Livro cedido em parceria com a Agência Literária: Oasis Cultural.
Uma deleitosa viagem a um excêntrico país que com toda a sua autenticidade consegue provocar profundas mudanças interiores em uma personagem que começa a história com um propósito em sua mente, mas que termina totalmente reconstruída principalmente no que tange a aceitar a si mesma.

uma vida própria, não apenas um capítulo, mas uma obra.”
Nome: Prana
Autor: Jaqueline Farid
Editora: Páginas Editora
Páginas: 176
Sinopse: Após receber uma carta da Índia enviada por seu pai que se despedia em um possível lamento de morte, Prana, a filha bastarda do homem que ela chamava carinhosamente de “Qualquer coisa” resolve viajar para o país desconhecido com o intuito de descobrir o porquê do pai que sempre a rejeitou ter optado por morrer e ser sepultado em outro país. Será que ele estava realmente morto? Será que tinha outra família?
“Prana” é aquele tipo de livro que entrega ao leitor uma jornada incrível, reforçando aquele “velho jargão” de que muitas vezes o caminho que percorremos para chegar ao topo de uma montanha é mais proveitoso e belo do que propriamente a chegada ao destino. É através de uma escrita primorosa, dotada de uma prosa poética que Jaqueline Farid externa com suavidade e graciosidade passagens belíssimas que encantam o leitor ao mesmo tempo que o transporta para a excêntrica Índia.
A história, ambientada no país situado no sul da Ásia, é um primor de graciosidade, escrito para agradar aos que prezam por uma narrativa mais detalhista. As descrições minuciosas do país são feitas de forma tão vívidas e sentimentais que orienta o leitor a se imaginar perdido em meio as tumultuadas ruas de Delhi, absorto frente aos cortejos fúnebres que ocorrem no Rio Ganges ou mesmo admirado frente a beleza e imponência de monumentos históricos como o Taj Mahal.
“Jamais se esqueceria dos cabelos que vira sob o fogo, o corpo parecia de um homem jovem ou uma mulher franzina, a fumaça era como meio de transporte para o eterno, a morte ardia à sua frente e todos ao redor pareciam indiferentes, exceto um homem que chorava com sentimento, um velho que parecia iniciante naquele rito.”
A narrativa é fluida composta por um enredo simples, mas que consegue instigar, afinal tudo é revelado aos poucos durante a trama, sendo tecido e costurado com serenidade e delicadeza. Dessa forma, o leitor se vê absorto e envolvido com o enredo e com a personagem, e mesmo que a conexão com a protagonista não seja tão grande, o envolvimento com a história principal é espontâneo. É natural se pegar ansioso em entender o que aconteceu com o pai da moça.
Uma narrativa de notável excentricidade
Apesar da história possuir um plot simples, a autora optou por adicionar algumas pitadas de excentricidade a sua obra; como por exemplo o tempo da narrativa que não é linear, ocorrendo em dois momentos distintos. Um durante a busca de Prana por informações sobre o pai e outro da personagem refletindo e fazendo breves conexões e questionamentos pertinentes sobre si mesma e a viagem.
Um outro ponto que adiciona uma singularidade aprazível ao livro, é a quase total ausência de diálogos. Acompanhamos toda a trajetória da moça, através de um narrador onipresente que discorre a história em capítulos semelhantes a monólogos que apresentam ao leitor uma complexa composição sentimental da protagonista.
Essa ausência de diálogos, pode ser incômoda para alguns. Afinal, sugere aquela sensação de lentidão na narrativa, no entanto, ressalvo que “Prana” é uma história que denota profundidade e não busca focar no que podemos definir como “ação”. Aqui vamos acompanhar a busca por respostas de um determinado personagem, no caso Prana. Não significa que o enredo não possua seus momentos de êxtase, porém, estes são poucos, visto que a obra foca muito mais em apresentar os perigos mentais que perpetuam na mente da moça.
É por meio de capítulos curtos com títulos triviais, mas que possuem um grande significado para a personagem, que conseguimos acompanhar a evolução e crescimento dela. Principalmente no que diz respeito ao seu amadurecimento espiritual que inevitavelmente culmina em sua aceitação pessoal e também na conformidade com a morte daquele homem que nem mesmo ela sabia que amava tanto.
Luto. Negação.
É irrefutável que o luto está presente praticamente o tempo inteiro na história. Prana a todo momento se vê imersa nos sentimentos que sustentam os estágios do luto. Vemos a personagem imergir na raiva, depressão, solidão. Entretanto, o sentimento que mais a acomete durante toda a narrativa é a “negação”. Negação de que seu pai tenha realmente falecido e que ela nunca mais poderá vê-lo, abraça-lo ou encontra-lo.
“O mausoléu é de fato inapreensível. Ao glorificar a morte, mesmo que involuntariamente, parece ter sido enfeitiçado pela fada da eternidade, que abrange passado, presente e futuro e desfaz as fronteiras entre eles, tornando-os inúteis.”
Prana possui um forte sentimento de negação cativo dentro de si. Seja pelo fato dela saber que o pai nunca a tenha “aceitado” como filha, já que ela era fruto de um relacionamento fora do casamento, ou mesmo por ela própria nunca ter se aceitado. Ela vive em negação constante contra si mesma e isso se reflete na negação que a própria sente ao receber a notícia do falecimento do pai.
