O Morro dos Ventos Uivantes – Emily Bronte

Heathcliff é sem sombra de dúvida um dos personagens mais execráveis da literatura clássica mundial. E afirmo, que este está muito longe de ser um livro de amor, se o que Emily Bronte nos apresenta pode ser considerado um romance romântico, eu acho que não sei distinguir o que é o amor.


“Ele ama e odeia em silêncio e julga uma espécie de impertinência ser amado ou odiado”

Nome: O Morro dos Ventos Uivantes
Autor: Emily Bronte
Páginas: 375
Editora: Zahar


Sinopse: Quando o senhor Earnshaw adota um menino de rua de pele escura e feições ciganas chamado Heathcliff, ele não poderia imaginar que aquele garotinho tímido se tornaria um homem impiedoso e amargurado no futuro.
Após sofrer uma desilusão amorosa, Heathcliff desaparece de Wuthering Heights para retornar alguns anos depois, mudado em aparência, cultura, condições financeiras e personalidade.
Um coração partido pode então, ser o alicerce para que os piores pensamentos de um homem se torne realidade, e a vingança impere em um ser tão amargurado que não vê motivação para seguir em frente.


O Morro dos Ventos Uivantes” é aquele tipo de livro que todos deveriam ler para conhecer até que ponto a degradação humana e moral de um homem amargurado pode chegar. A leitura, também é válida para que todos conheçam um dos personagens mais detestáveis da literatura clássica mundial; Heathcliff.

Narrado em uma espécie de colcha de retalhos que une vários relatos, esse é um livro que pode não ter uma narrativa confiável, visto que tudo que sabemos sobre Heathcliff e o seu amor avassalador e destrutivo por Catherine é narrado através da perspectiva dos criados que conviveram com os dois. Nesse ponto, é pertinente ponderar o “porque eles fariam de seu senhor um demônio?”.

“As duas alminhas reconfortavam-se uma à outra melhor do que eu teria feito. Nenhum vigário do mundo jamais descreveu o céu de modo tão bonito quanto eles, em sua conversa inocente.”

Apesar dessa consideração, vale ressaltar que não havia motivo para que o relato contado ao senhor Lockwood fosse mentiroso ou servisse para quebrar a imagem de Heathcliff, afinal eles não teriam motivo para fazer isso à um completo desconhecido que em nada poderia ajudar ou atrapalhar. A caveira que fazem de Heathcliff, na minha opinião, é totalmente real e plausível.

A degradação humana e moral de um homem

Heathcliff é detestável! Apenas isso. Detestável e execrável.

Mas, é exatamente essas características inumanas do personagem que o tornam tão bem construído e porque não dizer, cativante? Até porque, ele nos cativa de uma forma ruim, mas é necessário frisar que para o bem ou para o mal, este será um personagem que vai ficar marcado eternamente na mente do leitor que o conhecer.

“As pessoas orgulhosas trazem sofrimento para si mesmas.”

Devido a uma desilusão amorosa ao ver a mulher que ama se casar com outro por dinheiro, Heathcliff se torna um homem frio, sem qualquer perspectiva futura e que almeja uma única coisa no restante de sua vida; vingança.

E na minha humilde opinião, é este plot que move a narrativa.

Vingança… Amor

Não, “O Morro dos Ventos Uivantesnão é e nunca será uma história de amor. Talvez, de um amor abusivo, de um relacionamento tóxico de ambas as partes. Porque se Heathcliff tem seus defeitos, a senhora Catherine também possuí os seus, embora não dê muito tempo de odiá-la.

“Qualquer que seja a substância das almas, a minha e a dele são feitas da mesma coisa.”

Essa não é uma história de amor e acho imensamente necessário frisar isso. O amor não é aquele que deseja se vingar por ter sido rejeitado. O amor não reside em corações que brincam com o sentimento alheio apenas para ferir e machucar outras pessoas. O amor não é egoísta.

E tudo isso meus amigos, é feito por Heathcliff ao longo da trama.

A vingança impera e é ela quem move toda a narrativa de acordo com as vontades e necessidades de Heathcliff. Um personagem que acredita amar, mas que apenas detêm a vontade de destruir tudo que o prejudicou ao longo da vida. Heathcliff é o grande vilão da história e isso fica explícito e evidente na segunda parte do livro.

Personagens tão insuportáveis quanto…

Catherine, Catherine “Filha”, Linton… Ô bando de gente nojenta.

Embora Catherine “Filha” ainda seja suportável, pois muito de sua infantilidade e o fato de ser mimada provêm de uma criação um tanto exagerada de seu pai Edgar, ainda assim a personagem não detêm muitas qualidades boas ao longo da trama, sendo capaz de humilhar um rapaz por não ser tão inteligente quanto ela…

Enfim, vale mencionar que ao término da história, ela tem sua redenção, o que faz com que não seja tão insuportável quanto a mãe…

“A vida já é triste o bastante sem conjurar fantasmas e visões.”

E tudo poderia ter sido evitado se a Catherine “Mãe” não tivesse se casado por interesse, para manter as aparências, afinal se casar com Heathcliff seria um horror para a sociedade devido a sua posição social.

Até entendo o ponto de vista de Catherine se formos parar para pensar no contexto histórico em que a obra se passa, mas realmente, tudo é apenas culpa de seu egoísmo de não querer viver o seu amor com o homem pobre que estava em seu coração.

E quanto a Linton… Depois de Heathcliff, este é certamente o pior personagem da história.

Chantagista ao extremo, mimado. Eu realmente torci várias vezes para que Heathcliff desse uma lição em seu filho, o que não ocorre, afinal ele apenas se mostra interessado em estragar cada vez mais o garoto, tornando-o mesquinho e totalmente dependente de si.

