AVISO: A RESENHA ABAIXO PODE CONTER SPOILERS!
Assim como as últimas três resenhas que trouxe aqui no blog, este também foi meu primeiro contato com a escrita de Colleen Hoover. Mas, além de ter sido meu primeiro contato com a obra, este também foi o primeiro livro lido em 2020 que me fez chorar. E posso afirmar que minhas primeiras impressões sobre a autora são as melhores possíveis.

Nome: É assim que acaba
Autor: Colleen Hoover
Editora: Galera
Páginas: 358
Nota: 4,5
Sinopse: Lily Bloom é uma moça jovem que após o enterro do pai resolve refletir sobre sua vida na cobertura de um prédio desconhecido. Durante seu momento a sós consigo mesma e relembrando sua infância ao lado do pai abusivo, seus pensamentos e devaneios logo são interrompidos por um homem alterado que aparece e desconta suas frustrações chutando uma cadeira. Seu nome é Ryle Kincaid e a partir daquele encontro uma atração entre os dois cresce e a vida de Lily nunca mais será a mesma.
“É assim que acaba” é um livro destruidor, desolador e que carrega uma carga pesada de sentimentalismo que tem o potencial para deixar qualquer leitor pensativo por horas após o termino da leitura. Apesar de ser uma leitura fácil, já que a escrita de Hoover é extremamente fluída e “direto ao ponto”, a história narrada não é fácil de digerir e causa um grande incômodo e desconforto em vários momentos, sobretudo por abordar temas tão delicados e fortes como relacionamento abusivo e violência doméstica.
“Quinze segundos. Só isso já basta para mudar completamente tudo sobre uma pessoa.”
Essa narrativa fluída de “É assim que acaba” se deve ao fato de que Hoover sabe transmitir com veracidade e sensibilidade os sentimentos dos personagens que compõem a trama. E muito dessa sensibilidade tem relação com a forma com que a autora optou por conduzir a trama, já que o livro é totalmente narrado no tempo presente pela personagem principal, Lily. Dessa forma, Hoover consegue criar uma conexão entre leitor e personagem que se intensifica durante as 358 páginas que compõem a obra, o que faz com que o leitor entenda o que passa na mente da personagem e questione muitos aspectos pertinentes antes de simplesmente julgá-la por alguma atitude.
Relacionamento abusivo, violência doméstica
A obra tem como tema central o relacionamento abusivo e por consequência a violência doméstica. A abordagem do tema é bastante sutil, apesar de pesada. As cenas descritas não são explicitas, mas são chocantes, entretanto, não é o “chocante” que faça o leitor abandonar a leitura, mas sim, o “chocante” que faz o leitor pausar a leitura, respirar fundo e questionar os acontecimentos abordados. Como a obra é narrada pela protagonista, o que nós temos é sua visão do fato e assim como ela, nós leitores vamos nos pegar aflitos e horrorizados em diversos momentos. Como eu mencionei no início da resenha, a conexão entre leitor e personagem se faz presente e nesses momentos conseguimos sentir dentro de nós mesmos a decepção, o desespero, o medo e principalmente a dor que Lily sente.
“Quando estamos de fora, é fácil acreditar que conseguiríamos ir embora num piscar de olhos se alguém nos tratasse mal. É fácil dizer que não continuaríamos amando quem nos trata mal se não somos nós que amamos a tal pessoa.”
No enredo, a autora nos mostra os dois lados da moeda. Como a agressão física e psicológica afeta de modo negativo uma família, prejudicando pessoas próximas e como essa mesma agressão afeta a vítima. Ao mostrar esses dois lados da moeda, Hoover nos leva a compreender como as pessoas que estão do lado de fora do relacionamento enxergam as coisas e como a pessoa envolvida no relacionamento enxerga a coisa. Dessa forma, é possível compreender a personagem, e fatalmente se colocar em seu lugar e se sentir tão triste, devastada e impotente quanto ela.
Realmente somos quem acreditamos?
Lily é uma daquelas personagens fortes, destemidas, ousadas e que sabem exatamente o que quer, no entanto, é justamente esse seu temperamento de moça forte que a faz ter tantos defeitos e erros quanto qualquer ser humano. Se por um lado Lily é um exemplo de mulher, por outro ela é uma personagem reclusa, machucada, ferida e confusa sobre seus sentimentos e principalmente mortalmente afetada pela sua conturbada e violenta infância.
