Alerta de Gatilhos: Assassinato. Violência. Uso de substâncias.
Com uma narrativa que se inicia fria e um pouco antes de chegar na metade se torna tensa o suficiente para causar angustia e euforia ao leitor em momentos específicos, esse é um livro que detêm um bom Plot e um complexo desenvolvimento da mente de uma pessoa traumatizada.

“Você não pode mudar o que aconteceu. Mas pode controlar a maneira como lida com isso.”
Nome: As sobreviventes
Autor: Riley Sager
Páginas: 327
Editora: Gutenberg
Sinopse: Quincy é uma garota remanescente. A única sobrevivente de um massacre que ocorreu dez anos atrás e dizimou a vida de seus amigos no Chalé Pine. No presente, a moça recebe uma notícia que a deixa abalada; Lisa, a primeira das três garotas remanescentes que sobreviveram a massacres, tirou a própria vida. Como se não bastasse, ela ainda recebe a inesperada visita de Samantha Boyd, a segunda garota remanescente. É partir desse ponto que a vida pacata que Quincy achava que tinha, começa a desmoronar e os cantos mais escondidos de sua mente começam a se revelar.
“As sobreviventes” é aquele tipo de livro que ganha a atenção do leitor por apresentar ao longo do enredo uma mudança um tanto brusca na narrativa. Se quando a leitura inicia, o livro tende a ser lento e frio, na metade da trama, temos uma mudança repentina na forma como Quincy relata seus momentos. Fato que deixa a história interessante e agoniante.
Entretanto, vale ressaltar, que essa alteração não ocorre de uma hora para outra ou sem uma explicação plausível. A narrativa se modifica, quando a personalidade da protagonista e narradora do livro sofre alguns colapsos, o que a deixa mais fragilizada e sem tanta frieza ao fazer seu relato.
“Não uso artifícios para disfarçar minhas cicatrizes. Simplesmente finjo que não existem.”
Sendo assim, é possível assumir que através da oscilação do tom narrativo, o leitor se depara com uma trama agoniante, repleta de segredos que tornam o enredo incrível de acompanhar e tentar decifrar. Afinal, esse é um Thriller diferente da maioria dos livros do gênero. Um suspense que foca, quase que exclusivamente, na deterioração da mente da narradora.
A protagonista e sua mente perturbada
De início, a trama de “As sobreviventes” é toda narrada pela protagonista, Quincy, uma garota remanescente que após 10 anos da tragédia que ceifou a vida de seus amigos e deixou apenas ela como sobrevivente, tenta levar uma vida normal. Cleptomaníaca e viciada em Xanax (remédio para ansiedade), a protagonista tenta passar para o leitor normalidade e frieza conforme narra os estranhos acontecimentos que passam a atingir sua vida.
“Foi o momento em que me dei conta de que coisas ruins podiam acontecer, de que o mal existia no mundo.”
Toda essa frieza, pode ser relacionada com o vício da personagem no remédio para controlar a ansiedade, bem como da vontade dela em ser normal e levar uma vida ordinária, sem ser lembrada constantemente de que é uma garota remanescente, de que é uma sobrevivente. E isso, reflete na sua forma de narrar que a princípio é fria e sem qualquer emoção. Fato que me incomodou, até que ocorresse a mudança na personalidade da protagonista.
Essa oscilação em sua vida, ocorre quando Quincy conhece Samantha Boyd, outra garota remanescente que quer tentar “ajudar” Quincy. Entretanto, o que acontece é muito mais amplo e profundo do que apenas um auxílio de uma sobrevivente para outra. Quincy se vê uma pessoa totalmente instável e isso reflete na forma como ela descreve seus momentos diários, algo que faz desse livro se tornar agoniante.
A mudança narrativa
Vale ressaltar, que a transição no tom da narrativa de “As Sobreviventes” é essencial para que a trama tome os rumos certos, bem como para mostrar toda a complexidade da mente de Quincy, que embora tentasse parecer bem, a realidade é que ela ainda estava traumatizada e não detinha qualquer bem-estar e talvez, nunca fosse voltar a ter uma vida normal.
“Belas garotas cobertas de sangue. Como tal, éramos, cada uma de nós, tratadas como algo raro e exótico. Um belo pássaro que abre suas asas esplendorosas apenas uma vez por década. Ou aquela flor que cheira como carne podre toda vez que decide desabrochar.”
Fato é, que quando ocorre essa alteração na personalidade da protagonista que culmina com a mudança no tom narrativo, a história flui. A trama começa a se moldar diante dos olhos do leitor e aquilo que parecia impossível acaba se tornando um ponto de interrogação enorme na obra.
Afinal, Quincy se lembra do que aconteceu no Chalé?
Será ela a grande vilã?
E é toda a exposição conturbada e angustiante dos fatos apresentados pela personagem ,que o autor, Riley Sager, acerta em mais um ponto; apresentar flashbacks em terceira pessoa.
