Uma coletânea de contos juvenis que possuí um propósito bastante interessante: recontar contos de horror clássico, utilizando uma abordagem mais contemporânea, apresentando os principais autores do gênero para o público jovem.

Nome: Frenesi
Autor: Heloísa Seixas
Páginas: 79
Editora: Rocco
Quando peguei essa coletânea para ler, eu já sabia que não seria algo que me deixaria com medo, mas confesso que achei a abordagem da autora, Heloísa Seixas, peculiar. Quando finalizei a leitura, eu só consegui ficar com aquela vontade de ter conhecido esse livro na minha adolescência. Tenho certeza que adoraria!
Aqui, os contos não dão medo, são releituras de contos clássicos, mas escritos de uma forma mais jovem e porque não dizer, mais bobinhos? Entretanto, ainda assim, são narrativas que detêm sua inspiração em autores clássicos do horror como: Edgar Allan Poe, H.P.Lovecraft, João do Rio, Algernon Blackwood e E.T.A Hoffman.
Eu gostei bastante da experiência de poder ler esses contos. São narrativas simples, mas que ainda assim conseguem entreter ao leitor mais velho e proporcionar uma experiência única ao leitor mais jovem.
Fato é, que essa coletânea detêm o poder de atiçar a curiosidade dos adolescentes, fazendo com que eles sintam aquela vontade de conhecer as obras originais que deram origem aos recontos de “Frenesi”.
Vale ressaltar, que Seixas possuí uma técnica bastante interessante que é empregada em seus contos; ao longo da narrativa a autora insere um resumo dos contos originais, que a inspiraram. Uma técnica diferente, pois cria aquele “que” de mistério que envolve o leitor mais jovem e menos acostumado com o Terror Clássico.
Destaco à seguir os cinco contos que mais gostei.
Histórias de Fantasmas
Baseado em “A tumba” de Lovecraft.
Gostei de toda a ambientação desse conto e de como a narrativa se constrói. Aqui, acompanhamos um segurança noturno que começa a divagar e se lembrar das histórias de terror que sua avó costumava contar quando ele era criança.
“Porque se a história é contada por um louco, nunca vamos saber se o que ele está dizendo aconteceu mesmo ou não.”
Embora, o plot seja um tanto previsível, ainda é um deleite para fãs de histórias de terror, principalmente aqueles que admiram tramas como “Os outros” e “O sexto sentido”.
Gatos pretos
Baseado em “O gato preto” de Edgar Allan Poe.
Embora eu não tenha gostado desse conto na primeira impressão pós leitura, depois que refleti sobre, o achei sensacional, porém não o melhor.
Aqui acompanhamos um rapaz que lê pela primeira vez o conto “O gato preto” do Poe, ao término da leitura, ele se vê então acompanhado de um misterioso gato preto que surge na janela de sua casa.
“Há quem diga que gato preto dá azar, que é um bicho maldito, coisa de bruxa, que tem ligação com o demônio.”
Porém, se em um primeiro momento o conto em si não me agradou em seu desfecho, quando parei para refletir sobre, percebi que não poderia ter sido melhor. Afinal, gatos são ou não são os verdadeiros herdeiros do universo?
Vale mencionar, que de todos os contos, este é o único que possuí mais uma vibe de ficção científica que de terror.
O Frio da Noite
Baseado em “Os Salgueiros” de Algernon Blackwood.
Só uma coisa, se imagine em uma floresta à noite, num frio de lascar e com as árvores balançando com o vento e fazendo um barulho arrepiador. Some isso, a escuridão completa e uma chuva misteriosa de pedrinhas.
Sim, a atmosfera é bizarra e tenebrosa.
Aqui acompanhamos a aventura de um casal que resolve passar um final de semana em um interior. O rapaz, sendo um apaixonado por esportes, resolve descer a cachoeira em um bote, junto de sua namorada. O problema, é que as coisas não saem como o planejado.
“A mente é uma coisa estranha. Tem vontade própria, às vezes. Pensa coisas que nós não queremos pensar, nas horas mais inconvenientes.”
O legal desse conto, é ver como a autora fez uma readaptação do conto original. As semelhanças existem, mas são as diferenças que fazem com que essa história seja ótima em todos os sentidos. Minha favorita.
Passos na Areia
Baseado no conto “O homem de areia” de Hoffman.
Eu gostei de como a autora fez um paralelo entre o personagem do conto original do autor e de sua própria releitura. Ficou bastante interessante, além de original.
“Tão imaginativo que, ao crescer, continuaria perseguido pelos fantasmas da infância. Fantasmas terríveis que aos poucos se tornariam reais.”
Acredito que esse paralelo entre os dois personagens seja exatamente o que faz dessa história intrigante, pois achei a trama fraca. Diferente do conto original, que apenas pelo resumo feito por Seixas, me deixou com aquela vontade de conhecer.
Frenesi
Baseado no “O bebê de tarlatana rosa” de João do Rio.
Aqui, temos uma ambientação que me enchia de medo quando eu era criança; o carnaval com as pessoas fantasiadas de monstros, os famosos pierrôs.
“Há dias que nos trazem um presságio, dias em que um pequeno incidente ou a visão de alguma coisa carregam a mensagem do que vai ocorrer mais tarde – e que talvez nos deixe marcados.”
Na trama, acompanhamos um grupo de amigos que resolve passar o carnaval no Rio de Janeiro. O notável e intrigante desse conto, é toda a ambientação permeada por pessoas mascaradas que podem ou não ser boas.
É medonho pensar que em uma festa regada a alegria, pode realmente ter alguém de más intenções entre os foliões.
Portanto, tomem cuidado ao comemorarem o carnaval.
“Frenesi” não é um livro forte com contos assombrosos, mas é a pedida perfeita para que aquele leitor que não tem coragem de encarrar clássicos do horror mundial ou mesmo para os jovens que querem adentrar no gênero.