AVISO: O POST ABAIXO CONTÊM IMAGENS FORTES!
Existe uma tênue linha de comparação entre as obras de Junji Ito com o típico horror cósmico de Lovecraft. No entanto, acredito que exista uma pequena diferença entre os dois. Junji Ito desenha seus ‘horrores’. E muito bem por sinal.

Nome: Uzumaki
Autor: Junji Ito
Editora: Devir
Páginas: 666
Sinopse: Kirie é uma adolescente que vive tranquilamente com sua família em um pequeno povoado chamado Kurôsu (Redemoinho preto em tradução literal). No entanto, no dia em que seu namorado retorna de uma viagem, coisas estranhas começam a acontecer e uma maldição desperta desencadeando uma “Espiral” de loucura na vila.
“Uzumaki” é aquele tipo de mangá que surpreende por conseguir transmitir ao leitor aquele medo irracional de coisas triviais, comuns e aleatórias, como uma forma geométrica por exemplo.

“Um redemoinho suga as coisas para seu centro. O padrão que o representa também atrai o olho para o meio. Por isso as pessoas tomadas pela espiral também querem chamar a atenção dos outros.”
Esse sentimento de medo é totalmente plausível devido as medonhas cenas que beiram o grotesco que compõem a obra, pois é através da utilização de imagens tenebrosas que Ito instiga o leitor a parar, respirar e absorver aos acontecimentos macabros que compõem a narrativa. Situações constantes que beiram a loucura e possuem o equilíbrio necessário para chocar no momento certo.
Quem disse que traços simples não horrorizam?
Junji Ito é um baita de um desenhista, seus traços podem parecer simples em um primeiro momento e essa simplicidade contribuí perfeitamente para a relação de cotidiano trivial e horror que ocorre durante a trama. É exatamente esse traço simplório que causa ‘repulsa’ em vários quadros. Afinal, é por meio de desenhos ‘amigáveis’, que as piores cenas surgem e nos deixam horrorizados.
Entretanto, o que Ito tem de simplório ele também tem de detalhista, sobretudo nos quadros que retratam situações mórbidas que carecem de uma boa pitada de ‘grotesco’ para deixar o leitor perturbado e perplexo.

“Os montes que se erguem sorrateiramente por trás. As ruas todas cheias de bifurcações. Tudo isso fica revirando os meus nervos. Isso mesmo. Se revirando. Como redemoinhos. Espirais. Esta cidade está sendo contaminada por espirais.”
É pertinente mencionar que após a leitura de “Uzumaki” é perfeitamente normal que o leitor se sinta preso em uma “espiral” de medo e repulsa por uma forma geométrica que até então nunca tínhamos parado para prestar atenção. Essa é exatamente a sensação que sentimos ao finalizarmos o mangá. Um sentimento no mínimo estranho, uma espécie de apreensão, talvez um friozinho crescente que percorre nosso corpo acompanhado de um leve e asqueroso arrepio.‘
Um mangá Fix-Up
“Uzumaki” é uma narrativa conhecida como “Fix-Up”. Já falei um pouco do gênero quando fiz a resenha do livro “Onde o vento faz a Curva”, mas apresentarei uma breve explicação do que se trata.
Fix-Up é um gênero em que várias histórias são contadas de forma independente, mas, no final todas podem se conectar, visto que existe algum elemento em comum entre elas.

Em “Uzumaki“, esse elemento em comum pode ser identificado como a própria cidade acometida pela “Maldição da Espiral”, Kurôsu, e também pela jovem Kirie, já que é ela que relata as histórias bizarras que ocorrem na vila. É notável, portanto, que a garota está envolvida de alguma forma em todos os causos apresentados.
O mangá se trata de uma coletânea de contos sobre pessoas e pontos da cidade que foram afetados pela tal da “Maldição da Espiral”. Histórias em que apesar de Kirie aparecer em todos os eventos, são muito bem conectadas, uma vez que o enredo deixa define nitidamente a possibilidade da situação, dado o contexto em que a personagem se encontra.
Um ponto a ser evidenciado é o fato de que Kirie é uma adolescente que frequenta o ensino médio, portanto, muitos dos eventos presenciados pela jovem ocorrem no ambiente escolar ou mesmo envolvem um parente ou conhecido da garota.
Um casal interessante
Durante todo o enredo, a personagem com quem mais temos contato é Kirie, afinal é ela quem narra todos os acontecimentos. Mesmo sendo uma adolescente, podemos mencionar que Kirie é diferente de muitos personagens adolescentes de mangás, principalmente por ser uma garota agradável de acompanhar, visto que é através da sua narrativa ‘morna’ e apática que os relatos dos eventos se tornam angustiantes.
Essa apatia da personagem se encaixa perfeitamente bem quando vislumbramos Kirie em momentos de desespero profundo, pois esses são os momentos propícios para enriquecer a trama com aquela pitada de drama, o que acaba dando vida tanto para a personagem, quanto para a história, tornando a trama aprazível e até mesmo trágica.
Durante o desenrolar do enredo, uma das características mais evidentes da protagonista é a afeição familiar que ela possui por seus parentes e amigos próximos, traço fundamental para que o leitor consiga entender várias de suas atitudes em momentos específicos da narrativa.