Ao crescer em um lar violento em que presenciava constantemente as agressões que sua mãe sofria de seu pai, Lily cresceu com uma certeza absoluta de que jamais seria como a mãe e que nunca passaria pelo que ela passava naquele relacionamento terrivelmente tóxico e abusivo. Durante vários capítulos esse posicionamento da personagem é muito bem definido, e fica claro para nós leitores que estamos diante de uma mulher que jamais aceitaria tal condição de submissão. Mas, é um erro terrível dizermos como vamos agir diante de alguma situação se nunca passamos por ela e Lily descobriu isso na própria pele.
“Quando se sente isso na pele, não é tão fácil odiar a pessoa que te trata mal, porque na maior parte do tempo ela é uma benção divina.”
Quando a situação toma um rumo totalmente inesperado, estamos tão familiarizados e empáticos pela personagem que assim como ela nos sentimos impotentes, sem reação. É fácil julgar os outros quando não estamos na pele deles, e a construção da personagem criada por Hoover é perfeita para nos colocar na pele de Lily e nos fazer questionar realmente o nosso interior. É difícil julgar a personagem e suas atitudes. É compreensível entende-la e é doloroso assim como ela estarmos de mãos atadas. Lily é humana e comete erros, assim como eu e você. Ela é humana e infelizmente se apaixonou perdidamente pelo cara errado.
A construção do vilão perfeito
Existe um vilão em “É assim que acaba”. E eu afirmo que ele é um vilão perfeito. E assim como em um primeiro sorriso ele consegue cativar Lily e roubar o coração da moça, ele faz o mesmo com nós leitores. É praticamente impossível não se apaixonar por ele em um primeiro momento. E é essa perfeição do personagem que faz com que entremos em estado de choque quando as coisas ruins começam a acontecer. O primeiro impacto é tão desolador para Lily quanto é para nós e ao lermos seu discurso de “pedidos de desculpas”, o mesmo que vemos em muitos casos reais, nos sentimos tão confusos e encarcerados quanto Lily. Afinal o que faríamos se estivéssemos tão apaixonados quanto ela? A paixão é cega leitores.
“Ninguém é exclusivamente ruim ou exclusivamente bom. Algumas pessoas só precisam se esforçar mais para suprimir o lado ruim.”
Se eu fosse definir esse livro em uma única palavra, usaria a palavra “questionamento”. “É assim que acaba” nos faz refletir e repensar sobre nós mesmos e sobre as pessoas ao nosso redor. A trama pesada e densa abre nossa mente para que vejamos casos parecidos de uma forma diferente, sem julgar a vítima que não sai do relacionamento. É um livro que nos coloca dentro da mente de uma mulher vítima de abuso doméstico, nos fazer entender porque muitas mulheres permanecem em relacionamentos tóxicos. É um livro que faz com nós leitores possamos aprender a sentir empatia pelo próximo.
AVISO: A história pode ser um gatilho para pessoas que já passaram por relacionamentos abusivos ou foram vítimas de violência doméstica.
Gente, amei a resenha! Realmente, é o tipo de livro que precisa ler com a cabeça fria e o emocional preparado, mas parece ser um livro incrível! Sempre vejo coisas positivas sobre ele.
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Que bom que você gostou da resenha! *-*
Leia sim, é o tipo de livro que consegue fazer a gente mudar muito nossos próprios conceitos.
Vale muito a pena a leitura.
Quando ler, me conta aqui o que achou *-*
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Pode deixar!
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Li esse livro por indicação e ele está na lista de livros que com certeza me fizeram questionar as coisas aqui dentro.
Fiquei dias processando o final da leitura, recomendo demais. Um exercício incrível de empatia, de entender que a gente repete ciclos se não estiver atenta à eles 😥
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Seu comentário é perfeito demais!
É realmente muito necessário que a gente se atente a isso, repetir ciclos familiares que não são saudáveis é algo extremamente ruim e que prejudica demais nossa saúde mental.
Também super recomendo esse livro, tanto por ele causar empatia, quanto pela forma responsável com que a autora aborda o tema.
Obrigada pela visita.
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Uma resenha lúcida, mais esclarecedora do que usualmente se vê nos casos de Colleen Hoover, alvo fácil de críticas pela abordagem de assuntos espinhosos em matéria de relacionamento. Excelente.
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Muito obrigada pelos elogios e pela visita. Fico feliz em ler o seu comentário.
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Sempre quis ler Hoover e não fazia ideia por qual começar. Começarei por esse. Para dizer com Manoel de Barros, em “As lições de R.Q.”:
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Fico feliz que tenha gostado da resenha, esse é um livro que recomendo, já li outros da autora que não gostei tanto assim, mas esse é sensacional. Podes ler sem medo.
A propósito, adorei o texto.
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