Primeira e Terceira pessoa
E se de um primeiro momento, essa mudança de primeira para terceira pessoa pode parecer confusa e até chata, afinal o leitor contempla o que realmente aconteceu no Chalé e tem a oportunidade de ver adolescentes agindo como adolescentes, em um segundo momento, essa forma narrativa torna-se essencial para que alguns pontos específicos possam ser esclarecidos e compreendidos.
Principalmente, acerca de quem é o assassino.
“Uma estranha que experimentou um monte de coisa ruim. Não sabemos se isso a deixou perturbada. Não sabemos do que ela é capaz.”
Quincy não se lembra de nada e quando o plot é revelado ao final, o leitor fica surpreso por a garota não ter se lembrado. Claro, que existe toda uma questão de trauma e memórias perdidas, mas a narrativa em terceira pessoa é crucial para comprovar a veracidade da trama.
Afinal, Quincy em nenhum momento chega a realmente ver seu agressor o que faz com que o suspense se mantenha até o final do livro e corrobore para que ocorram teorias plausíveis.
O Plot
E em uma opinião pessoal, eu gostei do plot de “As Sobreviventes“. Achei diferente e enganador. Na realidade, eu tinha mil teorias que incriminavam cada um dos personagens que aparecem na obra, mas, mesmo assim, quando o culpado foi revelado eu fiquei surpresa.
E existem dois fatores que colaboram pra minha surpresa.
O primeiro é o fato de que o culpado é alguém no mínimo inesperado e que por mais que eu duvidasse de sua inocência e achasse seu comportamento estranho, alguns pontos me faziam negar sua culpa, até ela ser revelada.
“Respirar se tornou trabalhoso. Toda inspiração é dificultada por um estremecimento de ansiedade. Toda expiração é acompanhada por um soluço.”
E o segundo aspecto, é que a própria personagem não se lembra de quem era o agressor, sendo apenas revelado no capítulo final, poucas páginas para o desfecho central da história. Tanto ela, quanto nós, leitores, ficamos surpresos.
Além disso, ainda existe o agente confusão utilizado pela narrativa do autor, que ao mesmo tempo que revela, deixa a entender que pode não ser ou que a personagem está delirando.
Resumindo, um culpado simples, um tanto inesperado, mas, ainda assim, que desperta desconfiança no leitor.
Os personagens
Porém, devo ressaltar que “As Sobreviventes” é um livro repleto de personagens detestáveis. Cheguei até a gostar da protagonista, Quincy, no início da trama, mas devido a uma atitude empregada por ela mais pro final do livro, a moça ganhou meu ranço eterno.
“Eu era amigável, mas não tinha amigos. Acessível, embora distante. Não via razão para me aproximar de ninguém”
Outro personagem que achei detestável foi Samantha Boyd, e mesmo que ao término do livro eu tenha compreendido suas motivações e até criado uma certa empatia pela moça, suas atitudes iniciais eram irritantes, bem como a forma com que ela tentava a todo custo confrontar Quincy.
De resto, a maioria dos personagens não possuem cenas ou características marcantes que façam o leitor sentir algum tipo de conexão com eles. São personagens humanos, mas humanos comuns.
A simplicidade as vezes é mais
E um último ponto a ser mencionado, é o quanto a trama é simples, principalmente pela forma narrativa que apesar de deter os pontos elencados nos tópicos acima, não deixa de ser apresentada de forma trivial, sem grandes metáforas ou discussões existenciais.
Além disso, o próprio enredo é decifrável, se não fosse o agravante da perda de memória de Quincy, tudo poderia ter sido desvendado na mesma noite do crime, fato que faria a história não existir. Ou seja, não existe nenhum desfecho mirabolante para a obra.
“Acredito piamente que é possível as pessoas não se tornarem reféns das coisas ruins que aconteceram no passado. Elas podem se recuperar. Podem seguir em frente.”
Vale mencionar que mesmo a simplicidade da obra sendo excepcional, ela também é responsável por pecar em alguns aspectos, afinal o autor insere alguns pontos que não fariam diferença, como por exemplo a cleptomania de Quincy ou a ida da personagem e Samantha ao parque. São trechos que apesar de darem agonia ao leitor, ainda assim, não acrescentam em muito na narrativa.
“As sobreviventes” é aquele tipo de Thriller que consegue surpreender o leitor por sua trama usual e por apresentar um enredo narrado por uma protagonista dependente de remédios que muda de personalidade ao longo da história, tornando o ritmo da obra agoniante. Um livro que consegue ganhar a atenção do leitor por ser simples e ao mesmo tempo irreverente.
Fiquei com vontade de ler. Parabéns pela ótima resenha
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É um livro que vale a pena a leitura. Super recomendo.
E obrigada pela visita. Fico feliz que tenha gostado do conteúdo.
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