[Resenha] O Último Romance de Proust – Cláudio Aguiar

Recebido em parceria com a Agência Literária Oasys Cultural

Com uma mistura excêntrica da efervescência do Carnaval no nordeste brasileiro e do alerta constante de quem se prepara para cometer um crime, esse livro é peculiar em sua forma narrativa e na composição de cenários e personagens que compõem a trama.


Nome: O Último Romance de Proust
Autor: Cláudio Aguiar
Páginas: 274
Editora: Ibis Libris


Sinopse: Durante o Carnaval de Olinda, três trapaceiros se unem para roubar, de um professor famoso na cidade, um manuscrito perdido e original escrito pelo escritor Marcel Proust antes de seu falecimento. Em meio a efervescência da festividade, muitas coisas podem não sair como esperado nessa empreitada que pode custar muito caro.


Resenha do livro "O Último Romance de Proust"Esse é aquele tipo de livro que narra não apenas uma história, mas muitas outras dentro de um único enredo que vai se intrincando ao longo das páginas. Aqui, os personagens apresentados possuem camadas profundas; dramas e dilemas muito bem construídos e explorados pelo autor, fazendo o leitor ter uma visão ampla de seus comportamentos e atitudes.

Através de uma escrita simples, mas que se torna densa devido a carga de informação que a trama propõe, temos um panorama histórico excelente, assim como uma ótima pesquisa em relação a vida de Marcel Proust; pontos que podem tornar a leitura lenta, mas que fazem desse um livro único na forma de construir os feitos dramáticos.

A máscara tem o poder de ser, ao mesmo tempo, um semblante coletivo de todos nós. Só a máscara representa o que somos e escondemos de nós mesmos. Inclusive a hipocrisia da vida.”

Um dos pontos fortes do enredo é a ambientação efervescente e alegre que predomina nas páginas e se contrapõe com o drama dos assaltantes, afinal estamos falando de uma história que se passa naquele fim de semana esfuziante do Carnaval, em meio a toda a bagunça da festa.

Acompanhar o desenrolar e desfecho da obra em meio a essa euforia do animado feriado é um primor aos nossos olhos.

Olê Olê Olê Olá…

Como comentei, sem dúvida o que mais chama a atenção são as descrições primorosas da ambientação que o autor insere na trama, evidenciando toda a alegria e a euforia proporcionada pelo fim de semana mais aguardado pelos brasileiros.

Sem dúvida, esse é um ponto de encher os olhos.

A essa aparente desordem, somava-se a letra do hino oficial da famosa agremiação carnavalesca, entoado pela multidão de foliões que acompanhava aquele momento único. Ninguém resistia ao espontâneo convite à alegria. Qualquer pessoa, folião ou não, como animado cantor de rua, de repente, cantava, gritava a plenos pulmões, disposto a correr pela cidade com fantasia ou não, a pular e dançar.”

Seja pelas descrições de pontos turísticos repletos de foliões; pelas pessoas fantasiadas das mais diversas formas e cores; dos blocos que amanhecem o dia em plena festa percorrendo as ruas de uma cidade e unindo inúmeros festeiros em sua passagem; ou mesmo pela concentração de turistas que vem prestigiar a brincadeira.

Tudo é descrito de uma maneira lúdica e de forma a contrapor, com uma excelência magnífica, os eventos que ocorrem na trama principal.

Não obstante, é interessante perceber como essa festividade possui seus segredos, sendo uma época em que, devido a euforia local dos foliões, certos crimes podem ser cometidos e passar despercebidos, afinal é Carnaval e as pessoas tendem a se esconder por detrás de máscaras.

A folia e o roubo

E é assim, em meio a toda essa euforia empregada pela animação provocada pelo feriado, que os contrabandistas franceses conseguem sequestrar o professor Danilo Morais para conseguir a localização dos originais perdidos de Marcel Proust.

Um contraponto excelente, pois ao mesmo tempo em que vemos o frenesi na cidade devido as músicas que acompanham os famosos blocos de ruas, também percebemos essa mesma agitação nos algozes da narrativa, que desesperados para cumprir a missão, estão dispostos a tudo para encontrar e roubar os tais cadernos inéditos.

O futuro sempre ameaça vir por meio do presente. No entanto, nunca se torna realidade.”

Gosto de como esse contraponto funciona na trama, expondo a vulnerabilidade que a folia carrega em meio a sua alegria esfuziante. É interessante perceber que enquanto centenas de pessoas se divertem na calada do dia em meio a euforia do momento, alguém está sendo mantido em cárcere sem ter esperanças de que vai conseguir sair vivo de uma situação sufocante.

Ou seja, os momentos se interpõem ao mesmo tempo que se contrapõem com uma narrativa excelente e primorosa, fazendo o leitor ao mesmo tempo se encantar com as inúmeras descrições de Olinda e ficar apreensivo querendo saber se o tal roubo vai dar certo ou não.

Uma tacada no escuro

Quanto ao suspense promovido pela trama em relação ao furto dos tais originais, devo admitir que conseguiu não apenas me prender, como me chocar com um desfecho pelo qual eu não esperava.

Veja bem, eu não torcia pelos vigaristas, mas também não posso deixar de citar que o autor tornou eles humanos o suficiente para que eu me importasse, em alguma escala, com seus destinos. O que fizeram, sem dúvida foi terrível, mas, mesmo assim, ainda é possível sentir aquele resquício de vontade de que eles encontrem os tais manuscritos para que assim a nova obra do autor frances pudesse ser, talvez, publicada.

O destino das pessoas parece estar, a cada instante, submetido a imprevistos. Tudo anda na mais completa normalidade, quando, de repente, eis que, do nada, às vezes, de um olhar furtivo, ao topar em um apedra no meio do caminho, ao encontrar alguém, mudamos de rota e a vida passa a ser diferente.”

E devo dizer, que embora as passagens mais bibliográficas acerca dos últimos momentos de Marcel Proust possam ser cansativas de ler, ainda assim foram fruto de uma ampla pesquisa realizada com esmero e cuidado pelo escritor, Cláudio Aguiar, algo que eu gostei e chamou a minha atenção de forma positiva.

Ademais, quanto ao desfecho, embora particularmente eu não tenha gostado de como o epílogo se interliga com o prólogo, achei que foi um final condizente com o que a narrativa propunha desde o início, bem como, gostei de toda a resolução do crime e do suspense acerca da existência ou não dos tais originais. Entretanto, deixo claro que senti que houve algumas pontas soltas no enredo que poderiam ter sido melhores trabalhadas pelo autor.

Esse é certamente um livro que eu recomendo para aqueles que querem fazer uma leitura leve, mas que tenha um toque de mistério e que apresente de uma forma única como o Carnaval é um feriado que pode nos contar inúmeras histórias perdidas pelo tempo.


Se interessou? Quer adquirir?
Compre através do nosso LINK da Amazon.


Comprando através do nosso link, você não paga nada mais por isso e ainda ajuda o blog a trazer cada vez mais conteúdo legal e bem trabalhado para vocês. 😉

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s