Alerta de Gatilhos: Assombração. Morte. Gravidez na Adolescência. Tentativa de Suicídio. Suicídio. Consumo de bebidas e drogas lícitas e ilícitas.
Como sabemos o que é real e o que é alucinação?! Poderiam fantasmas realmente existir ou seriam apenas imagens mentais feitas pelo nosso inconsciente?! Esses são os questionamentos que podemos fazer ao longo da leitura desse livro, que poderia ter entregado mais do que realmente entrega.
Nome: Atormentada
Autor: Jeannine Garsee
Páginas: 375
Editora: Jangada
Sinopse: Corinne, mais conhecida como Rinn, é uma garota que sofre com bipolaridade e precisa tomar inúmeros remédios para que as vozes em sua cabeça parem de mandá-la fazer coisas absurdas. Após um trágico incidente envolvendo sua avó, Corinne e sua mãe Mônica, resolvem passar um tempo em uma pequena cidade do interior, o lugar em que sua mãe cresceu. Entretanto, a lenda de uma garota que assombra a piscina do colégio em que Rinn passa a estudar parece ser muito mais do que uma simples história de assombração. Ou tudo isso seria um mero efeito dos remédios?!
“Atormentada” é aquele tipo de livro que possuí uma premissa instigante, uma narrativa fluída e um bom desenvolvimento de um mistério envolvente. Entretanto, a trama é voltada para o público adolescente, o que faz com que a obra não tenha tanto impacto narrativo e nem alcance o seu potencial máximo.
Confesso que eu gostei dos mistérios e de como ele influência em vários momentos da trama, mas ao longo do livro senti que o foco adolescente da história me incomodou, visto que eu não levei o livro a sério e me irritei com personagens, escolhas e atitudes.
“Uma coisa que aprendi é que, mesmo que seja considerado louco, você não pode usar isso como desculpa para as coisas que faz. Provar que você é um doente mental não lhe dá um passaporte para a liberdade.”
Claro, que tudo isso se refere a minha experiência pessoal de leitura. Afinal, esse não é um livro ruim, mas sim uma boa narrativa para aqueles leitores que buscam uma história bem construída, com uma pitada de sobrenatural e que não dá medo. Ou seja, é uma obra com um enredo misterioso e tranquilo de ler, visto que o leitor pode assumir que boa parte dos acontecimentos da trama estão relacionados a condição mental da protagonista, Corinne/Rinn, já que em boa parte do enredo a personagem se encontra sob efeito de remédios tranquilizadores.
E talvez esse seja um dos pontos mais fortes da obra; a forma como a autora, Jeannine Garsee, desenvolve uma protagonista com bipolaridade. Rinn é uma personagem muito bem construída e desenvolvida dentro de seu contexto, porém, confesso que não me conectei ou senti empatia por ela.
Personagens Adolescentes
A verdade é que eu não me conectei com nenhum personagem apresentado em “Atormentada”, o principal motivo é o fato de que são todos adolescentes.
Mas veja bem, eu não tenho absolutamente nada contra tramas guiadas por adolescentes; aquelas histórias de descobertas do primeiro amor, ou mesmo tramas envoltas de mistério. O problema, é que quase sempre, eu fico de saco cheio de ler sobre os problemas atrelados a essa idade. Porém, ressalto que essas considerações são PESSOAIS, não um defeito da obra.
“Ok, aqui está o problema: quando as pessoas loucas se sentem ‘bem’, elas decidem que não precisam mais de remédios.”
Afinal, eu diria que a autora soube desenvolver muito bem personagens adolescentes que possuem problemas condizentes com suas idades, mesmo que muitas das discussões abordadas na obra sejam superficiais e tenham a finalidade de compor o típico cenário americano. O que quero dizer com isso?
Bem, aqui temos personagens vítimas de bullying, mas em nenhum momento a autora mostra uma consequência evidente desse tipo de agressão. Temos um plot de gravidez na adolescência que não é bem finalizado na obra. E por fim, um personagem que usa e trafica drogas dentro da escola, mas que não possuí um desfecho adequado para seu problema.
A impressão que tive, foi esses pontos em questão foram romantizados como problemas comuns de adolescentes. Minha visão pessoal, é que essas abordagens deveriam ter conclusões mais sérias e dignas. Afinal, são discussões pertinentes de serem mencionadas e debatidas de forma responsável.
Cadê o epílogo?
Porque um epílogo poderia esclarecer certas dúvidas e trazer uma resolução oportuna para alguns coadjuvantes inseridos em “Atormentada”, afinal a maioria dos personagens secundários é jogada de escanteio e desaparece da trama.
