Aviso: Esta resenha pode conter Spoilers!
Pioneiro das histórias de invasões alienígenas o livro de H.G.Wells, percursor do gênero, tem uma premissa interessante, mas se torna obsoleto e enfadonho de acompanhar devido a narrativa exaustiva empregada pelo autor. E, muito embora as descrições detalhadas e bizarras dos seres alienígenas causem incômodo e asco, a leitura não empolga e a história muito menos.

Nome: A Guerra dos Mundos
Autor: H.G.Wells
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 221
Sinopse: Um cilindro estranho cai no meio de uma charneca na pequena cidade de Horsel, na Inglaterra. Um pouco após o estranho incidente, uma estranha criatura acinzentada e recheada de tentáculos ataca os curiosos de plantão. Um homem sem nome sobrevive e movido pelo terror que os monstros causaram em si, resolve fugir da cidade acompanhado de sua esposa. Um narrador em rosto que irá contar nos minuciosos detalhes todo o horror vivido por Londres durante aquele terrível ataque de outro mundo.
“Guerra dos Mundos” é aquele tipo de livro que foi assombroso e revolucionário para sua época de lançamento. No entanto, a obra não surte o mesmo efeito em nossa contemporaneidade. Digo isso porque, sendo uma opinião pessoal, o livro não empolga, não cativa e não impressiona. Talvez, levando em conta a época de publicação, esses detalhes não devam ser levados em conta. Porém, destaco um ponto que me fez ficar ociosa durante a leitura: A narrativa.
Wells opta por contar a invasão alienígena através da visão de um personagem de índole completamente duvidosa. O protagonista não cativa, tampouco nos sentimos apreensivos pelas situações de perigo que o acometem. Um personagem que apesar de ser inteligente e agregar informações pertinentes ao longo da leitura é egoísta e mesquinho em várias atitudes que toma ao longo do enredo, fato que consegue facilmente levar o leitor a não se identificar com ele.
Apesar de ser uma narrativa rica em detalhes sórdidos que faz o leitor imaginar de forma minuciosa os seres horrendos que apavoram a terra, ao longo da trama o livro se torna enfadonho. As longas passagens e descrições são chatas e o autor demora parágrafos apenas descrevendo a aparência horrenda dos invasores.
Concordo que esses detalhes específicos são pertinentes para fazer o leitor imergir na leitura e imaginar a situação. No entanto, em “Guerra dos Mundos” esses detalhes se tornam repetitivos. Pelo menos em 4 capítulos diferentes o narrador torna a descrever os marcianos repetindo de forma semelhante passagens anteriores. Devo admitir que esses “excessos” me irritaram.
Os Marcianos
Mesmo que esse detalhe das inúmeras repetições acerca da aparência dos marcianos incomode um pouco, é necessário salientar que o choque inicial proporcionado pela primeira descrição existe e é bastante amedrontador.
“O homem pagou, ao preço de milhões e milhões de mortos, a sua posse hereditária do globo: a Terra lhe pertence, contra todos os intrusos, e continuaria a pertencer-lhe, mesmo que os Marcianos fossem dez vezes mais poderosos. Porque o homem não vive e nem morre em vão.”
Na nossa contemporaneidade, ler a descrição que Wells cria para os marcianos pode soar um tanto cômica. No entanto, é necessário prestigiar e exaltar o autor por ter sido o pioneiro em criar uma aparência assombrosa e quase que “definitiva” para esses seres de outros universo. Detalhes que conseguem surpreender pela criatividade exercida.
Além das descrições físicas, o narrador da história também detalha as grandes e potentes máquinas de guerra que destroem parte da Inglaterra. Os detalhes minuciosos fazem o leitor adentrar nas páginas e se imaginar um observador constante dos inimigos. Sendo assim, quando um deles é abatido, a cena é forte e ao mesmo tempo prazerosa de acompanhar, visto que, parece que o leitor se encontra no meio da multidão apenas observando e torcendo pela humanidade que foge aterrorizada.
O Egoísmo Humano
Uma das coisas que mais me fez ficar com uma certa “birra” do livro foi o narrador e protagonista da história. Como já mencionei, um homem egoísta, mesquinho e sem escrúpulos, que faz qualquer coisa para se manter vivo e a salvo dos Marcianos.
“Embora saibam, melhor do que ninguém, o que é o mal, não sabem aquilo de que é capaz um homem enlouquecido pela tortura. Os que passaram pelas mesmas trevas, que desceram ao fundo, às coisas elementares, terão maior caridade.”
Devo salientar que esse é o comportamento de um homem que viu coisas terríveis e que teme pela própria vida. Afinal, ele poderia ser morto pelos Marcianos a qualquer instante. Sendo assim, seu espírito de sobrevivência aflora e ele não mede esforços para fazer qualquer coisa para se manter vivo e a salvo, mesmo que isso o faça machucar outras pessoas.
Ou seja, apesar de ter detestado o protagonista, me pergunto se teríamos atitudes diferentes da dele frente a uma situação de risco que pudesse eliminar a nós ou aos nossos entes queridos. Talvez, faríamos o mesmo ou até pior que ele, e mesmo eu condenando sua conduta, não posso afirmar que ele foi errado em querer sobreviver.