Resumindo, um pior que o outro.

A narrativa

Mas, é claro que não é apenas de personagens detestáveis que a trama sombria de Emily Bronte se sustenta.

Em “O Morro dos Ventos Uivantes” temos uma narrativa peculiar que se assemelha a uma grande colcha de retalhos; um relato que é narrado por pessoas distintas. Fato, que até pode fazer o leitor ponderar sobre a veracidade das situações narradas e até mesmo da personalidade de Heathcliff, mas francamente, o ranço pelo personagem é tão grande que nem pondero sobre essa hipótese.

“Que terminou. Bem, no fim das contas, precisamos zelar por nós mesmos; os mansos e os generosos só parecem demonstrar um egoísmo mais justificável do que os autoritários.”

Aqui, a trama é muito bem apresentada através do diário de Lockwood que transcreve com exatidão a história narrada pela empregada Nelly, que não apenas relata tudo que presenciou, como também relatos de outros criados e até mesmo dos próprios envolvidos, como as cartas que lhe foram enviadas por Isabela e os relatos das duas Catherines.

A atmosfera sombria e gótica

Outro ponto que é bastante peculiar na narrativa de Bronte, é toda a paixão com que ela descreve a atmosfera em que se passa a história.

O Morro dos Ventos Uivantes” se passa em prados e charnecas que são muito bem construídos e apresentados por Bronte que nos mostra sua paixão pela paisagem verdejante e sombria do interior da Inglaterra.

“Suas visitas eram um pesadelo contínuo para mim; e, suspeitava, para o meu patrão também. O fato de ele estar vivendo em Heights era uma opressão impossível de explicar. Eu sentia que Deus deixara ali sua ovelha negra entregue à própria sorte, e uma fera rondava entre ela e o rebanho aguardando a hora certa de atacar e destruir.”

Nesse ponto, é possível se sentir dentro das páginas da obra, cavalgando ao lado de Catherine e observando as longas montanhas que se estendem após a propriedade de Grange.

Adentrar nesse mundo é fácil e não apenas isso; a atmosfera ao mesmo tempo que parece sombria aos olhos do leitor, se torna imensamente acolhedora e reconfortante.

Fantasmas… Solidão…

E eu não posso encerrar a resenha sem mencionar toda a questão fantasmagórica que permeia a obra. Fantasmas que estão intrinsecamente ligados ao final da narrativa e a solidão que é possível perceber que Heathcliff sente após a morte de sua amada.

O fantasma de Catherine está presente ao longo de toda a trama. Mesmo que ela não apareça, a moça é sempre mencionada por algo ou alguém e também está presente nos pensamentos de Heathcliff que justifica suas ações pelo o amor que sentia por ela.

“O espectro mostrou um capricho digno dos espectros: não deu sinais de existência. A neve e o vento, porém, entraram rodopiando freneticamente, chegando até onde eu estava e apagando a vela.”

Fato é, que todo esse pensamento que o personagem volta para Catherine, reflete em sua solidão, principalmente em seus momentos finais. É possível perceber que a mulher estava em Wuthering Heights a todo instante, vigiando cada passo de seu antigo amor e quando a hora deste chegou, ela não hesitou em acompanhá-lo.

Fica apenas a dúvida se Catherine concordou com as atitudes do rapaz em relação ao tratamento que este destinava a sua filha Catherine ou se o espectro da moça estava a espreita apenas para atormentá-lo por todas as atrocidades que fez.

As duas interpretações são válidas e possíveis.

“O Morro dos Ventos Uivantes” é um clássico da literatura mundial que eu acredito que todos deveriam ler. Seja para conhecer a escrita primorosa e gótica de Emily Bronte, seja por curiosidade, ou mesmo com a motivação de discordar de mim se essa é ou não é uma história de amor que transcende a morte.


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4 comentários em “O Morro dos Ventos Uivantes – Emily Bronte

  1. Achei este livro extremamente perturbador. Vendo como Heathcliff foi tratado desde a infância, me pergunto se ele realmente é um personagem tão desagradável assim ou o é por não ter conhecido outra forma de viver (e ver) a vida. Todos os personagens são doentios, em maior ou menor proporção.

    Muito boa a crítica!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Obrigada pela visita.

      Sim, seu ponto de vista é totalmente válido, Heathcliff cresceu sem qualquer amor, portanto isso refletiu na sua personalidade de adulto. Porém, eu acredito que fins não justificam os meios e ele poderia ter sido uma pessoa melhor se quisesse, afinal ele meio que desconta sua “frustração” em pessoas que nada fizeram de ruim a ele, como por exemplo Isabela e seu filho Linton, eles poderiam ter sido um recomeço para o rapaz, saca?

      Mas, infelizmente o ódio e a falta de amor o cegou…

      E sim, todos os personagens são ruins. Mas acho que é isso que torna esse livro bom, o fato de que todos os personagens são humanos.

      Curtido por 1 pessoa

  2. A melhor parte das resenhas literárias é a chance única de expandirmos nossa visão, comparando pontos de vista diferentes sobre um mesmo objeto. Heathcliff, para mim, parece “detestável” justamente porquê é tão “humano”. Somos execráveis e buscamos nos agarrar a uns poucos vislumbres de grandeza perdidos em atos esparsos – e Heathcliff nos força a olhar para nós mesmos, em toda a nossa “mesquinhez”. O lado positivo é nos indignarmos com isto, mostra que ainda há esperança para nós 🙂

    Curtido por 1 pessoa

    1. Seu comentário não poderia ser mais perfeito Tati, concordo totalmente com tudo que você disse. É exatamente esse fato que me faz colocar “O Morro dos Ventos Uivantes” como um livro preferido, a forma como ele mexe com as nossas emoções.

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