A Herdeira do Silêncio – Jenny Rugeroni

Livro cedido em parceria com a autora!

Aviso: Essa resenha possuí Spoilers. Continue por sua conta e risco.

Sabe aquele livro que de alguma forma toca o coração por algum motivo especial e consegue fazer o mais frio dos leitores chorar? É assim que eu, como leitora, classifico “A Herdeira do Silêncio“. Uma história sensível, abordada de forma delicada pela autora e que transmite emoção suficiente em um texto simples e crível.


“Mas era ilusão me acreditar capaz de salvar outra pessoa, se não podia nem salvar a mim mesma.”

Nome: A Herdeira do Silêncio
Autor: Jenny Rugeroni
Páginas: 272
Editora: Publicação Independente


Sinopse: Na trama conhecemos Alexandra, uma mulher que resolve contar sua vida para nós. Passando desde os momentos felizes de sua infância, em que viveu por um curto período com a mãe e trabalhou em uma lavoura de algodão, até chegar em sua vida adulta e optar por entrar na universidade. A moça passou por bons percalços e é assim que vamos conhecendo seu passado distante e recente. Entendemos seus medos, comemoramos suas vitórias e torcemos para que ela possa encontrar seu final feliz.
Será que todas as histórias possuem um final feliz?


A herdeira do silêncio” é aquele tipo de livro que não possuí conflitos tortuosos, tramas mirabolantes, clímax absurdos ou reviravoltas estonteantes. Muito pelo contrário, é uma história simples que gira em torno da vida de uma moça pobre que relata para os leitores um pouco da sua vida difícil. Uma espécie de diário em que de alguma forma, é possível se sentir conectado com a protagonista.

“Eu não me sentia valente. Não do jeito que as pessoas imaginavam. Estava cansada de ouvir que era admirável ter chegado onde eu estava. Afinal de contas, onde eu estava mesmo?”

Narrado em primeira pessoa, a história passa por vários momentos pertinentes da vida de Alexandra, a protagonista da história, e mostra como ela sendo mulher e mãe solteira consegue dar a volta por cima da sua realidade, superando obstáculos econômicos, machismo generalizado e aprendendo a viver e sobreviver a cada dia que passa.

Mas, a trama não se trata apenas disso. Aqui, temos muitos conflitos internos relacionados a personagem, aos seus familiares e pessoas que a cercam. A história com toda sua simplicidade e “leveza”, apresenta de forma melancólica, sentimental e triste, como algumas pessoas lidam com o luto, a solidão e a depressão.

Luto, depressão e Solidão

A trama inteira é permeada por uma solidão que se torna angustiante a cada capítulo narrado. Seja pela solidão da protagonista que saí de casa muito cedo e depois de ver seu casamento ruir opta por viver sozinha com seus dois filhos pequenos, pela solitude apresentada por suas irmãs ou mesmo pelo exílio que seu pai vive após o falecimento da esposa e separação das filhas.

Além da solidão ser retratada com tamanha crueza, outro tema bastante recorrente na obra é a questão da depressão. Tanto Alexandra, quanto seu pai dão indícios de sofrerem da condição e cada um deles lida com a doença de uma forma diferente. Enquanto Alexandra se apega a figura de seus filhos e de seu velho pai que necessita de cuidados, o idoso se prende aquilo que mais ama; ensinar. É assim que cada um deles lida com a questão.

Vale ressaltar, que um dos pontos chaves para a virada da história na primeira parte é a abordagem do luto. Quando a mãe de Alexandra falece, vemos toda uma família ser acometida por um luto que parecia não acabar nunca. Nesses pontos, o enredo se torna melancólico e deprimente, apresentando as fases do luto e as tristes formas de tentar vivenciar o momento.

“Minha irmã do meio não chorava; manifestava sua dor através da raiva. Mas era dor mesmo assim.”

Não obstante a isso, as últimas páginas do livro são de fazer o coração em pedaços. Seja pela forma como o luto se torna mais forte ou como o leitor percebe a morte como algo inevitável. Mesmo torcendo para o contrário, ela chega e não há nada que possa impedi-la de ceifar a vida de um ente querido.

Uma trama simples

Apesar do peso e da importância dos temas tratados e abordados, devo salientar que esse é um livro com uma trama simples e um enredo igualmente modesto.

Sim, é um romance de formação contemporâneo e aqui vamos acompanhar a vida de Alexandra, desde quando ela é uma criança, até quando se torna uma mulher adulta, independente e mãe de dois filhos. A história trivial, mescla com facilidade discussões pertinentes e aborda com sensibilidade temas profundos.