A viagem da moça para a Índia é muito mais do que uma jornada para descobrir as motivações que levaram o pai a optar por morrer tão longe de sua terra natal. Na viagem ao desconhecido, ela se auto descobre. Se aceita. E é através dessa aceitação consigo mesma que fatalmente culmina na aceitação da morte do pai e ela finalmente se liberta para ser quem realmente é. Inicialmente, Prana é uma mulher confusa, mas que se descobre forte ao longo da história e dessa forma renasce belamente. Sua mudança é nítida e repleta de formosura.
Choque entre culturas
Esse é um dos pontos mais pertinentes e perceptíveis durante a narrativa, o choque entre culturas e religiões. O contato inicial de Prana com o “diferente” a princípio é descrito de forma confusa, inusitada, no entanto, no decorrer do enredo, nos deparamos com uma cultura exótica dotada de virtudes atraentes e assim como a própria protagonista, nos sentimos atraídos e absortos no antro de autenticidade existente no país.
“Compreendera, espantada, que os mesmos indianos que reverenciam todos os tipos de representações religiosas, em templos que parecem surgir do chão como ervas daninhas, se consideram monoteístas, já que todos os seus deuses são a variação do Deus Supremo.”
Apesar de intrigante aos nossos olhos, temos que admitir que toda a aura misteriosa da Índia é fascinante. Mérito da autora que descreve de forma detalhada o suficiente para que o leitor vislumbre tanto a beleza e riqueza indiana, quanto a miséria e carência que assola o país. Se em um momento, somos brindados com a estonteante combinação de cores e estampas dos “Saris” usados pelas indianas, em poucos segundos somos horrorizados ao lermos como um homem bebe com gosto água do chão.
Esse “choque cultural” é mencionado em vários momentos durante a narrativa, sobretudo quando Prana faz breves analogias entre as religiões da Índia e do Brasil, chegando a conclusão de que ambas possuem uma certa semelhança apesar de serem nitidamente diferentes.
Quando o caminho é mais interessante que o final
Acredito que vocês já tenham ouvido falar que muitas das vezes o caminho que é percorrido para se chegar a um determinado ponto é bem mais extasiante do que a chegada. Talvez, esse conceito se aplique em Prana, não no livro, mas na personagem.
Veja bem, a moça percorre um país, conhece lugares, pessoas, tem contato com uma cultura exótica, vive intensamente experiências que jamais teria em sua vida corriqueira. Vivências estas, que despertam em si uma força interior que ela não imaginava possuir. Uma força que eleva seu espirito a um patamar até então desconhecido. Entretanto, Prana só adquiriu toda essa sabedoria devido sua incessante busca por explicações para a súbita morte de seu pai. Quando ela finalmente obtém então suas respostas, assim como ela percebemos que os motivos foram comuns, triviais, nada fora do normal. Apenas motivos.
“A índia tinha unificado sua existência e ela se sentiu honrada por ser única, pela primeira vez desde que nascera.”
O desfecho do livro é em sua essência o desfecho do último capítulo do primeiro livro de uma mulher que certamente seguirá em uma continuação. Pode ser que para nós leitores o final seja decepcionante, mas eu lhes digo que não é. Afinal, a jornada foi bastante enriquecedora para a personagem e para nós . Basta parar e pensar o quanto Prana aprendeu e cresceu durante sua jornada. É possível que o termino não pareça um termino. Mas é esse o intuito do livro, afinal a vida continua, e tanto Prana quanto “Qualquer Coisa” permanecerão tão misteriosos ao final do livro, quanto quando começamos a leitura.
“Prana” é uma obra culturalmente enriquecedora. Conhecer outra cultura através das páginas de um livro é uma experiência inigualável, um deleite para nosso apurado paladar de leitor. É uma viagem que cumpre positivamente bem o que se propõe e através de uma prosa poética engrandece personagem e leitor ao expor delicadamente uma cultura visivelmente exótica revestida por um airoso véu repleto de mistérios.
Querida Aryana, eu acredito, sim, que o caminho é tão ou mais importante que a chegada. Se chegássemos logo aos nossos objetivos, a vida seria sem graça. Muito obrigada pela leitura e resenha. Eu adoro esse livro! Abração
Valéria Martins – Oasys Cultural
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Sim. Eu gostei muito dessa mensagem que o livro passa. A jornada de Prana é belíssima e enriquecedora demais. Eu realmente me senti na Índia a cada página que lia.
Fico imensamente feliz que tenha gostado Valéria!
Abraços.
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Gostei muito de ler o blog, gostaria muito de convidar a seguir o meu blog também 🌹🤗obrigado e desejo lhe muito sucesso 😊🌷💐🌹
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Ótima indicação!
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Obrigada ^^
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Sua página é realmente Admirável Leitura
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*-* Muito obrigada pelo elogio! *-*
Esteja sempre muito bem vindo para apreciar nosso conteúdo! *-*
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Pense em uma pessoa que escreve bem!
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A Jaqueline é uma ótima escritora! Vale muito a pena conhecer esse livro, uma grande viagem!
Obrigada pela visita! *-*
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