“Devo estar passando por isso por causa daqui. Desta cidade amaldiçoada pela espiral. Mas estou sem forças de vontade para fugir deste lugar.”
Um segundo personagem que merece atenção é Suichi, namorado de Kirie e um dos primeiros a perceber que havia alguma coisa estranha ocorrendo na cidade. Arrisco a dizer que ele seja meu personagem preferido da obra, mas, não por ter feito algo mirabolante ou ser um exímio herói, mas sim devido a construção psicológica que Ito reservou para o personagem.
A cada passagem de tempo que temos na trama principal, acompanhamos a degradação mental de Suichi e como o rapaz tenta lidar com os eventos aterradores que ocorrem a sua volta, enquanto, ao mesmo tempo tenta proteger Kirie do perigo iminente.
É incrível como o autor conseguiu transpassar sentimentos de loucura e perdição através de um personagem e da mesma forma criou um suporte emocional para ele, visto que enquanto Suichi se demonstra totalmente instável com a situação, Kirie atua como uma espécie de amparo para o jovem.
Ao longo da trama somos apresentados a vários personagens secundários, no entanto eles não tem um foco tão grande na narrativa e nem um desenvolvimento tão grandioso quanto o dos protagonistas. Fato que não se torna um problema, visto que esses personagens aparecem apenas em contos específicos, enquanto que Kirie e Suichi como protagonistas aparecem durante toda a obra.
Um mangá sobre a loucura e degradação mental
Uma das coisas que mais chama a atenção em ‘Uzumaki” é a construção e evolução narrativa no que tange a abordagem da loucura e degradação mental que Junji Ito apresenta na história. O enredo se constrói lentamente. Uma situação aqui, outra ali. Até que enfim, chegamos a um ápice. E posso assegurar que o clímax dessa história de horror é por demais tenebroso, assombroso e inebriante.