“Com poucas exceções, as mulheres de nossa rua não trabalhavam, apesar de faltar dinheiro para as contas do mês. O machismo generalizado pregava que o lugar delas era em casa.”

Ademais, acredito que seja importante mencionar que “A herdeira do silêncio” é sobretudo um livro de escolhas e consequências.

Veja bem, Alexandra faz várias escolhas ao longo de sua vida e são essas escolhas que praticamente ditam o seu destino.

Todavia, esse é um livro que também fala sobre não desistir, mesmo que o caminho escolhido esteja repleto de espinhos. A personagem ensina para o leitor que nada é impossível, que nada acontece por acaso e que há sempre uma porta e um caminho. Sem dúvida uma protagonista espirituosa, que mesmo com seus problemas emocionais e familiares, tenta sobreviver da melhor forma que pode.


Preconceito

Talvez essa seja a grande discussão que podemos tirar da leitura; O preconceito e o assédio que Alexandra sofre em quase toda a narrativa.

Ao longo da trama, vemos a moça ser assediada em diversos momentos do livro, sofrer ataques xenofóbicos por ser descendente de ingleses e principalmente por ter optado se tornar mãe solteira. Em várias ocasiões, notamos ela ser agredida psicologicamente por pessoas que se acham superior.

Outro ponto que consegue gerar uma certa revolta ao leitor é o tratamento dado ao pai da protagonista quando este fica doente. Seu Luiz é alcoólatra e começa a desenvolver uma moléstia devido ao vício à bebida, dessa forma, quando vai buscar atendimento médico, é tratado como “escórria” pelos médicos que se recusam a internar o idoso com a desculpa de que o problema dele é apenas a bebida.

“Eu não podia compreender o poder que o álcool tinha sobre ele. Como é que iria julgá-lo, se nunca passara por isso?”

Independente de ser o álcool ou não, vale ressaltar que o personagem era uma pessoa, como eu e você. O vício da bebida não é justificável, mas o homem começou a beber após o falecimento da esposa, o que tornou à prática uma válvula de escape. Devido a simplicidade da família e a teimosia do idoso, um atendimento adequado para “alcoólicos anônimos” nunca foi feito, o que acabou resultando em consequências graves.

Então, fica a dica de não julgarmos sem saber. O desespero de uma perda leva a efeitos drásticos que somente quem viveu o luto compreende.

Amor paternal

E é claro que eu tenho que mencionar que esse não é apenas um livro repleto de tristezas, mas existe um ponto que me fez ficar com o coração quentinho durante toda a leitura. O amor de seu Luiz pelas filhas.

Devo salientar que a trama se inicia no ano de 1975, o que fomenta para que o personagem tenha inúmeras atitudes machistas com suas filhas, o que é execrável hoje em dia, mas devo frisar que nem por isso ele não amava as meninas ou sua esposa. Aqueles eram outros tempos e comportamentos similares eram considerados “normais”.

Mas, é exatamente a esse ponto que quero chegar. A trama evoluí para um passado não muito distante, os anos 2000 e vemos uma possível redenção de seu Luiz até o final da história. O homem, deixa de ser o idoso turrão que expulsa a filha grávida de casa, para se tornar o pai e avô amoroso que Alexandra e suas irmãs sempre quiseram.


Outra coisa pertinente de mencionar é que embora seu Luiz tenha sido um pai rude com as filhas, ele sempre demonstrou seu amor por elas e é exatamente nisso que se embasa os momentos finais da história, mostrando quanto as meninas também amavam o pai. Em um dos capítulos mais lindos, todos fazem uma viagem a praia e ajudam o idoso a chegar ao mar. Uma cena que enche os olhos de lágrimas.

O amor que a família possuí uns pelos outros é lindo de ler e o ponto forte e decisivo para fazer dessa uma leitura incrivelmente bela e sensível.

A Herdeira do Silêncio” é um romance de formação contemporâneo, acompanhamos a protagonista crescer e evoluir, lutar e persistir. Aprendemos com seus erros e acertos e no final só queremos que ela possa em algum momento ser feliz. Um livro que ensina e emociona, mesmo não tendo nenhuma reviravolta , clímax ou conflitos. Uma história que cativa por sua sensibilidade em mostrar o amor de uma família, a dor do luto e a realidade de muitas mulheres e mães solteiras.


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