Alerta de Gatilhos: Homofobia. Suicídio. Fanatismo Religioso. Abuso Infantil.
Se você é o tipo de leitor que curte um bom Thriller Nacional, regado de críticas fortes e que de quebra apresenta um enredo bem intrincado, envolto em um mistério quase impossível de solucionar, então esse é o livro certo para você.
Nome: O Beijo do Rio
Autor: Stefano Volp
Páginas: 320
Editora: Tag Inéditos do mês de Abril de 2022
Sinopse: Durante uma adaptação da peça “Romeu e Julieta”, intitulada “Romeu e Júlio”, algo de errado ocorre; Romeu, o homem que dá vida ao “Romeu” bebe um frasco com veneno de verdade. É assim, que todos acreditam que o rapaz tirou a própria vida, todos exceto sua noiva Jéssica que desesperada e por achar seu amado havia sido assassinado, procura Daniel, melhor amigo e antigo amor de Romeu. É assim que Daniel, agora jornalista, volta a sua cidade natal a fim de investigar que podres cercam aquela localidade pequena, sombria e fanática.
“O Beijo do Rio” é aquele tipo de livro que envolve o leitor em suas páginas. Isso porque detêm uma narrativa fluída, rápida e muito bem intrincada em um mistério bastante intrigante. Aqui, é quase impossível descobrir todos os segredos que rondam a repugnante cidade de “Ubiratã”, um lugar remoto repleto da mais odiosa população possível.
Ubiratã é aquela típica cidade do interior regada de preconceito por parte de seus habitantes, pessoas sem escrúpulos que não pensam duas vezes ao ferir o próximo com comentários depreciativos e atitudes atrozes. Um dos pontos fortes da narrativa, talvez seja a crítica ao fanatismo religioso que evidencia o quanto as pessoas são cegas frentes ao que acreditam ser “obra do demônio”.
“Quando os pesadelos do passado são maiores do que as boas memórias, você precisa deixá-los para trás. Precisa abandoná-los com tudo que eles representam.”
Uma narrativa nacional de altíssima qualidade, que apresenta uma trama de mistério bem desenvolvida, como também critica os fanáticos e preconceituosos que caminham por aí. Uma obra que apresenta uma cidade cega frente a seus próprios males e evidencia com força que o “homem” é o próprio demônio de suas histórias.
A cidade de Ubiratã
E que cidade mais tenebrosa, tomada por uma população medíocre de mente pequena “O Beijo do Rio” apresenta.
Um lugar ermo, pequeno, mas que diferente daquelas cidades repletas de causos assombrosos, se agarra aquela típica assombração demoníaca que possuí os corpos de seus habitantes. É assim, com esse pensamento, que as pessoas de Ubiratã são coniventes com as mais tenebrosas e aterradoras situações traumáticas a qual os líderes religiosos levam as crianças.
“Às vezes, as memórias estabelecem-se por inteiro em menos de um segundo. Você apenas se lembra do acontecido como todo, não como um filme ao qual assiste.”
Essa é uma obra que choca devido a toda a crueldade gráfica exposta no passado do protagonista, Daniel, que ao ser declarado como um garoto possuído pelo mal, é frequentemente exorcizado por meio de requintes de crueldade, além de ser rechaçado e afastado pela própria família que ao invés de tentar dar suporte ao menino, apenas o acusa de envergonhar a todos.
É triste perceber como o fanatismo religioso se insere dentro da narrativa, fazendo com que toda uma população acredite que uma criança, que apenas não quis se batizar, está possuída por uma entidade demoníaca.
Pessoas de mente pequena, sem escrúpulos, personagens detestáveis e que o leitor vai torcer para se dar mal a todo instante. Porque sim, tirando Daniel e alguns poucos “revolucionários”, essa cidade pequena está dominada pelo mal que há nos homens.
Fanatismo Religioso e Homofobia
Eu gostei demais de como esse tema foi abordado de forma crua e cruel pelo autor, evidenciando o quanto ser fanático por algo pode ser tenebroso e desnecessário. Em “O Beijo do Rio”, fica comprovado que o ser humano não tem limites e que muitas das coisas são feitas em prol de seu próprio bem-estar.
Aqui, a questão fanática é evidenciada tanto pela forma doentia com que os fiéis da religião das “Sete Virgens” idolatram seu ‘Apóstolo’, quanto pelo fato de que a própria religião se mostra o alicerce para esconder tiranias e vilanias perpetradas ao longo de anos e décadas.
“Todo mundo tem monstros. Os piores são aqueles que se disfarçam de santos a vida inteira.”
Talvez o mais chocante disso tudo, é saber como a palavra tem o poder de causar uma lavagem cerebral na mente de pessoas com a cabeça fechada para enxergar a verdade. Afinal, tudo é apenas escondido e mantido pela população de Ubiratã devido ao discurso feito por seus líderes religiosos.
A Homofobia também é outro ponto que merece destaque, afinal está presente ao longo de toda a trama. Seja pelo amor “proibido” de Romeu e Daniel, ou mesmo pela forma como os fanáticos se dirigem a peça “Romeu e Júlio”, como algo profano e blasfemo.
Ou seja, nessa obra é perceptível o quanto as pessoas podem ser maldosas e cruéis. Infelizmente, algo que não existe apenas na ficção.
Ansiedade e distúrbios psicológicos
Uma coisa que certamente chama a atenção na narrativa é a condição mental de Daniel, que tem de tomar remédios constantes para poder conseguir se manter são.
Na trama, conhecemos um rapaz atormentado pelo seu passado, uma infância triste, solitária e dolorosa em que ele foi duramente massacrado pela população da cidade em que vivia. Um homem que cresceu criando barreiras em sua mente para tentar esquecer os traumas que viveu na mão de sua família tóxica e destrutiva, que se deixava levar pelas palavras de um homem que se dizia divino.
“Seu retorno chancelava-o como o caçador, e não a caça. Não suportara ser dominado no passado e não seria agora. Não seria oprimido por colonizador algum.”
Daniel cresce como um rapaz depressivo, com ansiedade e problemas para dormir. O vulto de “Jonas” não o deixa em paz e ao longo da narrativa temos algumas nuances de seus problemas, percebendo o quanto aquela cidade corrosiva destruiu a sua mente.
Devo dizer que a construção de Daniel, seu passado, dores, medos, anseios é fenomenal.
“O Beijo do Rio” é um Thriller Nacional que apresenta uma trama bem intrincada, repleta de suspense e com um final perturbador. Um livro forte, que exprimi com crueza a homofobia, o fanatismo religioso e a toxicidade em família, apontando que quase sempre, o homem é o pior monstro que já caminhou pela terra.