Aviso: Essa resenha contêm Spoilers. Continue por sua conta e risco.
Tramas que envolvem piratas são sempre regadas de muita aventura e paixão pelo mar. Mas existem aqueles livros que não apenas encantam por apresentar o mundo dos mares ao leitor, como também por de uma forma encantadora subverter o gênero ao ter uma mulher pirata que se mostra a heroína de sua própria história.

“Todo mundo tem uma perda. Mas são poucas as pessoas que estão dispostas a ouvir o que o outro perdeu.”
Nome: A Falsificadora de Mapas
Autor: Natalia Avila
Páginas: 252
Editora: Publicação Independente
Sinopse: Pryia teve o coração partido e seu bem mais precioso roubado pelo mais temível pirata dos sete mares; Leonardo North. Agora, em busca de vingança ela passa os seus dias falsificando mapas em Porto Magnus, vendendo-as a fim de conseguir dinheiro suficiente para comprar um barco e partir atrás do homem que a traiu. Eis que em um belo dia, a moça é descoberta por um pirata que possuí suas próprias motivações para encontrar o capitão North. E é assim, que ele criam uma aliança para partir em busca daquilo que tanto desejam; Vingança. Mas o amor pode surgir das formas mais inesperadas possíveis.
“A Falsificadora de Mapas” é aquele tipo de livro que possui uma narrativa fluída e imersiva ao contar uma história de aventura que se passa em alto-mar. A trama é simples e até um pouco clichê, seguindo os moldes de vingança e ao mesmo tempo incluindo no enredo um romance regado pela dinâmica do “Instalove”, mas que funciona muito bem dentro da proposta da obra.
“Afinal, o segredo das mentiras é ser capaz de acreditar nelas.”
E além do romance, esse é um livro recheado de aventuras com ótimos momentos de luta e tensão. Uma obra composta por uma personagem feminina que subverte o gênero dos piratas ao ser apresentada como uma protagonista forte que consegue ser a heroína de sua própria história. Uma mulher que usa e abusa da sua inteligência e coragem para seguir seu próprio caminho.
Esse é aquele tipo de livro que entrega uma construção primorosa ao leitor, além de evidenciar, através de passagens belíssimas, uma ambientação marítima que encanta e nos transporta para dentro da narrativa. Uma construção regada de riqueza de detalhes. Ou seja, aquele tipo de história que possuí em sua essência toda a magia do mar.
Uma aventura de Piratas recheada de muita Magia
Porque se tem uma coisa que “A Falsificadora de Mapas” consegue entregar ao leitor é a magia do mar; apresentando tanto o encanto de uma navegação rumo a um determinado objetivo, quanto os próprios perigos que se escondem em águas turbulentas. O mar é imenso e muitas coisas se escondem dentro dele.
“Ela era um mapa que instigava sua curiosidade em conhecer cada detalhe. Ele era a bússola que sabia exatamente aonde ir pelo seu corpo.”
A ambientação é perfeita. Um mundo rico em detalhes que permeiam toda a construção primorosa dos cenários que compõem a narrativa. Tanto a imensidão oceânica, quanto as descrições de criaturas tenebrosas ou de locais regados de referências marítimas são esplêndidas.
Cidades, tesouros, criaturas marinhas e piratas malvados que pensam em dominar o mundo. Tudo é muito bem descrito e envolvente, fazendo o leitor se sentir dentro daquele ambiente, como se fosse um personagem da história.
Aqui, conhecemos de tudo ao acompanharmos a pirata Pryia em busca da solução para a resolução de seus infortúnios. Uma personagem incrivelmente forte, que não precisa de ajuda para resolver seus problemas; uma protagonista autossuficiente que entrega ao leitor as melhores cenas de barganhas e batalhas.
Os personagens
E é exatamente através das muitas ambientações bem descritas pela autora que somos apresentados aos diversos personagens que compõem a trama de “A falsificadora de mapas”. E eu confesso que adoraria poder ver um pouco mais de cada um deles ao longo da história.
Aqui, conhecemos desde as criaturas mais estranhas como tritões e sereias, até personagens menos assustadores fisicamente; como é o caso do vilão Leonardo North. Além disso, é preciso frisar que o casal composto por Jim e Pryia é um deleite para os leitores devido a química que apresentam, mesmo que o relacionamento de ambos ocorra através do Instalove, isso tampouco incomoda, afinal o casal combina demais.
