Alerta de Gatilhos: Violência Psicológica contra adolescentes.
Um livro que aborda com delicadeza um tema de grande importância e relevância de ser discutido atualmente; o diálogo, principalmente quando este está em falta dentro do seio familiar. Certamente, o tipo de obra que deveria ser lido não apenas na adolescência, como também por todo pai e mãe de jovens.

“É que a gente acha que a loucura e a sanidade ficam em lados opostos de um oceano, mas na verdade não passam de duas ilhas vizinhas.”
Nome: O que há de estranho em mim
Autor: Gayle Forman
Páginas: 214
Editora: Arqueiro
Sinopse: Quando seu pai fala para Brit que eles vão fazer uma viagem para o Grand Canyon, mal sabia a garota que ele estava mentindo e que ela teria sua vida mudada para sempre devido a infeliz escolha do patriarca da família de interná-la em um reformatório para jovens desajustadas. O que o pai de Brit e nem ela sabiam, é que o local chamado “Red Rock” era um internato medonho e nefasto que usava de abuso físico e psicológico para “corrigir” as jovens que chegavam por lá. Resta a Brit apenas torcer para sair daquele inferno e é com a ajuda de quatro meninas, que uma centelha de esperança se acende dentro do coração de cada uma delas.
“O que há de estranho em mim” é aquele tipo de livro que você recomenda a todos pelo fato de sua abordagem central ser a importância do diálogo entre pais e filhos, principalmente dentro de uma família que tem de lidar com as nuances e questões que permeiam a mente de um jovem que está entrando na adolescência.
“O sarcasmo cria um abismo entre você e os outros.”
É através da narrativa em primeira pessoa que conhecemos Brit e outras quatro garotas que foram parar em um reformatório que detêm como objetivo ajudar a “consertar” a mente de adolescentes desajustadas. É claro, que a escola não é um paraíso e as meninas sofrem os mais diversos abusos físicos e psicológicos.
Vale ressaltar, que apesar da trama ter essa premissa mais “pesada”, não há momentos explícitos de violência física, porém é necessário frisar que existem momentos aterradores de violência psicológica. Afinal, para os trogloditas que comandam a “Red Rock”, todas as internas são desajustadas e possuem em algum grau um certo distúrbio mental.
E é nesse cenário caótico e depressivo que surge o “Divinamente Fabuloso e Ultraexclusivo Clube de Malucas” e uma amizade que proporciona aquele fio de esperança de que algum dia tudo pode melhorar.
A amizade dentro do Reformatório
Acredito que mesmo que a amizade não seja o tema central abordado em “O que há de estranho em mim”, ainda é um ponto de grande importância e relevância dentro da narrativa, afinal é a amizade das cinco garotas que as mantêm firme frente ao horror que ocorre atrás das paredes de concreto da “Red Rock”.
“Quando estamos cercados de inimigos, não podemos nos dar o luxo de guardar rancor dos amigos.”
Aqui, é possível perceber como em situações de grande estresse a amizade impera não apenas como uma espécie de válvula de escape, mas também como a parte central para fazer com que os dias tenebrosos se tornem mais suportáveis e aquela linha tênue de esperança possa se manter sempre visível para as garotas.
Além disso, é através da amizade das meninas que percebemos que a trama gira em torno da falta de diálogo. Afinal quando começamos a conhecer cada uma das personagens vemos que nenhuma delas tinha um problema mental, mas sim reflexos de uma adolescência incompreendida e de questões que precisavam ser faladas, mas que foram negligenciadas por seus pais.
Como não conhecemos as pessoas
E esse ponto, nos leva a uma breve reflexão que é possível fazer dentro da narrativa construída em “O que há de estranho em mim”; o fato de como não conhecemos as pessoas ou seus passados, até que elas nos relevem suas histórias.
“Sabia muito bem como uma decepção era capaz de corroer por dentro até o momento em que a gente acaba explodindo.”
De início conhecemos de forma superficial cada uma das quatro garotas com que Brit faz amizade. Nos primeiros capítulos pouco sabemos sobre elas, as informações se limitam ao necessário para que ocorra a conexão da protagonista e do leitor com as meninas. O que sabemos é que elas também estão na “Red Rock” e foram enviadas por suas famílias.
É apenas ao longo da trama que conhecemos os reais motivos para que elas estejam condenadas as paredes de concreto da instituição. E acredite, são motivos tristes que apenas precisavam de compreensão. Situações que nada tinham de errado, mas apenas fugiam do padrão estabelecido pela sociedade. Uma miss mirim que engordou, uma garota com compulsão sexual, a descoberta da homossexualidade e até mesmo o desenvolvimento de uma fobia pela morte.
São meninas que detêm suas próprias histórias, que poderiam muito bem ser eu, você ou alguma amiga que estudou conosco no colegial.
O Clube de Malucas
E o que dizer dessas meninas, não é mesmo?
Em “O que há de estranho em mim” temos cinco protagonistas que além de possuírem uma das amizades mais lindas que já pude ler em um livro, são únicas, humanas e detêm aquela essência jovem, mas sem cair naquele estereótipo de “aborrecente”.
