
Nome: Primeira Pessoa
Autor: Fernanda Furtado
Páginas: 65
Editora: Publicação Independente
Como nesse mês comemoramos o Dia Mundial da Poesia e também o Dia Internacional da Mulher e aqui no Admirável Leitura estamos tendo resenhas temáticas de Poesia e de Escritoras; resolvi trazer a dica de um livro de poesia curtinho, mas igualmente profundo e delicado, publicado de forma independente por uma Poeta Nacional.
“Tenho
Sempre comigo
Seu amor
Nos aviões lotados
No mundo pandêmico
No escuro da noite
Ao voltar para casa
Uso seu amor
Proteção
Contra Zumbis
Os políticos
O silêncio
O porvir.”
Dividido em quatro partes, em “Primeira Pessoa” a poeta, Fernanda Furtado, faz questão de falar sobre o nosso “Eu” interior. Abordando de forma delicada e sensível as nuances de nossos sentimentos mais profundos; evidenciando a poesia que existe dentro de nós e que transbordam nas mais diversas emoções.
“Eu não estou apaixonada
Eu escrevo
Sobre sua boca e suas mãos
Sobre desejos impublicáveis
Que publico mesmo assim
Mas não estou apaixonada
Nenhum cheiro na memória
Nenhum gosto na boca
Nenhuma expectativa
Nenhuma gota de água
A brotar das paredes
A invadir meu corpo
Nenhum desejo de colonização
A me embalar antes de dormir.”
Aqui, temos poesias que marcam fins e recomeços; descobertas da vida e reflexões acerca da nossa própria existência. Cada texto é único e belo por ser tão cru quanto a nossa própria vivência.
Embora a escrita de Fernanda Furtado tenha aquele lirismo latente de poesias, muitos dos textos apresentam situações comuns a mim e a você, fazendo com que possamos nos identificar e refugiar nos sentimentos e emoções descritas.
“No meu pequeno bote entra água
Pelos furos que eu faço
Ou talvez seja chuva que cai sobre mim
O bote fica pesado e afunda
Mas não me afogo
Lembro que sou a água
Uma hora onda, uma hora nada
Quebro na praia e retorno ao oceano
Evaporo e me precipito
Sigo meu caminho a desaguar em rios
Profundos como o centro da terra.”
“Primeira Pessoa” é um refúgio curto, magnífico e esplêndido. Através da poesia crua, mas igualmente lírica e sensível, a poeta expõe ao leitor o íntimo do ser humano, evidenciando que a vida e as emoções possuem aquela veia poética que pulsa em nossa existência.