“Ela era um navio encarnado, esperando por ventos melhores”
E embora a história tenha o foco quase que total em Pryia, ainda é possível se conectar com os coadjuvantes da narrativa. Personagens que mesmo com pouco espaço cativam ao seu próprio modo, pois são interessantes e possuem seus próprios interesses e motivações, algo que agrada ao leitor, visto que são personagens bastante peculiares devido as excentricidades que possuem.
E eu adoraria poder ler mais sobre eles, acho que o único ponto negativo da história é que ela acaba rápido demais. Eu adoraria poder conhecer um pouco mais sobre as sereias, sobre o vilão, sobre a princesa e principalmente sobre a melhor amiga de Pryia.
Um plot previsível, mas empolgante
E se tem uma coisa que “A Falsificadora de Mapas” detêm é o fato de ser uma trama um tanto clichê com um plot um pouco previsível. Mas isso está longe de ser um defeito.
Afirmo que eu não me incomodei nem um pouco com essa previsibilidade, apenas fiquei ansiosa para que tudo fosse revelado. Fiquei com aquela vontade de saber como tudo aconteceria depois que o plot fosse exposto e confesso que gostei de toda a resolução, por mais que eu não tenha ficado surpreendida.
“A graça dos rumores é que eles sempre são tão verdades quanto mentira.”
E você pode estar se perguntando como eu sabia do plot. Mas o fato é que ele é bem evidente logo no início do enredo já dando para matar a charada. Porém, em uma opinião pessoal, essa descoberta em nada atrapalhou a minha experiência com o livro, muito pelo contrário, me deixou empolgada para continuar a leitura e ver a reação de cada personagem quando tudo fosse revelado.
Por fim, embora tenhamos um plot, não é ele que rege a narrativa, mas sim toda a aventura de Pryia e Jim assim como o romance dos personagens que consegue deixar aquele quentinho no coração do leitor.
Afinal, quem não se derrete com um amor que perdura nos sete mares?!
Romance Clichê que acalenta o coração
Embora alguns pontos do romance não tenham me agradado totalmente, como por exemplo a rapidez com que Pryia e Jim se apaixonam ou mesmo a insistência do rapaz em dar em cima da moça, ainda assim eu gostei de como a autora, Natalia Ávila, construiu o romance ao longo da narrativa quando ele foi evidenciado com mais força.
“Não é porque seu coração foi partido que ele não está aí dentro para ser roubado.”
Isso porque eu adoro quando as histórias terminam de um jeito que eu não esperava, visto que o desfecho da obra é um tanto inesperado e diferente, afinal Jim é um lorde que abdica de sua posição para seguir em aventuras com a pirata que ama. A autora não faz Pryia desistir de seu amor pelo mar para viver uma vida de contos de fadas.
E eu adorei isso.
Histórias que mostram que uma mulher não precisa desistir de seus sonhos ou daquilo que ama por um amor são sempre as minhas favoritas, pois evidenciam que é possível amar e ser você mesmo em todas as circunstâncias. E Pryia continua sendo ela mesma do início ao fim, sendo a personagem mais incrível e cativante de toda a obra.
Relação Paternal
E mesmo que esse não seja o ponto principal da narrativa, a relação entre Pryia e seu falecido pai é muito bela de ler.
Aqui somos apresentados a uma relação que vai além da paternidade e admiração de um filho por um pai. Uma conexão que exalta a amizade e cumplicidade entre ambos, mostrando o quanto uma relação familiar saudável é inspiradora para nos fazer crescer e perseguir nossos sonhos.
“Felicidade era apenas um momento que antecedia uma desilusão.”
Pryia deixa claro durante toda a narrativa o quanto seu pai foi importante e especial, o quanto ela o admirava. É não é apenas belo de ler toda essa conexão entre os personagens, mas também gratificante. Afinal, a moça expressa tão bem seus sentimentos que é impossível não se emocionar com a saudade e o amor infinito que ela tem pelo homem que ajudou a lhe dar a vida.
“A falsificadora de mapas” é uma grande história de piratas que cativa ao apresentar uma construção de mundo encantadora, regada pela beleza marítima e uma trama repleta de aventura, romance e perigos. Uma narrativa fluída protagonizada por uma personagem feminina que é infinitamente corajosa.