Existem certos livros que é um grande desafio fazer resenha deles. Não porque é difícil, sabe?! Mas sim, porque a história tem tantos ensinamentos, que apenas transpor cada um deles em uma resenha gigante não faz tanto sentido assim… Esse é um desses livros; tão belo quanto o pôr do sol.
Nome: Provence: O Lugar onde se curam corações partidos
Autor: Bridget Asher
Páginas: 379
Editora: Novo Conceito
Sinopse: Heidi está de luto pela morte de seu marido, Henry. Mas ela já está em luto tem anos e dessa forma, aprendeu a sobreviver, e não viver. Com um filho pequeno pra criar, ela se acostumou com sua solidão e saudade, ambas de mãos dadas o tempo todo. Mas sua armadura acaba por ruir no dia do casamento de sua irmã. É nesse dia que ela se deixa cair em lágrimas na frente da sua mãe que lhe faz uma proposta; tirar “férias” indo para uma casa em Provence, na França e fazer a reforma necessária na residência. Depois de muito pensar e sentindo que precisa pôr a vida nos eixos, Heidi parte para a França acompanhada de seu filho Abott e da enteada de sua irmã, Charlotte. E é em Provence que muita coisa pode mudar…
“Provence: O lugar onde se curam corações partidos” é uma história de amor. Isso é inegável. Mas ele é também, aquele tipo de livro que é muito mais do que apenas uma história de amor. Isso porque a narrativa discute de forma lenta e dolorosa, muitos assuntos pertinentes como; a superação do luto, recomeços, a dor da saudade, e a melancolia da solidão.
Aqui, somos brindados com uma coleção de personagens bem construídos, quebrados e que vão se reconstruindo aos poucos durante a narrativa. Todos são importantes a sua própria maneira e estão ali para cumprir seu papel. Cada um possuí sua profundidade e suas camadas, que faz com que sejam infinitamente reais em todas as suas qualidades e defeitos.
“Você não pode deixar que os seus medos o impeçam de viver a sua vida.”
É através de uma narrativa lenta, sem pressa em ser apresentada ao leitor, que conhecemos não apenas esses personagens partidos, como também toda a Provence. Uma França mais interiorana, com seu sol de tarde, doces saborosos e principalmente, todo o romantismo que paira sobre a cidade mais amorosa do mundo.
A ambientação é um detalhe a parte, mas feita com tanta maestria pela autora, Bridget Asher, que é impossível o leitor não se ver em meio as flores e montanhas esverdeadas de uma primavera francesa.
Narrativa lenta. Incomoda?
Eu particularmente, gosto bem mais de quando os livros possuem aquele desenvolvimento lento, através de uma narrativa que se constrói gradualmente, sem pressa. Acho que esse tipo de evolução da trama, enriquece os livros, pois faz com eles possuam camadas mais profundas e reflexivas.
“Em geral, eu via o amor como um acordo que dependia do desejo de ambas as partes de assumir um compromisso.”
Esse é o caso de “Provence: O lugar onde se curam corações partidos”. Aqui, temos uma história que se constrói devagar, apresentando ambientes, personagens, sentimentos e emoções de forma lenta que vai se desenrolando aos poucos.
E, embora eu tenha demorado a engrenar na leitura, acredito que esse cuidado com a construção narrativa fez com que eu me conectasse por inteiro com a trama apresentada.
A autora, Bridget Asher, não possuí nenhuma pressa em relação a apresentar os personagens e seus dilemas pessoais, assim como descreve com calma e sutileza toda a ambientação presente no enredo. Pontos que fazem com que o leitor se sinta imerso na narrativa. O interessante nisso, é que todos os personagens apresentados são únicos em suas características, forma de pensar, falar ou agir. Você sabe exatamente quem é quem.
Personagens cativantes e quebrados
Porque um livro que tenha personagens bem construídos, profundos, com dilemas pessoais, que estejam quebrados e que queiram recomeçar de alguma forma; são sempre os meus favoritos.
Embora “Provence: O lugar onde se curam corações partidos” não tenha se tornado um livro favorito, por enquanto, eu gostei demais de todos os personagens apresentados pela autora. Fato é, que o leitor não sente raiva ou ódio por qualquer um deles em algum momento, mas sim empatia durante toda a narrativa.
“Apesar de sua dor não ser a mesma que a minha, no fundo era tudo a mesma coisa. Sua dor era sombria e profunda. Era bonita. E se o mundo tivesse apenas mais sofrimento a oferecer?”
Nesse ponto, devo mencionar que tanto a construção dos protagonistas da trama, quanto dos coadjuvantes é extremamente incrível. São personagens reais, palpáveis, com sonhos, medos, desejos e principalmente, que precisam superar algum tipo de rasteira que o universo lhes deu.
