Aviso!
Essa resenha pode conter Spoilers.
Respostas, perguntas e segredos. O segundo volume de “Fallen” é recheado com indagações que inquietam o leitor até o seu inesperado desfecho.
Se por ventura você leu minha resenha do primeiro volume, deve ter percebido minha nítida decepção e frustração com o início dessa trágica história de amor, mas será que as minhas impressões negativas permanecem ou eu darei um voto de confiança para a leitura do terceiro volume?
Nome: Tormenta
Autor: Lauren Kate
Editora: Galera Record
Páginas: 391
Sinopse
Luce se encontra em uma nova e agradável escola, Shoreline. Daniel a levou para lá com o intuito de protege-la. Mas protege-la de quem ou do que exatamente? Ela não sabe e quer respostas e o fato de não obtê-las através daquele que ama a faz se questionar levemente sobre o “amor” que os une em uma maldição e a querer descobrir mais sobre as outras “Luces”.
“Tormenta” é o segundo volume da série de quatro livros principais e três spin-offs escritos por Lauren Kate e que tem início com o romance “Fallen”.
Nesse segundo livro, podemos destacar o quanto a escrita de Kate evoluí. Se em “Fallen” a autora nos entrega uma história muito bem escrita e detalhada, regada por uma melancolia mórbida que compõe o clima ideal de imersão na Sword & Cross, por sua vez, em “Tormenta” o efeito de imersão se repete, visto que ela desenvolve a criação da nova escola de Luce, Shoreline, de forma totalmente oposta à anterior, mas que é tão agradável e aprazível aos olhos que torna quase impossível não se sentir absorto com a beleza do lugar.
Esse é um dos grandes pontos fortes da escrita de Lauren Kate, pois a autora entrega de forma formidável sensações que possibilitam a imersão na obra.
As vezes coisas belas entram em nossa vida de repente. Nem sempre podemos compreendê-las, mas temos de confiar nelas. Eu sei que você quer questionar tudo, mas também compensa apenas ter um pouco de fé.
Se por um lado a decepção em “Fallen” foi causada pelo déficit em relação ao desenvolvimento e construção psicológica dos personagens envolvidos na trama, em “Tormenta” essa decepção não ocorre de forma abrupta, visto que a autora cria um núcleo composto por personagens secundários críveis que são dotados de personalidade e excentricidades.
O desenvolvimento psicológico de Luce e daqueles que a rodeiam é perceptível e agradável, podemos vislumbrar uma certa evolução da protagonista que passa de uma romântica incorrigível para uma garota questionadora que possui opiniões próprias que giram em torno de descobrir mais sobre si mesma e as “Luces” passadas.
Porque tem que ser assim Daniel?
Se tem uma coisa que é interessante na abordagem de “Tormenta” é o quanto a protagonista se revela mais “dona de si” quando o assunto remete a Daniel. Ela se torna o tipo de mocinha que ao menos tenta não se deixar influenciar, querendo respostas para poder montar seu quebra cabeça pessoal e entender o que ocorre consigo. É notável que em vários momentos do enredo Luce seja grosseira com Daniel pois este parece dificultar e ocultar informações que dizem respeito a ela própria.
Afinal será que Luce realmente ama Daniel ou isso é meramente fruto da maldição que acomete os dois?
Esse é um ponto a ser discutido principalmente com a adição de Miles, personagem secundário por quem Luce fatalmente acaba sentindo uma breve atração que não podemos afirmar ser apenas física, já que fica evidente que ambos tem muitas coisas em comum e que a moça se identifica com ele, no entanto, essa “paixonite” da protagonista acaba por fim, pesando na consciência da garota, que em seu íntimo acredita estar “traindo Daniel”.
É pertinente ressaltar que Lucinda “questiona” durante boa parte da trama o seu interesse amoroso chegando a duvidar de seus próprios sentimentos pelo anjo.
Um anjo dominador?
Um dos pontos mais pertinentes a serem destacados em “Tormenta” é o quanto o anjo Daniel se mostra dominador em relação a Luce.
É compreensível que dadas as circunstâncias atuais e o iminente perigo que ronda sua amada, ele queira protege-la, entretanto, é importante destacar que em certos momentos da história ele beira uma loucura obsessiva em relação a moça, chegando a impor o que ela deve ou não fazer. Um comportamento tóxico que podemos facilmente perceber ao notar uma leve irritação e decepção com Lucinda apenas por uma simples mudança de visual.
E aquela ordem, aquele insulto machista para ficar dentro do terreno da escola? Onde estávamos, no século XIX? Passou por sua cabeça que talvez Daniel tivesse falado com ela dessa maneira, há séculos, mas – como Jane Eyre ou Elizabeth Bennet – ela tinha certeza de que nenhuma das Luces anteriores teria aceitado aquilo bem. E certamente ela não aceitaria agora.
