Uma fantasia espacial nacional que definitivamente possuí o melhor do gênero. Uma história bem desenvolvida que se passa em um mundo imersivo e bem construído apresentando personagens cativantes que o leitor não vai esquecer tão cedo.
Nome: Os Sonhos de Gemini
Autor: Giulia Magno
Páginas: 349
Editora: Publicação Independente
Sinopse: Gemini está tendo sonhos estranhos. Ela vive em um planeta chamado Falorcus, um lugar dominado pelo Império do Continente que solicitou que algumas crianças fossem entregues para esse governo com o intuito de serem treinadas para servir de corpo, mente e coração aos interesses da Imperatriz. Mas, os sonhos de Gemini pedem que ela faça outra coisa. É assim, que a jovem embarca em uma aventura sem volta com seus amigos; Mélia, Lucien, Orcus e Karin, todos em busca de respostas para quem realmente são. A realidade, é que todos se tornam revolucionários contra um sistema de opressão.
“Os Sonhos de Gemini” é aquele tipo de livro que possuí uma fantasia bem descrita, em um mundo bem detalhado e construído de forma que é impossível o leitor não se sentir imerso nas páginas da obra e mergulhar de cabeça nos mistérios da trama e nos desejos e motivações dos personagens que são apresentados.
A fantasia dessa história é sensacional!
Falorcus, o mundo e planeta em que se passa a narrativa é simplesmente fabuloso de tão bem construído. Um lugar que possuí sua própria mitologia, geografia e até sistema lunar. Uma ambientação imersiva que faz o leitor viajar para dentro do mundo desenvolvido pela autora, Giulia Magno, e desvendar, junto aos personagens, cada pedacinho desse planeta.
“O som da batalha era o único que podia ser ouvido no mundo, a pulsação de meu coração em meus ouvidos era a melodia que o acompanhava.”
Aqui, somos apresentados a uma gama de personagens maravilhosamente bem desenvolvidos, que são distintos em personalidade, mas que carregam dentro de si a mesma centelha de esperança de descobrirem quem são e de se voltarem contra o governo ao qual são obrigados a servir. Sim, são revolucionários agindo contra o sistema ao qual são submetidos e que devido a isso, optam por participar de uma guerra.
E é essa guerra o ponto mais forte, alto, emocionante e incrível de toda a obra.
Falorcus; um planeta fantástico
Uma coisa é preciso exaltar, a criação fantástica de “Os Sonhos de Gemini” é, praticamente, perfeita.
A construção do planeta de Falorcus em que se insere a trama; as criaturas bizarras e medonhas que povoam esse mundo; o sistema político que é o cerne de toda a narrativa principal e, os protagonistas envoltos em uma magia muito bem desenvolvida. A fantasia é absurda de detalhada.
“Não havia nada mais feroz ou cruel do que a água revolta governada pelas cinco luas de nosso planeta. As marés eram instáveis e havia locais em que constantes ondas gigantescas se chocavam contra a terra.”
Cosmologia, geografia, política, mitologia.
Tudo se une de forma perfeita em um mundo que é facilmente imaginável pelo leitor e que não se torna cansativo ou confuso de entender. Isso porque, por mais que a autora explique as mais diversas e adversas camadas do planeta de Falorcus, ela opta por acrescentar as informações pertinentes da construção de mundo de forma calma e ao longo da trama, pincelando as partes importantes em momentos distintos da narrativa.
Ou seja, tudo é desenvolvido sem pressa e na hora certa. O leitor não se depara com uma enxurrada de dados que podem deixá-lo confuso, mas sim com pequenas referências e detalhes que vão sendo expostos e explicados devagar e de forma coerente dentro da obra, algo que faz com que a trama fique fluida e ainda detenha aquele ‘toque de mistério’.
Afinal, o leitor nunca sabe o que está por vir.
Personagens e Amizade
Entretanto, por mais que todo o universo criado em “Os Sonhos de Gemini” chame a atenção do leitor, acredito que o grande trunfo de toda essa narrativa é a construção de personagens da obra.
Isso porque aqui temos cinco protagonistas que guiam a história; Gemini, Orcus, Melia, Lucien e Karin. Um quinteto formado por um grupo de amigos e um ‘pseudo-vilão’, mas que atua muito bem dentro do que se refere a grupo funcional para encarar uma batalha e pessoas entregues a uma amizade profunda.
“Havia momentos em que eu sentia que poderia devorar o mundo e torná-lo cinzas e vento com aquele poder.”
Cada personagem é único, possuí sua própria personalidade, além de deter medos, sonhos, inseguranças, vontades, desejos e principalmente, dualidades. São protagonistas que cativam, emocionam e que exalam confiança e conexão mútua entre eles.
Abro um espaço para dar destaque ao personagem mais bem construído da obra; Karin. Um rapaz problemático, que a princípio é desagradável com todos, mas que aos poucos vai conquistando o espaço naquele grupo e principalmente, conquistando o coração do leitor. Um daqueles personagens que aprendemos a amar e a se compadecer de sua angústia.
Porque o que não falta nessa obra é angústia, principalmente quando falamos de uma guerra prestes a ocorrer.
Uma fantasia com o horror da guerra
E esse é o ponto chave!
Se eu falar por experiência própria, foram as intrigas políticas que levam a uma guerra que me conquistaram nesse livro.
Essa poderia ser apenas mais uma fantasia com uma guerra acontecendo como pano de fundo em que todos saem bem e vivos. Mas acontece, que o que a autora faz aqui é muito mais. Ela entrega muito mais do que promete.
“A morte era particular demais, quando observada naturalmente, mas em massa… milhares de corpos empilhados e sem vida, seus dejetos espalhados em meio à terra e o sabor metálico de sangue como uma nuvem que envolvia tudo… Essa era uma sensação que eu não conseguia esquecer.”
Porque a guerra destrói. A guerra machuca. A guerra não poupa vidas.
E chegar aos momentos finais da narrativa e achar que tudo vai ficar bem em um pós-guerra é pensar de uma forma inocente. Por mais que os personagens apresentados sejam fortes o suficiente para conseguirem lutar em uma batalha sangrenta, eles não são imortais. E quando a autora expõe isso de uma forma tão crua e real, é doloroso.
Eu chorei, me angustiei, torci para que não fosse real. Mas é uma guerra. E a cena de batalha final, foi uma das mais tristes, desoladoras e tenebrosas que eu já li em um livro de fantasia. Tal qual, uma guerra de verdade, em que não existem vencedores, mas todos, de alguma forma, saem perdendo algo importante para si.
“Os Sonhos de Gemini” é uma alta fantasia espacial nacional que beira a perfeição. Uma narrativa que detêm uma construção de mundo exemplar, personagens cativantes muito bem desenvolvidos em suas personalidades e uma guerra crua que evidencia com força que em uma grande batalha, não existem vencedores.
Um comentário em “Os Sonhos de Gemini – Giulia Magno”