Alerta de Gatilhos!
Assassinato. Violência. Invasão a Domicílio. Agressão. Ameaça.
Com uma escrita fluída e uma narrativa que se assemelha a uma grande fofoca, essa é uma leitura que prende, mesmo que o mistério não seja tão misterioso e o suspense deixe a desejar.
Nome: Alguém que você conhece
Autor: Shari Lapena
Páginas: 318
Editora: Edição da Tag de Setembro de 2022
Sinopse: Em um pequeno bairro residencial de classe média chamado Aylesford, tudo parecia normal. Isso é, até uma das moradoras ser cruelmente assassinada e seu cadáver ser encontrado dentro do porta-malas de seu carro afundado em um rio. Como se não bastasse a tensão pelo crime, Carmine, uma nova vizinha, recebe uma carta anônima de uma mãe se desculpando por seu filho ter invadido sua casa e agora ela não descansa enquanto não encontrar o jovem infrator. Afinal, como o próprio título diz, tanto o assassinato quanto o arrombamento foram feitos por pessoas que todos do bairro julgavam conhecer.
“Alguém que você conhece” é aquele tipo de livro em que o título combina muito bem com o desenrolar da trama, assim como o tom que a narrativa oferece, visto que ao longo da leitura sentimos aquele ar de fofoca e vizinhos fuxiqueiros que querem saber de tudo para poderem se livrar de suas culpas.
Segredos, mistérios, traições.
Aqui, todas as famílias apresentadas escondem alguma coisa e são esses detalhes ocultos que movem o enredo e o suspense, fazendo com que a obra se assemelhe a um grande quebra-cabeças que vai se encaixando conforme as intrigas começam a surgir. Afinal, um segredinho aqui e outro ali não faz mal a ninguém, não é?
“Todo casamento tem segredos.”
Embora seja um suspense que tem como foco fazer o leitor desvendar o crime, a narrativa evidência a questão de que não conhecemos as pessoas que estão a nossa volta e como elas reagiriam ao serem confrontadas com seus erros. Ou seja, os boatos movem a trama por fazer os personagens tomarem atitudes e decisões para encobertar as suas falhas, algo que os torna humanos e hipócritas.
Vizinhos fofoqueiros
Esse, pra mim é o ponto alto da obra; o seu tom de fofoca.
Como acompanhamos de perto a investigação da morte de Amanda Pierce, esposa de Robert Pierce, um casal reservado que se mudou a pouco tempo para Aylesford, percebemos como as especulações e falatórios em torno de um evento tão incomum move não apenas a trama, como também a vida daqueles moradores.
“Um assassinato é sempre uma grande notícia.”
Tudo passa a girar em torno de Amanda e do que poderia ter ocorrido com ela, quem poderia ter a matado. E quando a polícia comprova que ela estava envolvida, de certa forma, com outros homens do bairro, os habitantes do lugar ficam bastante agitados com as notícias. Afinal, a suspeita que antes recaía apenas no marido passa a acometer outros dois núcleos familiares e assim, um grande burburinho se forma.
É bastante interessante ler como o enredo é construído com base nessas intrigas e nas declarações de cada personagem. Aqui, o leitor vai descobrindo as coisas conforme elas são contadas, seja em lembranças, depoimentos ou pelos vizinhos esconderem algum segredo obscuro.
Juntar todo esse quebra-cabeça e ponderar se “esse é o assassino” é o ponto mais legal do livro.
Conhecemos nossos vizinhos?
E é exatamente esse contexto que faz o leitor refletir sobre como não conhecemos a vida de uma pessoa, por mais que ela seja próxima. Todos possuem segredos que não querem revelar e que são guardados a sete chaves.
Aqui, amigos e parentes escondem algo. Desde aquela pessoa que você confia nos momentos ruins da sua vida, até mesmo o homem com que você dorme todos os dias. Não é possível confiar em absolutamente ninguém, pois todos são hipócritas o suficiente para mascararem seus podres e seguirem com a vida como se nada tivesse acontecido.
“Todos nós usamos máscaras. Em algum momento, todos temos coisas a esconder.”
É bastante interessante ler como cada um dos personagens reage ao assassinato de Amanda e como todos, de certa forma, estavam envolvidos com essa mulher. Desde a frieza do marido da moça, algo que o coloca como principal suspeito do crime, até mesmo Becky, a vizinha que estava tendo um caso com ele, ou mesmo Carmine, a vizinha nova que procura o adolescente que arrombou sua casa.
Cada um dos personagens se esconde atrás de uma máscara de bom moço ou boa moça e apenas espera o momento em que a sua verdadeira face virá à tona.
O suspense
Embora eu tenha me divertido com o livro, ainda assim, essa foi uma história em que o suspense não me convenceu. Eu descobri quem era o assassino pouco antes da revelação e achei que as motivações do crime, bem como pontas soltas do enredo ficaram mal esclarecidas o que prejudicou a minha experiência de leitura.
Veja bem, eu compreendo a motivação, mas não acho que a narrativa tenha sido coerente com essa resolução, afinal tudo indicava que outra pessoa havia cometido o assassinato. Além disso, as pontas soltas sem explicação deixaram a história com um final aberto que não me agradou. Eu gosto de finais abertos, mas esse em especial me deixou decepcionada.
“A verdade sempre encontra um jeito de aparecer.”
Ao menos que a autora esteja planejando uma sequência, creio que algumas coisas no texto poderiam ter sido suprimidas. Entendo que, muito provavelmente, a intenção de Lapena tenha sido exatamente dizer que os segredos continuam mesmo após a resolução de um crime, mas particularmente não me senti realizada com esse desfecho.
“Alguém que você conhece” é aquele tipo de livro que se assemelha a uma fofoca contada e recontada pelos habitantes de um bairro pequeno, que especulam e descobrem segredos, mentiras e traições. É uma obra feita para que o leitor monte um quebra-cabeça e reflita sobre como não conhecemos as pessoas que nos rodeiam.