Uma história sobre um relacionamento, mas que nada tem de romântico. Um livro que aborda com delicadeza e crueza as faces de uma relação encarada como diferente pela sociedade, abordando questões pertinentes de serem discutidas como o racismo, o preconceito, a velhice e a política.

“Talvez só existissem pessoas se perguntando se outras não estariam se perguntando, o que acabava sendo uma boa definição para constrangimento.”
Nome: Igualzinho a Você
Autor: Nick Hornby
Páginas: 414
Editora: Edição exclusiva da Tag Inéditos do mês de Dezembro de 2021
Sinopse: Joseph é um rapaz negro de 22 anos de idade que trabalha em um açougue, faz bicos como babá e nutre o sonho de ser DJ. Lucy é uma mulher branca de 42 anos, mãe de dois filhos, coordenadora de um curso de inglês e frequentadora assídua do açougue em que Joseph trabalha. É após a moça contratar o rapaz para cuidar de seus filhos por uma noite que um relacionamento entre eles surge. Uma relação permeada de incertezas, medos, inseguranças e que é vívida todos os dias como se fosse o último.
“Igualzinho a Você” é aquele tipo de livro que a princípio pode enganar o leitor que pensa ler um livro romântico. A verdade é que esse é um livro profundo, que aborda muito mais do que apenas o amor entre duas pessoas. Uma obra que expõe com delicadeza e crueza os empecilhos de um relacionamento considerado diferente por uma parte da sociedade.
“Como alguém podia ser capaz de dizer com alguma certeza o que mais odiava no mundo? Sem dúvida dependia da proximidade da coisa odiada num momento específico, se a pessoa estava fazendo ou comendo ou escutando a coisa naquela hora.”
Aqui, temos a abordagem de uma relação entre um homem mais novo e uma mulher mais velha em que todos os pontos desse namoro são levantados e debatidos ao longo do enredo; desde o preconceito que o casal sofre devido à diferença de idade, até situações que envolvem as diferenças culturais e sociais que os cercam. Afinal, Lucy é uma mulher branca de classe média enquanto Joseph é um homem negro de classe baixa.
São os pontos voltados para a realidade e a discussão deles ao longo do enredo que faz desse um livro humano e reflexivo, visto que é ao longo das pouco mais de 400 páginas que o leitor não apenas passa a perceber os sentimentos mais profundos do casal, como também compreende todos os medos e inseguranças que os cercam.
Lucy e Joseph
Mas vamos falar um pouco mais sobre os protagonistas da trama; o casal Lucy e Joseph.
Particularmente eu me identifiquei em muitos aspectos com o Joseph e consegui me conectar bastante com Lucy e suas inseguranças. E mesmo que em alguns momentos eu tenha achado a personagem chata, compreendi que tudo era muito novo e arriscado para ela.
“Duas pessoas podiam ter os mesmos gostos em tudo, as mesmas qualificações, compartilhar o mesmo senso de humor e as mesmas preferências políticas, mas uma dependência perversa era capaz de destroçar tudo aquilo, deixando um rastro de um milhão de pedacinhos que ninguém saberia como colar de volta.”
Em “Igualzinho a Você” temos esse casal que é totalmente o oposto. São pessoas diferentes em absolutamente tudo, seja em cultura, classe social e econômica, até mesmo em pensamentos políticos. Lucy e Joseph podem até ser considerados aquele exemplo de “os opostos se atraem”.
Mas existe muito mais do que apenas isso na relação que inicia como uma atração física.
Embora sejam diferentes entre si, é possível dizer que são as diferenças um do outro que os completa de alguma forma. Afinal, ambos tem seus problemas com a autoestima e um acaba ajudando o outro a perceber qualidades que sozinhos eles não perceberiam. E mesmo que este seja um relacionamento fora dos padrões estabelecidos pela sociedade, ele é, de certa forma, um relacionamento saudável.
O Relacionamento
Porque ambos conseguem ser o melhor que podem um para o outro. Tanto Lucy quanto Joseph estão tentando fazer aquilo que parece “impossível” dar certo de alguma forma. Mesmo que a insegurança esteja sempre presente na vida de cada um deles.
E medo do futuro e até do presente é o que não falta em “Igualzinho a você”.
Enquanto Lucy se vê em frente ao espelho apenas como uma mulher que está envelhecendo e por consequência “paralisando” a vida de um rapaz de pouco mais de vinte anos que ainda tem muito chão pela frente, Joseph se sente inferior intelectualmente a Lucy durante quase toda a narrativa.
“Ninguém tinha dito “eu te amo”, Lucy reparou, e ainda assim cada um encontrara seu jeito de fazer o outro escutar que era amado. Parecia um bom ponto-final.”
Essa inferioridade do rapaz vem não apenas devido a sua origem simples, afinal ele não teve a melhor das educações e não possuí um emprego estável que lhe proporcione uma boa renda, mas também do fato de que ele é aquele típico jovem sonhador na casa dos vinte e poucos anos que ainda busca tornar seus sonhos realidade e uma fonte de renda.
Esse ponto é essencial para fazer com que o leitor se conecte com o personagem, mesmo que este faça algumas coisas “erradas” ao longo do enredo.