Desde a protagonista Heidi, que sofre com o luto pelo marido, até mesmo a adolescente solitária e fechada Charlotte, que esconde um “pequeno” segredinho na trama. São personagens infinitamente cativantes e que estão ali, naquele lugar mágico, para tentar de alguma forma recomeçar.
Recomeços
Uma coisa interessante, é que quando comecei a escrever a resenha, eu estava totalmente certa de que “Provence: O lugar onde se curam corações partidos” é um livro que fala sobre o “Luto”. E eu estava enganada.
Ao longo da resenha, percebi que o intuito da obra não é falar sobre o luto, sobre a dor da perda sofrida pela protagonista e o quanto ela se aflige por não conseguir seguir em frente por ter sempre a presença do marido em sua vida; quando comecei a escrever a resenha, percebi que este é um livro sobre Recomeços.
“Toda vez que alguém me dizia que não havia problema em seguir em frente, que eu deveria seguir em frente, menos capaz de fazer isso eu me sentia. Era como se me dissessem para esquecer Henry e eu sentia que isso seria uma espécie de traição.”
Porque não é só a protagonista Heidi que tem que Recomeçar, mas todos os personagens da trama estão passando por momentos difíceis em que precisam rever suas escolhas, suas vidas e optar por seguir em frente através de uma restauração.
Seja Heidi para superar o luto, seja Julian para superar a separação da esposa ou mesmo Charlotte, que passa por um momento de transição conturbado em sua vida.
Cada personagem tem seu próprio dilema para superar e cabe a ele próprio encontrar um motivo para seguir em frente.
Drama Familiar e Segredos
E “Provence: O lugar onde se curam corações partidos” é sem dúvida um ótimo Drama Familiar. O meu gênero preferido. Isso porque, embora boa parte da trama seja tranquila, sem acontecimentos alarmantes que nos fazem querer ler rápido, esse é um livro que têm seus segredinhos e seus plots.
E acredite em mim que você vai descobrir essas reviravoltas do nada, em uma conversa no café da manhã ou no jardim em frente a uma fonte.
O mais interessante disso tudo, é que todos os plots apresentados são plausíveis de ocorrerem na vida real, não são inimagináveis ou que mudam drasticamente o curso da vida e das nossas escolhas, mas sim questões que podem ser resolvidas de uma forma tranquila.
“De repente, nós três parecíamos um trio improvável. Estávamos ali porque era hora de Charlotte expandir seus horizontes, Abbot precisava de uma chance para vencer seus medos, e eu? Eu estava em uma peregrinação para curar um coração partido e deveria aprender a viver mais uma vez, aprender a estar viva.”
Além disso, todas reviravoltas da trama são encadeadas por segredos escondidos ao longo da narrativa. Ótimos segredos, por sinal. O que gostei desses plots, foi o fato de que me surpreendi em cada um deles, já que, eu realmente não fazia a menor ideia de que eles estavam ali.
Ou seja, ponto positivo para o livro que embora não seja de suspense, conseguiu entregar reviravoltas maravilhosas dentro do enredo.
Aaaah… A França!
E como encerrar essa resenha sem falar do país dos apaixonados, não é mesmo?!
A história se passa na França, mais precisamente no interior do país, em meio a montanhas esverdeadas que mudam de cor conforme o posicionamento do sol no céu. Um lugar lindo e que realmente consegue curar corações devido a toda a atmosfera de mudança e amor que o permeia.
O livro é uma verdadeira viagem. As descrições da autora são maravilhosas e totalmente imersivas, fazendo com que o leitor se sinta dentro da narrativa, caminhando pelos jardins ou montanhas que permeiam Provence.
“O amor é infinito. A tristeza pode levar ao amor. O amor pode levar à tristeza. A tristeza é uma história de amor contada de trás para frente, da mesma forma que o amor também é uma história triste contada do fim para o início. Toda boa história de amor tem muitos outros amores escondidos dentro dela.”
Outro ponto bastante interessante e que eu gostei demais, foi o fato de que o livro apresenta receitas de doces franceses, afinal a protagonista é confeiteira e em vários momentos da trama ela se deixa saborear os mais diversos docinhos produzidos no país.
Um deleite que consegue fazer o leitor sentir água na boca.
“Provence: O lugar onde se curam corações partidos” é um livro lento, mas repleto de camadas ao apresentar personagens quebrados que estão em busca de um recomeço. Uma história que vai muito além do romance romântico e mostra que sempre existe um porque para se seguir em frente.
Acho que é impossível ser infeliz em Provence
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