uma história que fala sobre escolhas, amadurecimento e principalmente solidão.


Nome: Circe
Autor: Madeline Miller
Páginas: 470
Editora: Planeta


Sinopse: Circe é uma ninfa, filha do deus do sol Hélio com a titã Persei e que não é considerada a mais bonita, nem nasceu dotada de poderes extraordinários. Com uma fascinação pelo desconhecido e por mortais, é justamente sua paixão por um pescador que a leva a cometer um ato de traição contra o poderoso deus Zeus, algo que a faz ser aprisionada pela eternidade na ilha de Eana, lugar em que passa a conhecer a si mesma e também os diversos viajantes que passam por sua vida.


Resenha do livro "Circe"Esse é aquele tipo de livro que exerce uma forte magia em suas páginas, mas de uma forma diferente. Aqui, temos uma história de fantasia narrada através de uma espécie de relato longínquo de uma época em que deuses e titãs povoam a terra e eram temidos e adorados pelos mortais. É esse “que” de “relato épico” que faz dessa narrativa quase real.

Afinal, creio que todos que se aventurarem por essas páginas se sentirão familiarizados com as lendas narradas, visto que os mitos gregos, seus heróis, deuses e lendas são contados e recontados através dos anos e fazem parte da nossa cultura popular.

“Toda a minha vida tinha sido lama e profundezas, mas eu não era uma parte dessa água escura. Eu era uma criatura dentro dela.”

Fazer essa leitura sem se lembrar de alguma cena de filme, série, game é praticamente impossível.

Entretanto, a obra vai muito além da magia mística que envolve o enredo, possuindo uma construção primorosa do amadurecimento da ninfa Circe, uma deusa que se descobre feiticeira e ao desafiar os deuses é condenada a eterna solidão.

O que temos aqui é uma espécie de romance de formação milenar, visto que acompanhamos séculos e séculos da vida de uma personagem que aprendeu desde cedo a lidar com a solidão e a rejeição; uma mulher que se descobre e compreende os mistérios que povoam o mundo e o íntimo da raça humana.

Sem dúvida, uma mulher extraordinária.

A bruxa de Eana

Porque se a obra leva o nome da protagonista, significa que ela é de grande importância na narrativa. É quase impossível não gostar da construção da protagonista ou compreender suas curiosidades, fato que leva o leitor a se compadecer de tudo que ocorre com ela ao longo da trama.

Circe é uma ninfa, uma deusa e também uma feiticeira, mas antes disso, era apenas a filha de Hélio que não possuía nenhuma virtude ou valor. Era considerada a descendente mais fraca do deus do sol e a menos provida de beleza, o que a levava a sofrer bullying de seus irmãos e primos que a viam como um ser inferior.

“Eu não serei como um pássaro criado em uma gaiola, entorpecido demais para voar mesmo quando a porta está aberta.”

Após desafiar os deuses e transformar um mortal em deus e uma ninfa em um monstro marinho, a feiticeira é condenada por Zeus a passar a eternidade de sua vida imortal em uma ilha, isolada de tudo e todos e é nesse momento que vemos a sua ascensão e o seu amadurecimento.

É um deleite acompanhar a personagem descobrindo sua magia e a aprimorando dia após dia; perceber como ela começa a dar valor a si própria, compreendendo quem é e quem pode ser; amadurecendo e se tornando uma mulher forte com princípios, valores e morais; alguém que exerce sobre os outros um certo fascínio e a sua própria vontade.

A evolução da protagonista é o ponto alto da narrativa, afinal a trama é narrada por meio do seu ponto de vista e ter alguém tão cativante nos contando sua trajetória é maravilhoso.

Os mitos gregos

Uma das coisas que chama a atenção nesse livro é apresentação da mitologia grega através do olhar da feiticeira, que reconta algumas dos mais conhecidos mitos gregos.

O nascimento do Minotauro; a criação do monstro Cila que afundava embarcações e devorava homens; como Jasão enganou Aietes com a ajuda da bruxa Medeia; algumas das mais diversas e controversas aventuras do herói Odisseu, conhecido pela obra “Odisseia” de Homero; e até mesmo a punição de Prometeu, que após roubar o fogo do Olimpo e dá-lo aos mortais, foi condenado a viver a eternidade amarrado em um precipício e ter seu fígado devorado por urubus para todo o sempre.

“Os grandes deuses farejam o medo como tubarões cheiram sangue, e o devoram da mesma forma.”

Cada uma dessas narrativas são transmitidas em forma de relato pela ninfa que reconta com riquezas de detalhes como ela teve uma certa participação em todas essas tramas. Através de uma linguagem poética e melancólica a protagonista expõe para o leitor de forma íntima a sua percepção sobre essas jornadas, apresentando-as de forma profunda e com uma beleza singular.

Sem dúvida, é um choque perceber que Jasão não passou de um joguinho nas mãos de Medeia ou que o Minotauro era apenas uma criança assustada e faminta, criada por pais perversos.
Esses pontos me fazem pensar no quanto, a própria história é contada através de lados e perspectivas.

A solidão

Entretanto, vale ressaltar que essa é uma narrativa permeada pelo sentimento da solidão.

Circe nasce como uma criança sozinha, além de sofrer bullying de seus irmãos e ser praticamente rejeitada por sua mãe e pai, a garota aprende a lidar cedo com o abandono e com a decepção de ter um coração partido. Esses pontos a levam a ser isolada em uma ilha, sem que possa ter contato com o mundo exterior e é apenas com as visitas ocasionais do deus Hermes que ela aprende um pouco sobre a humanidade.

“Deixe- me dizer o que a magia não é: não é poder divino, que vem com um pensamento e um piscar de olhos. Deve ser feita e trabalhada, planejada e procurada, desenterrada, secada, fatiada e moída, cozinhada, encantada e cantada. Mesmo depois de tudo isso, pode falhar, ao contrário dos deuses.”

Ao longo da trama fica perceptível o quanto ela se sente solitária e anseia por uma companhia, tanto que quando consegue uma, não vê os perigos que a espreitam e acaba conhecendo o pior lado do ser humano, fato que a leva a se isolar na ilha que chama de lar.

Nesse ínterim, vale mencionar que a obra aborda de uma forma muito sutil a questão da eternidade, visto que a personagem é uma deusa imortal condenada a eterna solidão, ver aqueles que passa a amar morrer não é uma tarefa fácil e é por isso que o desfecho de sua história, embora possa parecer triste em um primeiro momento, é a forma mais bondosa para que a bruxa de Eana possa se despedir de nós e de tudo que viveu.

Afinal, ela merece um final feliz.

Um livro mágico que evoca as lendas e mitos gregos de uma forma original e peculiar por meio da perspectiva da deusa Circe, uma feiticeira condenada a solidão eterna; uma mulher que desafia deuses, se apaixona por mortais e enfrenta monstros marinhos utilizando seus feitiços. Sem dúvida, uma grande mulher que amadurece ao longo da leitura e se torna muito mais do que apenas a Bruxa de Eana.


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