No fim, me pareceu que a autora queria enfatizar Rinn e seus problemas psiquiátricos, mas esqueceu que poderia ter uma abordagem mais sensível e profunda sobre outros temas que ela inseriu na narrativa, visto que a maioria dos seus coadjuvantes não tem um desfecho, simplesmente somem.
“Nada na vida é tão por acaso quanto gostaríamos de acreditar.”
Nesse caso, um epílogo faria toda a diferença na obra, mesmo que fosse apenas com Rinn contando para o leitor o que aconteceu com suas amigas.
E sim, eu sei que ao longo da leitura ela comenta sobre o destino de algumas das meninas que faziam parte de seu grupo, entretanto, mesmo depois do embate no capítulo final, eu esperava ser surpreendida com uma personagem retornando de “sei lá para onde ela foi” (Quem já leu o livro, sabe exatamente de qual personagem estou falando.)
E mais uma vez, reforço que isso foi um incomodo pessoal. Não quer dizer que é um furo da obra, afinal a trama é narrada pelo ponto de vista de Corinne, o que faz com que a personagem não tenha ou obtenha certas informações para passar ao leitor.
Mistério Adolescente
Eu gosto bastante de tramas com mistérios adolescentes. Sim, eu gosto. E acho que nisso, embora eu tenha alguns pontos a reclamar, “Atormentada” não deixou a desejar. Confesso que eu realmente esperava mais momentos de tensão e de susto, mas compreendo que esse é um livro adolescente, voltado para um público mais jovem.
Talvez se eu tivesse pego esse livro para ler dez anos atrás, teria gostado bem mais.
“Talvez não ouvir nem sentir as coisas como as outras pessoas seja mais enlouquecedor do que ouvir e sentir coisas que as outras pessoas não sentem.”
Aqui, as cenas de violência ficam a cargo da imaginação do leitor. Principalmente pelo fato de Corinne não observá-las diretamente, o que torna esses instantes sugestivos. Então fica o alerta de que se você espera por cenas pesadas graficamente, não vai encontrar.
Ademais, acredito que todo o mistério em volta do fantasma de Anneliese é muito bem construído e desenvolvido pela autora, que apresenta todo um ar de investigação condizente com uma boa trama de Thriller. Eu gostei das resoluções e o final conseguiu me arrancar um sorriso de “Caramba! Que louco”, porque realmente eu não esperava por aquele desfecho.
Mas sabe o que essa narrativa me lembrou?! Filmes de terror de baixo orçamento que servem para diversão momentânea. Devo dizer; meu tipo preferido de filme preferido.
Luto, recomeços e distúrbios psicológicos
E agora falando de temas sérios, porque esse livro detêm alguns que são muito bem explorados e desenvolvidos pela autora, principalmente a questão do luto e dos distúrbios psicológicos de Rinn.
Aqui, temos uma trama narrada em primeira pessoa através do ponto de vista da protagonista Corinne, uma adolescente com bipolaridade que passa pela primeira vez por um período de luto. É através da sua perspectiva que o leitor consegue compreender tudo que se passa em sua cabeça, tendo a possibilidade de entender a personagem.
“Eu não conseguia distinguir o murmúrio dos presentes das vozes na minha cabeça. A boa voz me tranquilizava. A ruim zombava de mim”.
Confesso, que embora eu tenha me compadecido com o luto que Rinn enfrenta, ainda assim eu não me senti apegada o suficiente a protagonista para sentir compaixão de seu momento. Acredito que faltou um pouco mais de carisma para que ela conseguisse me conquistar. Entretanto, na minha percepção a questão psicológica da protagonista foi essencial para evidenciar a trama misteriosa e fantasmagórica que temos na narrativa.
Afinal, até onde tudo que Rinn percebia e via era realmente real ou fruto de sua imaginação, da sua mente, do uso e da falta de uso dos remédios controlados?! Esse ponto é crucial para tornar a atmosfera do livro confusa, ao mesmo tempo que faz com que toda a história se torne sombria, evidenciando que nem tudo é o que parece, mas que tudo que parece pode realmente ser.
Resumindo, uma ótima sacada para uma trama regada de um bom mistério sobrenatural.
“Atormentada” é um terror adolescente que possui um mistério sobrenatural interessante de acompanhar. E embora os personagens não cativem, a narrativa instiga o leitor a querer entender os desdobramentos e a verdade sobre uma assombração que pode, ou não, ser fruto da mente de uma personagem com bipolaridade.