Um lugar permeado de montanhas gélidas, vilarejos remotos, muitas lendas passadas de geração em geração contadas e recontadas ao redor de uma fogueira. Essa é Invernia, o local onde o gelo e a fantasia imperam no imaginário popular.
Nome: Invernia: Antologia
Autor: Organização Projeto Conte-me
Páginas: 307
Editora: Projeto Conte-me
Contendo 18 contos e um poema, essa é uma antologia que difere de outras coletâneas. Isso, porque a obra foca em mostra as diversas possibilidades de se explorar um determinado tema; Um lugar remoto dominado pela força incomensurável da neve.
“Invernia” é um lugar frio que possuí suas próprias lendas, histórias, superstições, deuses. Um local regado de muita fantasia e que esconde os maiores perigos em cada canto explorado pelos homens de suas terras ou por nós, meros leitores.
Aqui, as narrativas se atem a contar um pouco da história de Invernia. E embora todos os textos se passem dentro do mesmo universo, os contos não se interligam, alguns possuem referências aos outros, mas no geral, são histórias independentes.
“Nos confins do mundo, em uma região abrigada por cadeias de montanhas de clima ártico, nós invernianos, encontramos o nosso descanso.”
Um aspecto extremamente positivo dessa antologia é a qualidade da escrita de seus participantes. Todas as tramas são excelentes no que diz respeito a desenvolvimento de narrativa e os contos passam aquela sensação de perigo e fantasia ao leitor.
E, embora eu tenha gostado demais da obra como um todo tenho uma breve ressalva, visto que as histórias são em sua maioria longas e poucas detêm uma “originalidade” dentro do tema proposto. Esse ponto em específico acabou fazendo a minha leitura ser mais lenta, tornando o livro um tanto enfadonho para mim.
Ademais, se você leitor quer conhecer um lugar mágico e perigoso, repleto de boas histórias e lendas contadas de geração em geração através de narrativas bem escritas e descritas, então você precisa arrumar as malas, pegar um casaco e viajar até Invernia.
A seguir, destaco os cinco contos que mais chamaram minha atenção:
A Perda de Elleria
Aqui conhecemos um pequeno vilarejo erguido em frente a uma gigantesca montanha. Elleria é uma das habitantes desse lugar, morando em uma casinha com seus dois filhos. Viúva, ela aproveita uma vida simples em que dedica seus dias a manter o lar próspero. Porém, é após seu filho mais velho retornar de uma expedição que algumas coisas mudam na vida de Elleria.
“Até mesmo as pessoas se tornavam frias por dentro em Invernia, esse é o destino dos corações mais fracos.”
Esse foi meu conto preferido da antologia. Isso porque de todos, ele é um dos poucos que não possuí aquele aspecto de lenda ou história remota, mas sim de algo que possivelmente ocorreu. Aqui, a força de Elleria foi o que mais me conquistou e causou empatia. Sem dúvida, a história mais tocante da obra.
Na sombra da Lua
Aqui conhecemos Helina, uma moça que está prestes a participar de um importante ritual em sua pequena aldeia, mas que devido a isso, tem de estar longe de seu amado Vladmir. É assim que a moça espera ansiosa pelo momento em que poderá se encontrar com seu amor. Porém, durante o ritual uma estranha visão acomete a garota e talvez seu futuro seja um pouco incerto.
“O Demônio provará que às vezes as lendas diziam a verdade.”
Eu gostei de como esse conto retrata a dor da perda e do luto e como essa aflição pode ser destrutiva dentro de nós, principalmente quando não nos permitimos deixar curar. É um conto simples, mas que retrata de forma dolorosa e coerente o sofrimento e até onde ele pode nos levar.
A Lenda de Dois Irmãos
Acompanhamos a viagem de um avô e seus dois netos em direção a uma montanha enevoada. Ao longo do trajeto, o senhor de idade conta aos meninos a lenda de dois irmãos que foram amaldiçoados pelos lobos daquela mesma montanha anos atrás.
“Nevava como qualquer meio de inverno e ventava como qualquer ponto elevado no mapa.”
Esse foi um conto que me surpreendeu devido a reviravolta do desfecho. A composição atmosférica, bem como a construção de personalidade dos três personagens da narrativa são excelentes, o que faz com que o final seja coerente e desolador.
O Segredo da Pedra Azul
Aqui conhecemos um viajante que chega em uma estalagem com uma ideia suicida na cabeça; escalar uma montanha de gelo em busca da lendária Pedra Azul, um artefato místico que concede o maior desejo dos homens, mas que todos consideram apenas uma história perdida.
“A jornada começa quando você acredita.”
Essa é aquela típica narrativa de aventura em que acompanhamos os personagens se unirem e partirem rumo ao desconhecido em busca de algo incerto. Gostei bastante de como essa narrativa transmite momentos de perigos ao mesmo tempo em que evidencia toda a composição atmosférica gelada que permeia Invernia.
Ruínas de Mármore
Aqui conhecemos a druida Amélia, uma jovem que parte em direção as Ruínas de Mármore com um único objetivo em mente; alcançar a glória e conseguir mais poder através da “Lágrima Congelada”. É assim, que ao chegar ao lugar, se depara com um grupo de criaturas que passam a ensinar a moça sobre o mundo em que vivem e sua forma de viver.
“De que adiantaria ter um mapa se ele não te levaria a lugar nenhum.”
Esse é um daqueles contos que ao mesmo tempo que aquece o coração do leitor, o destrói. O que mais gostei nessa narrativa foi a construção de Amélia, uma personagem que anseia pelo poder, uma mulher que almeja crescer e ter a força que tanto deseja, mesmo que para isso tenha de recorrer a uma pedra mágica. Egoísmo?! Talvez, mas Amélia é firme em suas convicções e isso me fez admirá-la.
“Invernia” é uma grandiosa viagem gelada que transporta o leitor para um mundo repleto de magia, lendas, deuses e locais inexplorados. Um livro com uma gama de histórias poderosas que vão desde o drama ao terror, evidenciando o quanto um único tema pode ter inúmeras possibilidades.
Republicou isso em Universo Candura.
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