“Portanto, não só eu não fazia a menor ideia de quando poderia voltar à minha vida normal, como também não sabia quem eu seria quando isso enfim acontecesse.”
São personagens que sofrem com as descobertas provocadas pela adolescência. Sejam mudanças corporais, de humor, a descoberta da própria sexualidade, o medo de estar prestes a se tornar adulta e até mesmo medos infundados pelo que poderá vir no futuro.
Cada uma das personagens apresentadas é única e detêm sua própria personalidade e mesmo que em alguns momentos elas acabem caindo naquele estereótipo que vemos em filmes que retratam adolescentes, ainda assim, não são personagens irritantes, mas sim bem construídas mentalmente e emocionalmente.
Uma trama regada de amor pela música
E uma das coisas que apesar de não ser muito evidenciada ao longo da trama, mas que está presente nela, é a música. Isso porque a protagonista, Brit, é guitarrista e cantora em uma banda de punk rock, fazendo, é claro, aquela analogia a adolescente rebelde.
“Era como se a música me curasse, trazendo de volta a pessoa que eu era, a minha autoconfiança.”
O interessante desse ponto, é que a personagem consegue quebrar totalmente esse estereótipo, afinal ela é uma menina um tanto tímida e que sente medo de um dia ter o mesmo destino que sua mãe. Outro ponto, é que para conseguir lidar com o novo casamento de seu pai, ela se esconde e se perde na música, afinal é o que a faz se sentir bem.
E embora não tenha muitos momentos musicais ao longo da trama, os que tem são perfeitos. São momentos que não apenas mostram a conexão de Brit com a melodia, como também evidência todo o amor da garota em estar em um palco e esquecer, mesmo que por um momento, suas dores.
Momentos tensos Vs Momentos descontraídos
E como eu mencionei anteriormente “O que há de estranho em mim” possuí cenas um tanto fortes relacionadas a abuso psicológico, mas vale ressaltar que todos as situações pesadas da narrativa, são quebrados ao longo da trama por capítulos suaves que mostram as meninas em momentos descontraídos.
“Eram tantas as tragédias que eu tinha conseguido evitar naquela última semana que eu já começava a ficar preocupada: cedo ou tarde minha sorte chegaria ao fim.”
Aqui, temos aquelas típicas ocasiões de amizade em um clube secreto, criado especialmente para que as meninas possam não apenas se conhecer, como liberar a raiva de estarem presas em um local totalmente inóspito que as trata como animais.
São situações que vão desde reuniões que expõem conversas e desabafos, como também instantes que precedem o natal em que ocorre uma breve troca de presentes. Momentos significativos tanto para as garotas, como para nós leitores, que precisamos de um descanso frente a toda a crueldade pelo qual elas passam.
Famílias tóxicas
E por fim, falemos sobre o tema central discutido em “O que há de estranho em mim”, as famílias tóxicas e como elas podem ser absurdamente piores do que a própria instituição em si, afinal são familiares que não aceitam seus filhos do jeito que eles são e que acham que eles estão doentes apenas porque são fora do padrão estabelecido pela sociedade.
“Eu começava a reparar que o maior empecilho na Red Rock não eram as portas trancadas nem os alarmes, mas o nosso próprio medo. E apenas nós mesmas podíamos dar um jeito nisso.”
É triste, mas infelizmente, famílias assim existem aos montes por aí. Pais e mães que não dão a mínima para quem seus filhos são, pessoas que tentam a todo custo fazer com que eles sejam a sua própria imagem e semelhança. Parentes cruéis que descontam em seus filhos, a própria frustração.
E aqui, fica evidente que tudo pelo que as meninas passam poderia ter sido resolvido com uma conversa de pais para filhos, um daqueles diálogos esclarecedores que mostra que ninguém está sozinho e que todos possuem alguém para confiar.
A importância do diálogo dentro do seio familiar
Porque o diálogo é fundamental para que ocorra não apenas um bom relacionamento familiar, mas também, para preparar as crianças e adolescentes para o futuro e principalmente para a vida adulta, porque se não há um preparo, a vida se mostra dura, cruel e difícil.
“Não existem madrastas malvadas, não existem fadas madrinhas, não existem príncipes encantados. Não existe um destino predeterminado. É você que manda no destino. É você que decide o que faz.”
Aqui, fica evidente que todas as meninas foram negligenciadas nesse aspecto tão importante. Nenhuma teve um conselho familiar ou mesmo um acompanhamento psicológico para tratar suas questões internas mais íntimas. Pelo contrário, todas foram tratadas como desajustadas por suas famílias. E é triste demais, pensar que se elas continuassem na terrível “Red Rock”, teriam um destino pior em suas vidas.
“O que há de estranho em mim” é um livro que aborda com delicadeza a falta de diálogo dentro do seio familiar, expondo os dilemas e dúvidas que cercam a mente de um jovem e fazendo o leitor refletir sobre a importância do diálogo. Uma trama que possuí como estrutura central o poder da amizade para ajudar a superar os mais terríveis obstáculos, porque quando se tem boas amizades, sempre há aquela pontinha de esperança de que tudo um dia possa se revolver.
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