É interessante perceber como a dualidade de sentimentos de insegurança e medo regem a narrativa. Ambos os protagonistas possuem suas próprias questões internas a serem trabalhadas e o autor, Nick Hornby, faz questão de frisar esse ponto ao longo da trama, sempre impondo que aquela atitude não é culpa do outro, mas si do próprio personagem.
Ademais, são essas características presentes na obra que tornam esse livro bastante humano, não puramente uma história de amor romântica, mas sim uma história sobre um relacionamento que está sempre pendurado em uma corda bamba. Um namoro real.
Preconceito e Racismo
Uma das coisas mais importantes e evidentes ao longo da narrativa, são as discussões relacionadas ao preconceito e ao racismo debatidas em “Igualzinho a você”.
E embora esses assuntos não sejam aprofundados ou abordados de forma pesada, eles estão presentes ao longo de toda a trama, seja pelas fofocas que Lucy começa a sofrer no ambiente de trabalho devido ao seu relacionamento com um rapaz mais novo, ou pelo abismo cultural e a diferença racial que faz dela tão diferente de Joseph.
“Um minuto que levava ao seguinte, um ano depois do outro, cada um deles acrescentando mais flacidez às rugas e rugas à flacidez, invisíveis para o observador do dia a dia, até que o horror fosse de tal ordem que ele não pudesse mais ignorar.”
Joseph em si é o que mais tem questões raciais e econômicas abordadas, seja devido as suas posições políticas ou em um jantar entre amigos que o faz ponderar que nunca vai se encaixar completamente na vida de Lucy, sendo apenas algo passageiro para ela.
O interessante de ambas as abordagens é que o autor expõe esses temas de forma sutil, evidenciando-os em situações corriqueiras, em falas que são usadas a esmo pela sociedade, mas que entregam o racismo em suas palavras, ou mesmo em piadas e deboches, brincadeiras que não possuem nada de brincadeira e apenas conseguem ferir o próximo.
E apesar dos temas, a leitura é leve.
A política como pano de fundo
Entretanto, existe uma coisa que eu acho que foi imensamente mal explorada e executada pelo autor; o pano de fundo político que aborda o Brexit (A saída da Inglaterra do Reino Unido).
Particularmente falando, achei que o autor inseriu o debate político de forma forçada e jogada na narrativa, sem muita definição de para onde essas discussões levariam o enredo. Fato é, que eu acho que se não houvesse nenhuma discussão política na trama, não faria diferença nenhuma .
“O referendo dava a grupos de pessoas que não se gostavam, ou ao menos que não se compreendiam, uma oportunidade de brigar.”
E essa discussão política é até que bem presente em “Igualzinho a Você”, porém, acredito que seja presente de uma forma errada ou equivocada. Aqui, a discussão do referendo ocorre em diversos diálogos ao longo da narrativa, muitos protagonizados por Joseph que não está nem aí para a questão política do país e não tem uma opinião formada sobre.
O que me pareceu, foi que o autor quis colocar a história com esse pano de fundo para transmitir alguma mensagem, entretanto essa mensagem não teve êxito, apenas deixou a narrativa alongada sem necessidade. Uma abordagem política que não possuí coerência com a narrativa e que apenas parecia ter sido inserida para dizer que havia mais uma discussão sendo feita na obra.
Sonhos
E para finalizar a resenha, quero falar um pouco sobre um tema que achei muito agradável de ler na obra, a questão da realização de sonhos.
Eu me identifiquei bastante com o Joseph, principalmente pelo fato dele ser um nato sonhador que não desiste dos seus anseios e persegue com afinco aquilo que deseja. Acredito que todo jovem de seus vinte anos irá se identificar com o personagem que apenas deseja tornar realidade aquilo que tanto ama.
“Tudo se esvaía, porém, de modo suave, melancólico, e a melancolia era apropriada e inevitável.”
E embora esse desejo do rapaz não esteja presente em toda a narrativa e fique em segundo plano, é um sonho que está lá e não pode ser esquecido. O mais interessante é a abordagem de como o desejo do rapaz se concretiza e ao mesmo tempo chega ao fim, colocando um ponto final naquele ciclo sonhador e fazendo Joseph perceber que muitas das vezes sonhos são apenas sonhos.
“Igualzinho a Você” é um livro que aborda com delicadeza e crueza a face de um relacionamento que envolve uma mulher mais velha e um homem mais novo. Uma obra que expõe e discuti temas pertinentes acerca do preconceito, da velhice, do racismo e também da política.
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Amei a resenha, muito bom ❤️faz querer comprar o livro, aliás estou a pensar nisso. Quando comprar eu coloco lá no Instagram e marco você
Excelente recomendação ❤️
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Opa Ana, obrigada por ter gostado da resenha e pelas considerações. Acredito que ele ainda não foi lançado por aqui, né? Pelo menos não vi nenhum anúncio recentemente… Quando você o ler me conta o que achou.
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Amei a resenha ❤️, muito bom mesmo. Faz querer comprar o livro.
Excelente recomendação ❤️
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Aaaaah fico muito grata pelo seu comentário. É um livro que vale a pena, tem ali seus problemas, mas é uma boa leitura de qualquer forma.
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