Somos únicos?!
Essa é uma discussão bem pertinente que temos logo no começo da obra e que perdura até nossos dias atuais.
Afinal, em um universo enorme, cheio de planetas será que somos realmente únicos ou existem seres de outras espécies vivendo acima de nós?
“O homem é tão vão, tão cego pela vaidade que nenhum escritor, até o fim do século XIX, exprimiu a ideia de que uma forma de vida inteligente pudesse ter surgido tão longe, ou até mesmo simplesmente acima do seu nível terrestre.”
O interessante desse ponto abordado por Wells, é que ele menciona que o homem achar que é o único ser vivo pensante de toda a galáxia é um dos maiores egoísmos da humanidade. Afinal, existem tantos outros planetas diversos capazes de abrigar vidas inteligentes ou mesmo ecologias inteiras.
É um questionamento pertinente que faz o leitor refletir. Um questionamento que visa não apenas concordar com a colocação de Wells, como também, abre margem para um debate que contesta o porque de não conseguirmos nos comunicar com as vidas inteligentes que possivelmente vivem fora do planeta terra.
Condená-los?
E outro debate bastante provocativo que Wells faz em sua obra é questionar, nós leitores, se devemos realmente condenar os marcianos por invadirem a terra em busca de uma nova forma de poder viver.
Na narrativa, os marcianos apenas querem uma nova oportunidade de viver e de salvar sua espécie, algo que o ser humano vem fazendo à séculos. Afinal, expulsamos animais de seus territórios para construirmos casas e prédios, matamos espécies para servirem de alimento, sem nos importarmos se estamos machucando outro ser vivo.
Ou seja, porque o ser humano não poderia ter também uma presa?
“São homens contra formigas! As formigas fazem suas cidades, suas galerias caprichadas. Tocam sua vidinha, têm guerras e revoluções. Mas só até o momento em que os homens desejam livrar-se delas. Aí acabou-se, estão liquidadas e pronto. É o que ocorre. Não passamos de formigas. Apenas somo formigas comestíveis.”
Vale ressaltar, que os Marcianos de “A guerra dos mundos” além de quererem colonizar a terra, se alimentam dos seres humanos que encontram e também os matam quando estes se revelam. Dessa forma, os seres de outro planeta mostram sua superioridade. Algo bem semelhante com o que os homens que caminham pela terra tem feito com espécies que considerem inferiores.
O final
E claro que tenho que destacar o final do livro que para mim foi uma “decepção“.
Até entendo os Marcianos terem sido vencidos pela única coisa que não conheciam, as patologias humanas. Acho um final minimamente inteligente, afinal o desconhecido pode matar e como bem sabemos, nosso planeta terra é repleto de seres microscópicos mortais. Sejam vírus, bactérias, ácaros e etc. Ou seja, uma forma de defesa contra os invasores de outro planeta.
No entanto, o que mais me deixou “decepcionada” foi o final “bonitinho” do personagem principal que encontra sua esposa e primos vivos após do nada querer voltar para sua casa que havia sido parcialmente destruída. Ao chegar ao local e ter um ímpeto de melancolia, o homem é surpreendido por sua mulher que esclarece que sentiu uma vontade inexplicável de voltar para casa. Achei um final “esperançoso” demais, se é que vocês me entendem.
E não, não estou querendo dizer que o livro deveria ter terminado de forma violenta ou sem dar esperança ao leitor. Mas, acho que um pouco de realismo seria mais condizente com a trama em si e não teria sido uma decisão ruim. Achei um desfecho um tanto fantasioso e irreal.
“Guerra dos Mundos” é uma história importante por ser pioneira no gênero. E mesmo possuindo uma escrita lenta, as descrições são pertinentes por darem uma cara aos Marcianos. Um livro que mesmo datado, não deve ser esquecido, já que é evidente a sua relevância para tantas outras obras de Sci-Fi que vieram posteriormente. Vale a pena após a leitura parar e refletir: Os marcianos são realmente tão diferentes de nós?
Comprei o livro mas ainda não li, por isso passei direto para os comentários só pra dizer que, assim que ler o livro, venho ler a resenha. 🤭
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Hahahaha boaaa leitura então amiga 😉😉😉😉
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Volto correndo pra comentar quando a terminar!! =X
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Li A guerra dos mundos há algum tempo e concordo com você sobre a narrativa ser arrastada e cansativa, as descrições repetitivas e personagens sem carisma. Acho que valeu mais pela experiência de ler com os olhos de um leitor do passado e pensar o que eles teriam pensado a respeito desse livro que me manteve lendo até o final. Penso que quanto as descrições longas, hoje em dia já não seria necessário porque temos um extenso repertório dessas criaturas no cinema, HQs, etc que nos ajudam a criar esse imaginário de alienígenas, o que certamente não era o caso no passado, uma vez que HG Wells foi um pioneiro nessa temática.
Agora tenho O Homem Invisível e A máquina do tempo esperando para serem lidos, mas o ânimo de ter que aguentar o mesmo tipo de narrativa me espanta um pouco da leitura…
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