Todo esse comportamento excessivo do anjo, acaba culminando, portanto, na escolha de Luce ao final do livro, que cansada de ser tratada como uma “marionete” opta por descobrir respostas sozinha ou mesmo com a ajuda de seus novos amigos. É esse comportamento da protagonista que torna a trama fascinante de acompanhar e instiga o leitor a querer saber os eventos que irão ocorrer na sequência.
Os anunciadores são importantes!
Creio que se você esteja lendo essa resenha, já leu o livro, portanto não irei medir palavras para omitir SPOILERS.
Em “Tormenta”, Luce aprende a como lidar e controlar os “Anunciadores”, as sombras que a perseguem desde quando ela era uma criança. Essas sombras são reveladas como uma espécie de fofoqueiros que carregam dentro de si mensagens ou momentos do passado.
É através de um desenvolvimento mais detalhado dos anunciadores que conseguimos compreender tanto a trama principal que envolve o casal, quanto a própria Lucinda se vê percebendo o quanto a história de amor com Daniel e a maldição entre eles não possui uma beleza romântica, mas sim, envolve muita dor e sofrimento alheio.
Ao aprender a controlar os anunciadores, Luce consegue vislumbrar algumas de suas vidas e mortes passadas, descobrindo informações sobre parentes passados. Outras famílias. Famílias de outras “Luces” que devido a maldição que perpétua no amor incondicional dela e Daniel, infelizmente sofreram uma trágica morte por combustão espontânea.
O peso da perda e sua irrelevância
Esse é um dos pontos que mais me instigou como leitora a querer continuar imersa no mundo criado por Lauren Kate. A reflexão de Lucinda em relação a quanto o amor proibido entre ela e Daniel é sumamente doloroso para outras pessoas.
Ao observar alguns passados, Luce contempla como sua própria morte afeta as famílias das outras “Luces”. Essa questão pesa tanto em sua consciência que a leva a um conflito moral consigo mesma em relação ao quanto o relacionamento entre eles é cruel não apenas para eles próprio, mas também para aqueles que um dia fizeram parte da vida de uma outra Lucinda e a amaram assim como os pais dela a amam nessa vida.
Se a filha deles morrera aos 17 anos, o casal deveria estar de luto por ela há cerca de 50 anos. Estariam em paz com isso agora. Certo?
Se pararmos para observar a trágica história de Luce e Daniel através da perspectiva dos parentes das “Luces” anteriores, teremos uma certeza incondicional de que o amor proibido deles não possui absolutamente nada de belo.
Ao se colocar, portanto, no lugar desses “outros parentes”, a própria protagonista compreende e questiona se ficar com Daniel é certo. Esse questionamento consequentemente a leva a almejar entender o porquê da maldição e também, porque não, a tentar quebrá-la de alguma forma.
E é exatamente fundamentado nesse embate dentro da mente da personagem que o leitor é presenteado com um final delicioso em que Luce faz uma escolha, e ela escolhe exatamente o que é melhor para si naquele momento. Talvez não seja a decisão mais prudente a ser tomada, mas certamente é o melhor para si.
Sem correria dessa vez
Se em “Fallen” a autora prejudicou a narrativa da história ao entregar ao leitor um final mal desenvolvido e apressado, exibindo de forma abrupta personagens que sequer nos lembrávamos que existiam. Felizmente, o mesmo erro não ocorre em “Tormenta”, visto que a autora prepara com maestria o caminho para o desfecho, oferecendo um final coerente, que oferece ao leitor com deleitosas cenas de ação, além de revelar um plot inesperado, todavia, relevante e coerente com a trama.
Infelizmente, como nem tudo são flores. Destaco que o retorno de alguns personagens do primeiro livro é um tanto decepcionante, visto que, continuam sem um desenvolvimento adequado e atuam na história como meros figurantes, servindo apenas para uma “composição de cenário”.
Apesar do ponto negativo, em “Tormenta” não ficamos com dúvidas e possuímos plena clareza de “quem é o que” e não somos pegos com eventuais surpresas desagradáveis, uma vez que até mesmo o antagonista é inserido no enredo desde o início e as pistas sobre ele estão na nossa cara o tempo inteiro, tornando a explicação condizente e perfeitamente compreensível.
“Tormenta” é um bom livro de continuação. Consegue intrigar e instigar o leitor, fazendo-o querer continuar a leitura. O final é um gracioso deleite para os curiosos de plantão, pois apresenta uma expectativa acerca de teorias que podem vir a surgir nos próximos volumes. Uma sequência que obtém a vantagem de deixar aquele gostinho de quero mais e transmitir ao leitor aquele desejo de ler o terceiro volume.
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Admirável Leitura 
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