“O velho entrou naquela bacia por conta própria! E tudo isso só para transformar seu corpo em uma espiral, até morrer com todos os ossos do corpo quebrado.”
Somos brindados com uma evolução da loucura que chega a beirar o absurdo de tão fantástica. A construção da degradação mental que acomete aos poucos os habitantes da cidade é impressionante, macabro, tenso e transmite ao leitor um sublime sentimento de inquietação frente ao testemunho da insanidade e decadência moral que desponta em Kurôsu.
No fim, não é apenas a “Maldição da Espiral” o perigo, mas sim, as próprias pessoas que conseguem através de atitudes terríveis e repugnantes conduzir a cidade para o mais profundo abismo em uma crescente desolação que não permite qualquer perspectiva de recuperação no futuro. Kurôsu apenas despenca ladeira abaixo sem qualquer chance de um dia poder se reerguer novamente.
Esqueça explicações plausíveis. É puramente horror!
Como é de se esperar de uma história de horror que tenha elementos sobrenaturais, existem muitas coisas que não são explicadas no enredo e isso está muito longe de ser um erro, afinal como é possível explicar o que não é conhecido?
Como já mencionei no início da resenha, toda a história é narrada por Kirie que além de ser apenas uma adolescente é também uma habitante comum da cidade, sem poderes mágicos ou inteligência absurda. Ela é uma jovem perfeitamente normal, como eu e você. Então, seria bastante estranho se do nada ela conseguisse uma explicação para os eventos ocorridos.
Portanto, se você leitor pensa que vai ler uma daquelas histórias fechadinhas que vai te dar todas as repostas de mão beijada, sinto muito, mas pode tirar o cavalinho da chuva. “Uzumaki” vai deixar uma vaga e amarga explicação, portanto, é você que vai decidir se ela te convence ou não.
“Uzumaki” é aquele tipo de obra que você vai ler e vai sentir vontade de ler novamente. É uma história que nasceu para agradar fãs de horror, um verdadeiro deleite para fãs de Lovecraft e gore, visto que, é através de traços simples que Junji Ito narra com perfeição de detalhes uma história sobre loucura, decadência moral e como a sociedade pode se transfigurar em um monstro mais terrível que os próprios monstros.
Sabiam que tem um órgão em espiral dentro de nossos ouvidos? Ele se chama cóclea… Eu sugiro que você tome cuidado… Afinal, uma espiral pode conter perigos tenebrosos…
Suas resenhas são muito boas, da vontade de ler o livro.
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Awn é muito bom ler isso!!!! *-*
Muito obrigada pelas palavras e te convido a conhecer mais do blog!
Temos resenhas todas as sextas e estou programando de trazer dicas de contos as segundas feiras a cada 15 dias *-*
Seja muito bem vinda!
Abraço!
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Fala, minha cara “Admirável LEITORA”! hehe
(você é “minina” mesmo, né?)
Muito boa resenha de Uzumaki. Tem um errinho ou outro de pt-br, mas sobre a resenha em si, nada a dizer.
Eu farei uma resenha própria desse mangá, mas vou recomendar a sua, com certeza. Gostaria de saber se na minha resenha, posso citar alguns trechos da sua como forma de complementar e exemplificar algumas coisas no post, é possível?
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Olá!
Sim, sou uma moça.
Fico feliz que tenha gostado da resenha. Hehe, erros acabam passando de vez em quando rsrs. Foi bom você alertar que tomarei mais cuidado quanto a isso em próximas resenhas.
Fico bastante feliz quanto a divulgação que pretende fazer de minha resenha, e sim, você pode usar trechos de minha resenha sem qualquer problema, peço apenas que dê os devidos créditos e se possível divulgue o blog para que as pessoas possam conhecer meu trabalho ^^
Quando escrever sua resenha me envie para que eu possa apreciar seu trabalho *-*
Agradeço sua visita e o comentário sincero.
Abraço ^^
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Ah sim, então o trocadilho com “Admirável LeitorA” ficou certinho…hehe
Não querida, não precisa ficar tão receosa quanto a isso. Foi apenas um apontamento construtivo de quem é revisor de legendas, colunista e também erra. Meu principal problema nos textos do Shinzo, acho, são com as vírgulas, mas hoje em dia vejo tanta gente não ter qualquer apreço a esse recurso de linguagem (seja numa mensagem via celular, num comentário em sites como os nossos ou num simples e-mail informal), que acho sem falsa modéstia que estamos muito acima da média, então não se preocupe tanto com isso.
Isso é mais culpa da minha alma revisora mesmo, me desculpe. =)
Claro, com certeza darei os créditos. Beleza então, certamente vou recomendar o blog e esta resenha quando eu fizer a minha lá. o/
Ja ne. =D
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Que isso, não precisa se desculpar quanto a isso. Críticas construtivas que me ajudem a crescer são sempre bem vindas. E saber que estamos acima da média me deixa feliz por demais kkkk
Mas e aí. Você já fez a sua resenha?? Ansiosa para ler as suas impressões e podermos trocar figurinhas sobre sua leitura!
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Olá, minha cara Admirável LeitorA, tudo bem? Feliz Ano Novo!
Ainda não fiz a minha resenha de Uzumaki. Estou tentando não furar fila com nada e estou numa maratona nestes primeiros dias do ano, com vários afazeres aliados ao trabalho. Ademais, tive um fim de ano um tanto quanto corrido e quando tive oportunidade para descansar, eu relaxei completamente por uns 3 ou 4 dias e não fiz nada sobre nada…rs
Então por enquanto não sei exatamente quando farei a resenha, mas você vai saber quando ela estiver no ar, fique tranquila. =)
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Eu amei Uzumaki! Infelizmente não foi a 1ª obra que li do Junji Ito (comecei por Hellstar Renina e fiquei um pouco decepcionada) na dei outra chance pro mestre e PIREI.
Adorei a resenha! Parabéns pelo texto.
😍
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Hahaha eu também não conheci o autor por Uzumaki. Li “Gyo” na adolescência e estou louca pra comprar a edição física rsrs. É um ótimo autor, obrigada pela visita ♥️
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